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FUTEBOL
As cigarras e as formigas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Volta e meia o futebol reedita a história da cigarra e da
formiga. Mas a moral da história
varia. Às vezes times operários
caem diante de times artísticos, às
vezes times dedicados superam times talentosos. Às vezes o suor
compensa a inferioridade técnica,
mas também não é raro que um
simples improviso torne vãos todos os esforços da disciplina.
Quem gosta da história dos
Campeonatos Mundiais certamente se lembrará da abnegada
seleção alemã de 1954, o time de
Rahn e Fitz Walter, que, na final
da Copa, derrotou a favoritíssima
Hungria de Puskas por 3 a 2.
Por outro lado, não custa lembrar que, poucos meses atrás, o
futebol militarizado dos germânicos ruiu num lance genial de Rivaldo. Ao deixar o passe de Kleberson passar por detrás de suas
pernas, ele tirou o tempo de bola
dos zagueiros e permitiu que Ronaldo fizesse o 2 a 0 que nos garantiu o pentacampeonato.
Em termos de Brasileiro, os mata-matas de anteontem relembraram, de certo modo, a antiga
fábula. Houve times que se destacaram pelos momentos de cigarra, e times que foram a imagem e
semelhança das formigas.
O clássico gaúcho entre Grêmio
e Juventude, por exemplo, foi um
perfeito combate de formicídeos.
Dois elencos lutadores, denodados, mas ambos sem muito brilho
e capacidade individual para superar as dificuldades de uma eficiente marcação. Como costuma
acontecer nesses casos, o resultado não passou de um modesto 0 a
0. Resultado que tem toda a chance de se repetir amanhã, colocando o Juventude nas semifinais.
Já no jogo do Maracanã, brilhou a cigarra-mor do futebol
brasileiro. Em três lances isolados, Romário criou condições para que os pouco badalados, mas
eficientes, Magno Alves e Roni
tornassem o sonho dos operários
do ABC bem mais distante. Em situações de desespero um cicadelídeo é fundamental, e o principal
cicadelídeo de que o São Caetano
dispõe está sentado no banco.
No Mineirão, por outro lado, as
formigas corintianas cravaram
uma vitória bem mais elástica do
que se esperava. O time de Parreira, com seu futebol paciente, metódico e quase enervante, liquidou o instável Atlético, uma equipe dedicada, mas que depende
muito de Paulinho e Marques.
Na Vila Belmiro, outra vitória
dos himenópteros. O Santos, tirando um ou outro lance de Robinho e o gol de Diego, cumpriu sua
missão com uma submissão só
vista nos mais disciplinados formigueiros. Ajudados pelas dimensões estreitas da Vila, Paulo
Almeida, Renato e Elano (depois
Alexandre) foram marcadores
dedicados e incansáveis.
Com divididas, roubadas de bola e encontrões, eles impediram
que os atacantes são-paulinos
achassem espaços na defesa e realizassem suas tabelas. Reinaldo
simplesmente não encontrou Luis
Fabiano, e Ricardinho dava graças a Deus quando conseguia respirar. Só Kaká conseguia levar
vantagem sobre os perseguidores.
Nos próximos dois dias, cigarras
e formigas novamente entrarão
em campo e novamente reviverão
a batalha secular.
Garras e talentos se enfrentarão
mais uma vez. Mais uma vez, romários se defrontarão com simplícios. Mas não há como fazer
previsões. No futebol, nem sempre
o mais esforçado e empenhado é o
premiado, nem sempre o irresponsável e irreverente é punido.
Infelizmente, ou felizmente, as
fábulas do futebol não obedecem
a moral da história.
Moda
Virou mania dizer que Maldonado é a alma da defesa do
São Paulo. Pois bem, sou o
mais novo adepto dessa mania. Sem o chileno, Jean,
Ameli, Júlio Santos e o próprio Fábio Simplício parecem
mal posicionados e oferecem
espaço aos atacantes rivais.
Zaga-mãe
Além de ter a missão quase
impossível de fazer cinco gols
no Corinthians, o Atlético
tem que se preocupar com
sua defesa. Sua zaga já concedeu 49 gols aos adversários.
Operário padrão
Além de marcar e passar bem
e não levar cartões, o volante
santista Renato às vezes aparece no ataque. No terceiro
gol, mesmo baixinho, ele disputou de cabeça com Ameli a
bola que cairia nos pés de Alberto e, depois, nos de Diego
para o antológico gol. Por essas e outras razões, ele é titular absoluto de Leão.
E-mail torero@uol.com.br
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