Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Offshore", parceira do Corinthians quer Robinho
Em entrevista à Folha, empresário iraniano diz ter constituído a MSI nas Ilhas Virgens Britânicas apenas para se associar ao clube paulista, de quem já se considera parceiro
EDUARDO ARRUDA
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
A futura parceira do Corinthians existe como empresa e tem
sede nas Ilhas Virgens Britânicas,
um paraíso fiscal. Quer Robinho
como reforço. E, antes mesmo do
aval final do Conselho Deliberativo, já tirou o casamento do papel.
As informações são de Kia Joorabchian, 33. Em visita à Folha, o
executivo que comanda a Media
Sports Investments (MSI) falou
sobre reforços, disse que seria
"um idiota" se usasse o Corinthians para lavar dinheiro e prometeu dar lucro ao clube sem negociar os principais jogadores.
Folha - Quando a parceria com o
Corinthians vai começar?
Kia Joorabchian - Para mim, já
começou. Formamos um grupo e
já estamos trabalhando. Hoje [ontem] mesmo vou conversar com
o Tite. Uma auditoria no clube vai
começar a ser feita amanhã [hoje]
para verificar se todos os dados
apresentados por eles estão corretos. O importante é que o projeto
foi aprovado quase que por unanimidade no conselho [340 votos
contra 7]. O presidente Alberto
Dualib mostrou que tem o comando do Corinthians e que o
clube está unido.
Folha - A empresa MSI já existe?
Joorabchian - Nunca enganei o
presidente Dualib nem o conselho do Corinthians. Desde o início, afirmei que a MSI estava sendo formada só para essa negociação. Temos um grupo muito
grande, que atua em diferentes
áreas, como petrolífera, mídia e
entretenimento. Não tínhamos
nenhuma ligada ao futebol. Então, criamos a MSI, uma "offshore" [empresa que normalmente
tem o objetivo de colocar dinheiro
e corporações a salvo do controle
dos Estados nacionais], nas Ilhas
Virgens Britânicas.
Folha - Por que constituir a empresa num paraíso fiscal?
Joorabchian - É uma questão de
pagar menos impostos. Não há
nada de ilegal nisso. Todas as empresas com investidores de diferentes partes do mundo fazem isso. Não conheço uma que não faça isso, nem o HMTF [ex-parceiro
corintiano]. Mas o imposto no
Brasil será pago normalmente.
Folha - O maior temor dos conselheiros é que o clube seja usado para lavagem de dinheiro...
Joorabchian - Seria um absurdo
fazer isso. Seria um idiota se eu
fosse lavar dinheiro no maior clube da América do Sul. Utilizaria
uma empresa pequena e em outro
setor. Todos vão estar olhando os
nossos negócios aqui. Além disso,
todos os investimentos serão referendados pelo Banco Central.
Folha - Conselheiros dizem que
vão investigá-lo até pela Interpol...
Joorabchian - Não me incomoda, eles estão no papel deles.
Folha - Qual é a sua relação com
Boris Berezovski (magnata russo
refugiado na Inglaterra)?
Joorabchian - Fizemos negócios
seis, sete anos atrás e nos tornamos grandes amigos. Conversei
com ele a respeito do Corinthians,
mas no momento ele não tem interesse no negócio. Ele tem problemas na Rússia por questões
políticas. Na Inglaterra, ele não
tem problema nenhum. Hoje, não
temos nenhum negócio juntos.
Folha - Quanto a MSI vai investir?
Joorabchian - Inicialmente, US$
35 milhões. Sabemos que o Corinthians tem dívidas, e parte desse
dinheiro vai ser usado para isso.
Depois, vai depender de como estará a situação financeira do clube
e de quão forte estará o time. Não
há nenhum valor estipulado de
investimentos em contratações.
Vamos decidindo ao longo do
tempo. Temos algumas metas. A
primeira é transformar o Corinthians no número um da América
do Sul. Para o social, são US$ 200
mil/mês no primeiro ano.
Folha - Quem ficará com o lucro?
Joorabchian - Será da seguinte
forma: 51% para o nosso grupo e
49% para o clube. Se houver prejuízo, ele é todo nosso.
Folha - O Renato Duprat e a Carla
Dualib receberão comissão?
Joorabchian - Ele é nosso diretor.
A Carla, o Corinthians decide.
Folha - Qual o motivo de o Corinthians ter sido escolhido?
Joorabchian - O futebol brasileiro tem um grande potencial de
crescimento, o país também. E o
Corinthians é o time mais importante. A sua torcida é fantástica e
apaixonada. Vi muitos jogos na
Inglaterra e digo que 35 mil torcedores do Arsenal não fazem o barulho de dez mil corintianos.
Folha - Como vocês pretendem
ganhar dinheiro no Brasil?
Joorabchian - Sei que as oportunidades no futebol diminuíram,
no Brasil e na Europa, mas o jogador brasileiro é fantástico. É impressionante a quantidade de
atletas exportados pelo país.
Folha - A única solução é vender
atletas para o exterior?
Joorabchian - É uma saída, mas
não a única. Não precisamos vender todos, senão a equipe entra
em colapso. Tem que haver um
equilíbrio. Vende alguns e os repõe. Os que ficam têm de ser explorados comercialmente.
Folha - Fale sobre as contratações
que pretende fazer.
Joorabchian - Virão três ou quatro jogadores fortes. Mas posso
dizer que o Zidane está velho, senão viria (risos).
Folha - Diga ao menos um nome.
Joorabchian - Gosto do Robinho, acho incrível o que ele é capaz de fazer com a bola. As contratações dependem do treinador.
Mas, se um técnico for contra trazer o Robinho, é melhor trocá-lo.
Esperamos o Robinho em janeiro
[o santista tem contrato até 2007,
e a multa rescisória para clubes do
exterior é de US$ 50 milhões].
Texto Anterior: Notas Próximo Texto: Futebol - Soninha: Onde mora o perigo Índice
|