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FUTEBOL
Pé na forma e cabeça no lugar
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
"Agora vai!"
Nas últimas semanas,
ouvi várias vezes esse comentário
a respeito do Palmeiras.
Agora que chegou o Levir, agora que o Zinho voltou, agora que
o jogo é em casa... E de agora em
agora o Palmeiras foi, sabemos
muito bem para onde.
"Agora não dá para piorar!"
Esse foi o comentário da semana passada, quando o time chegou à rabeira da tabela -embutindo, mais uma vez, a expectativa da tão anunciada recuperação. Mas sempre dá para piorar...
Dá para continuar estagnado
em sete (!) pontos enquanto os outros times se distanciam (o que
aconteceu no fim de semana, com
a vitória do Paysandu sobre a
Ponte Preta). Mesmo que o Palmeiras vença o próprio Paysandu
hoje, continuará na lanterna. É
mole? Parafraseando o Zé Simão,
não é mole e não sobe!
Dificilmente os analistas estão
tão de acordo em um ponto
quanto neste: o Palmeiras não
tem elenco que justifique a campanha pavorosa. Há vários times
em posições intermediárias na tabela que são, teoricamente, mais
desprovidos de qualidade (tucanês para "fracos"). Zinho, Arce e
Marcos são jogadores "de seleção", Paulo Assunção ia bem até
outro dia, Nenê era um talento
promissor, Dodô "some", mas sabe jogar... E Levir é um bom técnico, com capacidade para fazer
um time razoável funcionar.
Mas o negócio não vai. O jogo
contra a Ponte foi um dos mais
pavorosos que eu vi nos últimos
tempos (pelos dois times, aliás)
-um show de caneladas, bolas
espirradas e tortas. Volta e meia
alguém mandava um chute com
fé pela linha lateral -tentando
fazer um passe, e não neutralizar
jogada adversária. Sem falar em
faltas, empurrões e tabefes.
Nesse jogo e no seguinte não faltou vontade a quem estava em
campo. Ao contrário, os jogadores
se matam, mas não adianta. Nervosos, cometem erros incríveis em
bolas fáceis. E o técnico não escapa da tensão, oscilando bastante
em suas decisões: ora experimenta três atacantes, ora três zagueiros... Mexe, remexe e não conserta
o estrago.
Quando se falou em contratar
um psicólogo para o time, a reação do Levir foi sensata: "O trabalho psicológico precisa de tempo
para dar certo, e nós estamos em
uma emergência".
De fato, ninguém poderia esperar resultados imediatos -mas o
trabalho a longo prazo também
precisa começar alguma hora, e já
podia ter começado.
Ainda há quem ache que essa
história de psicólogo é frescura.
Mas então por que se valoriza
tanto a tal da "motivação"?
Todo mundo sabe a diferença
entre um time fortemente motivado -para ganhar um título
inédito, para bater o maior rival,
para sair da fila- e um time acomodado, apático, desinteressado.
E por que se fala tanto na diferença entre um time "maduro" e
um "inexperiente"? Entre um
grupo unido e um time dividido?
E em vaidade, timidez, excesso de
confiança, insegurança...
Todos esses conceitos aparecem
cotidianamente nas análises sobre futebol e têm a ver com aspectos psicológicos. Por que um profissional do ramo não poderia
ajudar, então?
Às vezes, o técnico diz "o psicólogo sou eu", mas nos momentos
de crise é que se vê claramente a
necessidade de um trabalho especializado. Na nossa vida é assim,
na dos atletas também: se a cabeça vai mal, nada funciona direito.
Tratamento neles! E pé na forma.
As causas
Reconhecer que os jogadores
estão abalados e não rendem
o que sabem é falar só das
consequências de um trabalho malfeito há semanas, meses, anos. Os leitores
Marcos Spósito e Aleph Miles (!) lembram inúmeras razões para a
crise: o técnico "que iria reestruturar o time" foi embora
de repente, o Palmeiras "não
revela ninguém nas fileiras de
base", o CT "nem possui aparelhos condizentes", a diretoria não soube fazer uma
"poupança" nos anos de Parmalat, os contratos "são sempre de seis meses, e o time é
desmontado todo fim de
campeonato"... As queixas
procedem. A parceria com a
Parmalat só deu certo porque
era co-gestão: em vez de dar
dinheiro na mão dos dirigentes, a multi administrava o
negócio. Se não fosse assim,
nem com aqueles milhões de
dólares o time teria tido tão
bons resultados.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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