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FUTEBOL
À polícia, árbitro diz que negociou sete partidas, mas só foi pago por três
Edilson afirma que recebeu só pela metade dos serviços
DA REPORTAGEM LOCAL
O árbitro Edilson Pereira de
Carvalho negociou a venda de sete jogos, mas só recebeu por três
deles. É o que contou em seu depoimento prestado à Polícia Federal, obtido pela Folha.
No total, o juiz admitiu ter ganho R$ 30 mil do empresário Nagib Fayad, conhecido como Gibão. Esse valor é referente a três
partidas, duas do Campeonato
Paulista e uma da Libertadores.
O árbitro reconheceu ter negociado outros quatro jogos do Brasileiro, mas afirmou não ter ganho do empresário por nenhum
deles. Em um duelo -Juventude
x Figueirense-, deixou de receber porque o time de Caxias do
Sul goleou por 4 a 1 os catarinenses, a quem deveria favorecer.
No jogo Vasco x Figueirense, o
árbitro contou que fez acordo
com Fayad para ajudar os vascaínos."Ao que se recorda nesta partida o interrogado chegou a marcar um pênalti, duvidoso, a favor
do Vasco", segundo descreve em
seu depoimento.
Os vascaínos ganharam, mas
Carvalho contou que Fayad não
cumpriu o prometido porque os
sites de apostas já desconfiavam
de sua preferência por jogos do
árbitro. Por isso, o juiz não conseguiu mais manipular partidas.
À PF, Carvalho ainda informou
ter se oferecido para interferir nos
resultados de São Paulo x Corinthians e Fluminense x Brasiliense.
Fayad não quis porque os sites
clandestinos não aceitavam mais
palpites nas partidas do juiz.
Apesar de o árbitro só admitir
ter negociado quatro jogos no
Brasileiro, a PF e o Ministério Público têm indício de que esse número seja ainda maior.
"Sete é o número que está sendo
citado em princípio", disse Roberto Porto, promotor do Gaeco
(Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado).
Ao relatar como se envolveu no
esquema, Carvalho contou que,
em setembro de 2004, foi procurado por uma pessoa chamada
Wanderlei, identificado como sócio do árbitro Paulo José Danelon.
O depoimento mostra que ele é
intermediário de Fayad.
O árbitro contou que esta pessoa o convidou para manipular
partidas de futebol amador. Para
o juiz, essa foi uma sondagem para que entrasse no esquema de
apostas em jogos do Brasileiro, do
Paulista e da Libertadores.
Em outubro do ano passado, relata Carvalho, Wanderlei o procurou interessado em manipulações
de resultados do Brasileiro de
2004. Pelo depoimento, houve
uma proposta para que Carvalho
favorecesse a Ponte Preta, em jogo contra o Guarani. Foram oferecidos R$ 10 mil, mas o árbitro
não aceitou a proposta.
A primeira vez em que o árbitro
topou beneficiar um time foi na
partida entre Banfield (ARG) e
Alianza Lima (PER), na Argentina, em fevereiro, pela Libertadores, segundo o relato do juiz.
"No aeroporto de Guarulhos, se
encontrou com Wanderlei, atendendo a um chamado do mesmo,
via celular, na véspera da viagem
em que foi apitar o jogo dos times
(...) Wanderlei lhe fez uma proposta de pagar R$ 10 mil para favorecer a equipe do Banfield", relata o depoimento.
Ao voltar ao Brasil, Carvalho
disse ter recebido o dinheiro em
Jacareí, sua cidade, onde conheceu Gibão. No encontro, o empresário reclamou com o árbitro por
não ter marcado pênaltis, nem expulsado jogadores do Alianza.
A partir de então, Carvalho contou que passou a tratar diretamente com Gibão. E disse ter negociado com ele os jogos América
x Palmeiras e Corinthians x Guarani, pelo Paulista. Nestas partidas, ele disse ter favorecido América e Corinthians, recebendo R$
10 mil em cada uma delas.
Esse valor é a média recebida
pelos acertos para arbitragens
tendenciosas, segundo o árbitro.
À PF, ele disse desconhecer outras
pessoas do esquema de apostas
em sites clandestinos.
O depoimento do juiz ocorreu
no sábado à tarde, depois de ser
preso em Jacareí. A detenção se
estende por cinco dias, mas pode
ser renovada por outros cinco.
O advogado de Carvalho, Francisco Vitor, confirmou que Pereira confessou a participação no esquema, mas sua atuação foi limitada aos jogos que mencionou.
"Não temos intenção de pedir
habeas corpus. Vamos esperar o
fim da prisão temporária para tomar medidas", disse o advogado.
No inquérito policial, Carvalho
e Fayad são acusados de estelionato, induzimento à especulação,
crime contra economia popular e
falsidade ideológica.
(ADALBERTO LEISTER FILHO E RODRIGO MATTOS)
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