São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Pé na forma e cabeça no lugar

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

"Agora vai!"
Nas últimas semanas, ouvi várias vezes esse comentário a respeito do Palmeiras.
Agora que chegou o Levir, agora que o Zinho voltou, agora que o jogo é em casa... E de agora em agora o Palmeiras foi, sabemos muito bem para onde.
"Agora não dá para piorar!"
Esse foi o comentário da semana passada, quando o time chegou à rabeira da tabela -embutindo, mais uma vez, a expectativa da tão anunciada recuperação. Mas sempre dá para piorar...
Dá para continuar estagnado em sete (!) pontos enquanto os outros times se distanciam (o que aconteceu no fim de semana, com a vitória do Paysandu sobre a Ponte Preta). Mesmo que o Palmeiras vença o próprio Paysandu hoje, continuará na lanterna. É mole? Parafraseando o Zé Simão, não é mole e não sobe!
Dificilmente os analistas estão tão de acordo em um ponto quanto neste: o Palmeiras não tem elenco que justifique a campanha pavorosa. Há vários times em posições intermediárias na tabela que são, teoricamente, mais desprovidos de qualidade (tucanês para "fracos"). Zinho, Arce e Marcos são jogadores "de seleção", Paulo Assunção ia bem até outro dia, Nenê era um talento promissor, Dodô "some", mas sabe jogar... E Levir é um bom técnico, com capacidade para fazer um time razoável funcionar.
Mas o negócio não vai. O jogo contra a Ponte foi um dos mais pavorosos que eu vi nos últimos tempos (pelos dois times, aliás) -um show de caneladas, bolas espirradas e tortas. Volta e meia alguém mandava um chute com fé pela linha lateral -tentando fazer um passe, e não neutralizar jogada adversária. Sem falar em faltas, empurrões e tabefes.
Nesse jogo e no seguinte não faltou vontade a quem estava em campo. Ao contrário, os jogadores se matam, mas não adianta. Nervosos, cometem erros incríveis em bolas fáceis. E o técnico não escapa da tensão, oscilando bastante em suas decisões: ora experimenta três atacantes, ora três zagueiros... Mexe, remexe e não conserta o estrago.
Quando se falou em contratar um psicólogo para o time, a reação do Levir foi sensata: "O trabalho psicológico precisa de tempo para dar certo, e nós estamos em uma emergência".
De fato, ninguém poderia esperar resultados imediatos -mas o trabalho a longo prazo também precisa começar alguma hora, e já podia ter começado.
Ainda há quem ache que essa história de psicólogo é frescura. Mas então por que se valoriza tanto a tal da "motivação"?
Todo mundo sabe a diferença entre um time fortemente motivado -para ganhar um título inédito, para bater o maior rival, para sair da fila- e um time acomodado, apático, desinteressado.
E por que se fala tanto na diferença entre um time "maduro" e um "inexperiente"? Entre um grupo unido e um time dividido? E em vaidade, timidez, excesso de confiança, insegurança...
Todos esses conceitos aparecem cotidianamente nas análises sobre futebol e têm a ver com aspectos psicológicos. Por que um profissional do ramo não poderia ajudar, então?
Às vezes, o técnico diz "o psicólogo sou eu", mas nos momentos de crise é que se vê claramente a necessidade de um trabalho especializado. Na nossa vida é assim, na dos atletas também: se a cabeça vai mal, nada funciona direito. Tratamento neles! E pé na forma.

As causas
Reconhecer que os jogadores estão abalados e não rendem o que sabem é falar só das consequências de um trabalho malfeito há semanas, meses, anos. Os leitores Marcos Spósito e Aleph Miles (!) lembram inúmeras razões para a crise: o técnico "que iria reestruturar o time" foi embora de repente, o Palmeiras "não revela ninguém nas fileiras de base", o CT "nem possui aparelhos condizentes", a diretoria não soube fazer uma "poupança" nos anos de Parmalat, os contratos "são sempre de seis meses, e o time é desmontado todo fim de campeonato"... As queixas procedem. A parceria com a Parmalat só deu certo porque era co-gestão: em vez de dar dinheiro na mão dos dirigentes, a multi administrava o negócio. Se não fosse assim, nem com aqueles milhões de dólares o time teria tido tão bons resultados.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



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