São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pivô de escândalo diz que há mais juízes suspeitos

Edilson Pereira de Carvalho afirma à PF que grupo que fraudava jogos ofertou suborno a outros árbitros

ADALBERTO LEISTER FILHO
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Edilson Pereira de Carvalho, 43, revelou, em depoimento prestado à Polícia Federal, que houve tentativa de suborno de outros juízes pelo grupo que fraudava resultados de jogos para se beneficiar de apostas em sites ilegais.
Segundo o testemunho do árbitro, ao qual a Folha teve acesso, Paulo José Danelon era amigo de Wanderlei, um dos aliciadores do esquema, e recebeu proposta para favorecer determinadas equipes.
"Danelon (...) falou que não aceitou proposta de alteração de resultado (...), mas no entanto, na sua visão de árbitro em alguns jogos que o interrogado assistiu constata-se a possível conduta suspeita da arbitragem presidida por Danelon", contou Carvalho, em seu depoimento anteontem.
Outro citado no depoimento é Romildo Corrêa, também de São Paulo, que apitou quatro jogos no Brasileiro. O juiz teria recebido oferta de Wanderlei, mas Carvalho desconhece se aceitou.
O árbitro detido concordou em fazer delação premiada, pela qual colabora com as investigações e pode ter sua pena abrandada.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público confirmou à Folha que suspeita de outros árbitros. Mas não quis revelá-los.
"O Romildo é um dos mencionados. Mas temos que ter cuidado. Às vezes aparecem nomes que não necessariamente entraram no esquema. Acredito que alguns disseram não", disse o promotor Roberto Porto. Procurados ontem pela reportagem, Danelon e Corrêa não foram localizados.
Segundo o Gaeco, o grupo promovia fraudes ao menos desde outubro. Carvalho só entrou no esquema neste ano. A Folha apurou, porém, que outros juízes podem ter atuado para o grupo desde o Brasileiro do ano passado.
"Era uma quadrilha especializada em cooptar árbitros. O Edilson com certeza foi cooptado. O Danelon também. Outros nomes foram mencionados, mas não necessariamente pertencem ao esquema", afirma Porto.
Carvalho e Nagib Fayad, conhecido como Gibão, que coordenava as apostas em sites ilegais, foram presos anteontem na Operação Atenas, desenvolvida pela PF. Gibão agiria em conluio com três donos de casas de bingo, cujos nomes são mantidos sob sigilo.
O empresário e o árbitro estão detidos na sede da PF em São Paulo, na Lapa (zona oeste). Fayad ainda não foi ouvido pela polícia. Seu depoimento deve ser realizado hoje, às 14h.
O Gaeco ainda pesquisa evidências sobre a participação de outros árbitros em cerca de 20 mil horas de gravações de conversas colhidas durante cinco meses de escuta telefônica. O próximo passo do inquérito policial será a quebra do sigilo fiscal e bancário pelo menos de Carvalho e Fayad.
"Não descartamos a hipótese de haver outros árbitros envolvidos. Por enquanto temos certeza do Edilson e do Danelon", diz Porto.
Como resultado da revelação do escândalo de arbitragem, quatro dos oito clubes ouvidos pela Folha acreditam que o Brasileiro sofrerá contestações no Superior Tribunal de Justiça Desportiva -a maioria das equipes se encontra na zona de rebaixamento.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Futebol: Edilson afirma que recebeu só pela metade dos serviços
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.