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MOTOR
Aleluia!
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Neil Horan é uma figuraça.
Irlandês, 56 anos, padre excomungado pelo Vaticano por
sua interpretação pouco convencional da Bíblia, crê que o fim do
mundo está próximo. "As Torres
Gêmeas caíram em 20 minutos. O
planeta não vai levar muito mais
do que isso para sucumbir", costuma dizer em suas pregações.
Habitué de clubes e festinhas alternativas de Londres, atua em
oficinas multiculturais e tem dois
livros publicados, "Glorioso Mundo Novo" e "Cristo Logo Vai Sufocar Todos os Governos", que podem ser comprados pela internet.
Father Horan acha que a dança
e a música terão papéis fundamentais na elevação dos espíritos
no Juízo Final. Por isso, dança e
canta o tempo todo. No começo
do ano, contrário à intervenção
militar no Iraque, tentou se apresentar para Saddam Hussein.
Não conseguiu autorização do
governo para viajar a Bagdá.
Mas em Silverstone não havia
ninguém no alambrado para desautorizá-lo. Então, dançando e
cantando, Horan invadiu a pista
e entrou para a história da F-1.
A intenção, conta, era alertar o
mundo para o valor dos livros sagrados. "Leia a Bíblia, ela está
sempre certa", dizia seu cartaz.
O ex-padre foi derrubado por
um comissário, detido em Northampton e, depois, liberado. Mas
o estrago já estava feito. Estrago?
Não. Não mesmo. Horan, sem
querer, transformou o GP inglês
na corrida mais vibrante do ano.
Fez o papel do imponderável,
aquilo que Max Mosley tanto persegue, que tentou impor por decreto no regulamento da F-1.
A colorida invasão de pista forçou a entrada do safety car justamente num estágio da corrida em
que as equipes começavam a pensar na primeira rodada de pits.
Resultado: todo mundo para os
boxes e uma corrida ainda mais
embaralhada do que o grid, com
belas disputas, ultrapassagens no
limite, carros emparelhados dividindo a pista curva após curva.
A cena do congestionamento
nos boxes lembrou a Indy, a IRL e
a Nascar, campeonatos que abusam das bandeiras amarelas e
que, propositalmente ou não, vivem embaralhando os pelotões.
E se o padre dançarino tivesse
ficado quietinho no seu canto?
Barrichello ultrapassaria Trulli,
dispararia, e a corrida ficaria monótona. Foi o que aconteceu
quando o ferrarista, enfim, assumiu a ponta para as últimas 19
voltas. Tanto que a TV se esqueceu de Barrichello lá na frente.
O campeonato está ótimo. Faltando cinco etapas para o fim, sete pilotos (até o Coulthard!) têm
chances de levantar o título. Mas
a invasão da pista jogou uma pulga atrás da orelha da F-1: mostrou que daria para ser melhor.
Coincidentemente, Silverstone
deveria ter marcado o fim da eletrônica. Ferrari, Wiliams e McLaren vetaram. Caso tivessem topado, o mundo não precisaria ter
visto a dança de Horan. O imponderável já estaria em cada carro.
É fácil entender as razões das
grandes. Afinal, nem sempre terão um piloto inspirado, disposto
a arriscar tudo, como nem sempre
haverá um doido na pista. Sem
sobressaltos, o lucro é certo.
Excepcionalmente hoje José Henrique
Mariante não escreve neste espaço
Pecado
A imprensa inglesa especula que a intenção de Horan foi bem menos
nobre do que ele afirma. A tese é maluca, mas só a coincidência já vale o registro: sua editora, a Deunantbooks, acaba de lançar um romance com a história de um garoto que pula muros de autódromos
para assistir a corridas. Segundo os tablóides, a invasão em Silverstone não passou de uma estratégia da empresa para divulgar o livro.
Redenção
Barrichello está em alta com os tifosi. O site do "La Gazzetta dello
Sport" fez uma pesquisa com 5.000 internautas e, desses, 51,4% defenderam a renovação do contrato do brasileiro até 2006. Outros
25,8% disseram que Barrichello deve ser primeiro piloto de outra
equipe grande. Só 22,8% pediram um novo colega para Schumacher.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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