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FUTEBOL
De volta à trincheira
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
"E nenhuma sensação de
que já vou tarde".
Esta é a última linha da coluna
que escrevi nesta Folha, em 21 de
novembro de 99, quando me despedi para trabalhar no "Lance!".
Quase seis anos se passaram, e é
com imensa alegria que volto.
Porque tinha mesmo que voltar.
Não tenho sequer um motivo
para me queixar desse período,
ao contrário. Ter visto de dentro a
consolidação de um corajoso projeto para implantar um diário esportivo foi uma experiência notável e rejuvenescedora.
Graças a uma política editorial
de absoluta independência, o
"Lance!" está aí na trincheira pela modernização do futebol brasileiro. Seu editor, Walter de Mattos Jr., é hoje interlocutor obrigatório na luta por um futebol mais
bem organizado, transparente
(pobre palavrinha, tão espancada
no Brasil), rentável e digno dos
atletas que aqui nascem.
Luta que esta Folha trava ainda antes de o "Lance!" nascer, oito anos atrás. E para a qual volto
com disposição renovada, neste
momento em que o país passa por
mais uma faxina, tomara que
verdadeiramente profilática.
O fato é que o futebol nacional
progrediu nos últimos tempos,
principalmente por tudo que
aconteceu no último ano da gestão FHC, com a redação do Estatuto do Torcedor (que, é verdade,
ainda não pegou como deveria) e
com a Lei da Moralização (que
também precisa ser aplicada com
muito mais rigor), além do Brasileirão em pontos corridos.
Se nos primeiros quatro anos de
FHC o esporte andou para frente
com a Lei Pelé, nos três seguintes
regrediu, com o estupro da mesma lei e com os ministros que se
revezaram desgraçadamente, até
a chegada de Caio Carvalho e a
atuação brilhante do "ministro
do Futebol", José Luís Portella,
principal responsável pelos textos
legais que estão em vigor.
Infelizmente, no entanto, e embora o presidente Lula tenha tido
a grandeza de assiná-los como as
primeiras leis de seu mandato, eis
que da assinatura para cá só houve retrocessos. Voltou a promiscuidade do governo federal com a
cartolagem, numa política de
acomodação onde a necessária
ruptura, que contaria com o
apoio da opinião pública, foi trocada pelo deslumbramento de
um ministro fraco e fisiológico.
A Timemania, sem contrapartidas de mudança no modelo de
gestão e responsabilização dos dirigentes, também chamada de
"mensalão do futebol", é apenas
uma das faces dessa política deletéria, loteria que o Congresso Nacional não pode aceitar nos termos em que está posta.
Por um jogo da seleção brasileira no Haiti, o governo ajoelhou-se
diante da CBF, denunciada fartamente em duas CPIs e até agora
impune, como seus dirigentes. E
tome mais escândalos no esporte,
como os que envolveram o velho e
bandido bingo para derrubar
mais ministros, como já acontecera com Rafael Greca, ou como os
atuais, fruto das relações com a
Multiaction de Marcos Valério.
O cidadão-torcedor tem o direito de saber. E os jornalistas têm a
obrigação de contar.
E os chefes?
Hoje a intenção da coluna era
tratar de futebol, pelo menos
aqui neste cantinho, já que o
texto principal teria mesmo de
ser, digamos assim, mais institucional. Como, no entanto, fazer de conta que não existiu a
denúncia de "Veja", principalmente por envolver um árbitro
que, sabe-se desde 2003, falsificou um diploma do curso colegial (do colégio Antonio Afonso, de Jacareí) para apitar? E os
chefes de Edílson Pereira de
Carvalho, que permitiram que
ele trabalhasse na CBF mesmo
com tal passado, não têm culpa? Lembremos: os árbitros são
escolhidos por sorteio, ou seja,
só podem avisar os apostadores
em cima do laço. Imagine se
fossem escalados. Aí, os apostadores escolheriam os jogos que
os malandros apitariam e eles
influenciaram nas escalas.
@ - blogdojuca@uol.com.br
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