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Dirigente não convence comissão, que vê provas de ao menos dois crimes
CPI vai sugerir ao MP o indiciamento de Farah
FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A CPI do Futebol, instalada no
Senado, vai sugerir ao Ministério
Público Federal o indiciamento
de Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista, pela prática de pelo menos dois crimes
durante os 14 anos de sua gestão à
frente da entidade.
A Folha apurou que o cartola,
recém-empossado presidente da
Liga Rio-São Paulo, terá seu indiciamento sugerido por crimes
contra a ordem tributária e evasão
de divisas. É grande ainda a possibilidade de serem incluídos na representação os crimes de apropriação indébita e perjúrio.
Documento elaborado pela assessoria da CPI será enviado aos
procuradores nos próximos dias,
provavelmente antes do fim dos
trabalhos da comissão, marcado
para o dia 8 de novembro.
A representação já está nas
mãos de advogados da CPI e deve
ser assinada no mês que vem pelos senadores Álvaro Dias (PDT-PR) e Geraldo Althoff (PFL-SC),
presidente e relator da comissão,
respectivamente.
Ontem, durante seu segundo
depoimento no Senado, Farah irritou os congressistas e, ao contrário do que aconteceu em maio,
saiu criticado da sessão. "Ele deve
estar constrangido", disse Dias.
O dirigente paulista não conseguiu convencer os senadores com
seus argumentos sobre o caso Piekarski e sobre os cheques que recebeu da FPF em 1996 (leia texto
nesta página).
A CPI também pedirá ao MPF
que investigue os contratos da federação com a B&B, empresa de
Bruno Balsimelli, membro do
Conselho Fiscal da entidade e
amigo íntimo de Farah.
Os depósitos da FPF nas contas
de deputado estadual Pedro Yves
(PTB), que há pouco era vice-presidente da entidade para o Vale
do Paraíba, também devem ser
apurados pelos procuradores.
A comissão chegou à conclusão
de que Farah cometeu crime de
evasão fiscal no caso do jogador
polonês Piekarski, revelado em
janeiro deste ano pela Folha.
Para os congressistas, o dirigente não poderia ter deixado US$ 1,2
milhão recebido do Bastia no exterior por quase dois anos.
As divisas, segundo a CPI, deveriam ter entrado no país nas datas
previstas no contrato ou no momento em que as parcelas foram
pagas pelo clube francês, em caso
de atraso.
O segundo pedido de indiciamento, de crime contra a ordem
tributária, é baseada nos cheques
que a FPF pagou a pessoas jurídicas e que acabaram sendo depositadas em contas do dirigente.
Seis cheques nominais dados
em 1997 à JRQ Representações
-no valor total de R$ 90 mil- e
outro pago à Exame Assessoria
(R$ 15 mil) foram parar numa
conta de Farah no banco Itaú.
Para a CPI, esse valor era a continuidade do esquema de remuneração da entidade ao dirigente
iniciada em 1996, quando Farah
depositou em sua conta doze cheques da FPF nominais a ele mesmo, no valor total de R$ 149 mil.
Farah nega que tenha recebido
salário e afirma que os cheques
lhe foram repassados porque
prestou serviços às empresas como advogado.
"Para mim, não há duvidas.
Aqueles valores correspondem a
salário", disse Althoff.
A CPI ainda espera documentos
prometidos pelo dirigente para
decidir se sugere seu indiciamento por apropriação indébita. "Os
indícios de que isso tenha acontecido são grandes", afirmou Althoff, após o depoimento.
Segundo a assessoria jurídica da
CPI, o uso de recursos da federação para pagamento de pendências tributárias da pessoa física de
Farah configura, em tese, o crime
de apropriação indébita.
Em 1998, Farah utilizou R$
194.554,91 da federação como
caução exigida pela Receita Federal para poder entrar com recurso
contra a decisão administrativa
do órgão, que o havia autuado naquele ano.
Em 2000, na instância superior,
o cartola ganhou os recursos e diminuiu seu débito para algo em
torno de R$ 30 mil. O detalhe é
que Farah não soube explicar aos
senadores se a diferença de R$
163.555,98, devolvida pela Receita
a ele, retornou aos cofres da FPF.
Farah prometeu resposta em 24
horas e disse que o pagamento
inicial foi aprovado em Assembléia. "Se eu não fosse presidente
da FPF, ninguém me conheceria.
Não sou milionário e é justo que
os clubes me ajudem na minha
defesa", disse ontem na CPI Farah, referindo-se ao fato de que
não seria autuado se não fosse
uma figura pública.
Uma eventual quarta "sugestão" aos procuradores, sobre a
prática de crime de perjúrio, também está sendo estudada pela assessoria da comissão.
A CPI tem convicção de que Farah mentiu na primeira vez que
esteve no Senado. Na ocasião, o
cartola negou que ele ou qualquer
outro dirigente da entidade fosse
remunerado. Após a revelação
dos cheques nominais a ele, argumentam os senadores, a versão de
Farah caiu por terra.
Procurado pela reportagem ainda em Brasília, Farah disse que já
havia dado todos os esclarecimentos necessários à CPI e que
não daria entrevista.
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