São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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FUTEBOL

À polícia, árbitro diz que negociou sete partidas, mas só foi pago por três

Edilson afirma que recebeu só pela metade dos serviços

DA REPORTAGEM LOCAL

O árbitro Edilson Pereira de Carvalho negociou a venda de sete jogos, mas só recebeu por três deles. É o que contou em seu depoimento prestado à Polícia Federal, obtido pela Folha.
No total, o juiz admitiu ter ganho R$ 30 mil do empresário Nagib Fayad, conhecido como Gibão. Esse valor é referente a três partidas, duas do Campeonato Paulista e uma da Libertadores.
O árbitro reconheceu ter negociado outros quatro jogos do Brasileiro, mas afirmou não ter ganho do empresário por nenhum deles. Em um duelo -Juventude x Figueirense-, deixou de receber porque o time de Caxias do Sul goleou por 4 a 1 os catarinenses, a quem deveria favorecer.
No jogo Vasco x Figueirense, o árbitro contou que fez acordo com Fayad para ajudar os vascaínos."Ao que se recorda nesta partida o interrogado chegou a marcar um pênalti, duvidoso, a favor do Vasco", segundo descreve em seu depoimento.
Os vascaínos ganharam, mas Carvalho contou que Fayad não cumpriu o prometido porque os sites de apostas já desconfiavam de sua preferência por jogos do árbitro. Por isso, o juiz não conseguiu mais manipular partidas.
À PF, Carvalho ainda informou ter se oferecido para interferir nos resultados de São Paulo x Corinthians e Fluminense x Brasiliense.
Fayad não quis porque os sites clandestinos não aceitavam mais palpites nas partidas do juiz.
Apesar de o árbitro só admitir ter negociado quatro jogos no Brasileiro, a PF e o Ministério Público têm indício de que esse número seja ainda maior.
"Sete é o número que está sendo citado em princípio", disse Roberto Porto, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Ao relatar como se envolveu no esquema, Carvalho contou que, em setembro de 2004, foi procurado por uma pessoa chamada Wanderlei, identificado como sócio do árbitro Paulo José Danelon. O depoimento mostra que ele é intermediário de Fayad.
O árbitro contou que esta pessoa o convidou para manipular partidas de futebol amador. Para o juiz, essa foi uma sondagem para que entrasse no esquema de apostas em jogos do Brasileiro, do Paulista e da Libertadores.
Em outubro do ano passado, relata Carvalho, Wanderlei o procurou interessado em manipulações de resultados do Brasileiro de 2004. Pelo depoimento, houve uma proposta para que Carvalho favorecesse a Ponte Preta, em jogo contra o Guarani. Foram oferecidos R$ 10 mil, mas o árbitro não aceitou a proposta.
A primeira vez em que o árbitro topou beneficiar um time foi na partida entre Banfield (ARG) e Alianza Lima (PER), na Argentina, em fevereiro, pela Libertadores, segundo o relato do juiz.
"No aeroporto de Guarulhos, se encontrou com Wanderlei, atendendo a um chamado do mesmo, via celular, na véspera da viagem em que foi apitar o jogo dos times (...) Wanderlei lhe fez uma proposta de pagar R$ 10 mil para favorecer a equipe do Banfield", relata o depoimento.
Ao voltar ao Brasil, Carvalho disse ter recebido o dinheiro em Jacareí, sua cidade, onde conheceu Gibão. No encontro, o empresário reclamou com o árbitro por não ter marcado pênaltis, nem expulsado jogadores do Alianza.
A partir de então, Carvalho contou que passou a tratar diretamente com Gibão. E disse ter negociado com ele os jogos América x Palmeiras e Corinthians x Guarani, pelo Paulista. Nestas partidas, ele disse ter favorecido América e Corinthians, recebendo R$ 10 mil em cada uma delas.
Esse valor é a média recebida pelos acertos para arbitragens tendenciosas, segundo o árbitro. À PF, ele disse desconhecer outras pessoas do esquema de apostas em sites clandestinos.
O depoimento do juiz ocorreu no sábado à tarde, depois de ser preso em Jacareí. A detenção se estende por cinco dias, mas pode ser renovada por outros cinco.
O advogado de Carvalho, Francisco Vitor, confirmou que Pereira confessou a participação no esquema, mas sua atuação foi limitada aos jogos que mencionou.
"Não temos intenção de pedir habeas corpus. Vamos esperar o fim da prisão temporária para tomar medidas", disse o advogado.
No inquérito policial, Carvalho e Fayad são acusados de estelionato, induzimento à especulação, crime contra economia popular e falsidade ideológica. (ADALBERTO LEISTER FILHO E RODRIGO MATTOS)


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