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FUTEBOL
Onde mora o perigo
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Aos que temem que as imagens comoventes do jogo no
Haiti (ainda ele!) se transformem
em um trunfo para a CBF conseguir o que quiser do governo, garanto: não é aí que mora o perigo.
A partida poderia não ter acontecido, e a promiscuidade no relacionamento de Ricardo Teixeira
com governantes e políticos em
geral continuar existindo. Ou seja, o perigo existe, com ou sem
gols brasileiros em Porto Príncipe.
Nunca me conformei com o fato
de deputados serem convidados
para o posto de ""chefe de delegação" da seleção brasileira, ganhando alguns dias de licença da
Câmara por estarem em ""missão
oficial". Sem falar nos presentinhos e agrados que não chegamos
a ver. E quem não quer um jogo
da seleção na sua cidade ou Estado? Os interessados precisam negociar com a confederação... Mas
o governo e a Justiça simplesmente não podem permitir que o futebol seja administrado com irresponsabilidade ou desonestidade,
e têm instrumentos para isso. Se
amolecerem em função de interesses espúrios, merecem críticas
tão contundentes quanto costumamos fazer ao artilheiro que
perde uma chance na cara do gol.
E eu insisto: os governos bem
que tentam capitalizar em cima
do futebol, mas não dá certo. Você já ouviu alguém dizer ""que
saudade da ditadura, porque naquele tempo se jogava o futebol-arte"? Se o Brasil tivesse perdido
em 70, o regime militar teria caído antes? Os argentinos dão um
desconto para as atrocidades do
Vidella por tudo que ele fez pela
seleção em 78? É claro que não!
O eleitorado pode se deixar seduzir, momentaneamente, por
benesses pessoais se ganhar ingressos para o jogo, camisas autografadas ou título de campeão.
Pode retribuir, equivocadamente,
com um voto. Mas até parece que
é só o esporte que se presta a isso...
O torcedor também pode se distrair, por alguns instantes, com as
alegrias do futebol. Mas no dia seguinte, no ônibus lotado ou na fila do hospital, sua opinião sobre
os políticos, certa ou errada, continuará a mesma de antes.
O Brasil perdeu a final em 1998,
houve teorias conspiratórias de
todos os tipos, e a cúpula da CBF
seguiu lá. O Brasil venceu a Copa
em 2002, e nem por isso a situação
venceu as eleições! É preciso haver
cuidado na análise e inferência
de causas e conseqüências. A simpatia pelo esporte não migra para
a política com a mesma facilidade com que a antipatia política
migra para o esporte. Muitos torcem contra atletas estadunidenses por ódio a George Bush.
O perigo não mora na emoção
do esporte; mora na desonestidade, falta de educação, carência de
informações, cultura do toma lá-dá-cá, busca por benefício pessoal
em detrimento do coletivo. Esses
são os adversários que precisam
ser marcados de perto.
Veto
Ainda sobre esse assunto - foi
ridículo o veto da CBF aos cinco
jogadores que não participaram
do jogo festivo. Jogando em casa
contra a Bolívia, fica fácil bancar
o machão e botá-los de castigo...
Quero ver se o Brasil perder.
Cara-de-pau
George Bush se gabar dos feitos
de atletas americanos ainda vai.
Mas capitalizar em cima do sucesso do futebol iraquiano é demais. Tudo bem que os atletas
não estão mais sujeitos aos castigos corporais infligidos pelo
filho do Saddam, mas o presidente dos EUA podia se conter.
Valem a mensalidade
A vitória do marroquino nos
1.500 m e o recorde no salto
com vara feminino foram momentos especiais na Olimpíada.
A história do corredor, frustrado em duas outras finais olímpicas, vale um daqueles longas-metragens romanceados que
mal são capazes de reproduzir
as nuances e emoções da história real. A saltadora russa comemorando em queda livre de
mais de 4 m foi um espetáculo.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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