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FUTEBOL
República de Bananas F.C.
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
É impressionante a debandada de jogadores brasileiros
para o exterior. A inaptidão gerencial que domina boa parte dos
clubes e das federações deixou o
futebol do país de joelhos, em posição subalterna na divisão internacional do esporte, vulnerável a
toda investida estrangeira.
O longo histórico de campeonatos inflados e calendários mal organizados, de regras instáveis e
sempre desrespeitadas, de irresponsabilidade financeira, corrupção e incapacidade de pensar a
atividade de forma planejada
consolidou uma clássica situação
de subdesenvolvimento: incapaz
de melhor utilizá-las em benefício
próprio, o país apenas vende suas
riquezas naturais.
Esse "modelo", burro e perverso,
tende ao longo do tempo a destruir a si próprio: na República de
Bananas do futebol, as frutas estão sendo exportadas a cada ano
mais verdes. Isso reduz as chances
de o torcedor brasileiro conviver
com grandes jogadores. Ou temos
algumas jovens promessas atuando por aqui ou craques veteranos.
No meio, um punhado de jogadores medianos, alguns melhores,
outros piores -mesmo esses permanentemente à venda.
O resultado é um círculo vicioso. Com menos qualidade em
campo, o interese cai. Com o interesse caindo, os clubes perdem receita. Perdendo receita, a necessidade de vender talentos é maior.
Outra consequência nefasta
desse sistema bola murcha é o
afrouxamento da relação torcedor-ídolo-clube. Quando a identificação começa a se consolidar o
jogador é vendido e logo esquecido. Na melhor hipótese, passa a
ser acompanhado à distância ou
apenas visto na seleção, muitas
vezes cercado desconfianças. O
torcedor, sem conseguir elaborar
com mais sofisticação o problema, canaliza sua frustração para
o craque que atua no exterior.
O mecanismo mental parece ser
o seguinte: se ele nos abandonou,
ficou rico e foi morar na Europa,
sua obrigação é dar show na seleção. Só assim poderá se redimir.
O pior argumento, o mais miserável, o mais derrotado, para justificar esse estado de coisas é
aquele que considera que não há
nada a fazer, uma vez que o êxodo de jogadores seria fruto única
e exclusivamente da superioridade econômica européia.
É claro que a Europa é mais rica
e sempre terá a oportunidade de
levar grandes craques do Brasil e
de outros países. A questão, no
entanto, não é essa.
O que esse fatalismo subdesenvolvido esconde é que o Brasil tem
enormes vantagens comparativas
nesse mercado e poderia estar
muito mais bem posicionado do
que está.
Além disso, o argumento é falacioso, uma vez que os clubes não
vendem apenas craques e não o
fazem só para países mais ricos.
Muitos jogadores vão para clubes
remotos ou para lugares como
Turquia e Rússia, que não são
mais ricos e têm uma tradição futebolística infinitamente inferior.
O mais aflitivo é constatar a espantosa resistência à mudança
desse sistema e o conformismo de
muitos que poderiam contribuir
para mudá-lo.
Até que enfim
Depois de sucessivos vacilos, o
Santos finalmente soube aproveitar-se da derrota do Cruzeiro para assumir a liderança do
Brasileiro. Detonou o Flamengo no primeiro tempo e soube
manter a vantagem até o fim. A
disputa pelas primeiras posições do Nacional continua acirrada. Cinco clubes estão na
ponta dentro de um intervalo
de apenas sete pontos. Na luta
contra o rebaixamento, a situação é semelhante. O nível técnico do campeonato foi abalado
pelo êxodo de jogadores, mas
ainda assim houve bom futebol
na rodada, caso, por exemplo,
da partida entre São Paulo e
Vasco, no Rio. Mas o fenômeno
do segundo turno continua
sendo o Goiás, que está numa
escalada impressionante, com
o atacante Dimba firme na artilharia.
E-mail mag@folhasp.com.br
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