São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 2002

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FUTEBOL

As cigarras e as formigas

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Volta e meia o futebol reedita a história da cigarra e da formiga. Mas a moral da história varia. Às vezes times operários caem diante de times artísticos, às vezes times dedicados superam times talentosos. Às vezes o suor compensa a inferioridade técnica, mas também não é raro que um simples improviso torne vãos todos os esforços da disciplina.
Quem gosta da história dos Campeonatos Mundiais certamente se lembrará da abnegada seleção alemã de 1954, o time de Rahn e Fitz Walter, que, na final da Copa, derrotou a favoritíssima Hungria de Puskas por 3 a 2.
Por outro lado, não custa lembrar que, poucos meses atrás, o futebol militarizado dos germânicos ruiu num lance genial de Rivaldo. Ao deixar o passe de Kleberson passar por detrás de suas pernas, ele tirou o tempo de bola dos zagueiros e permitiu que Ronaldo fizesse o 2 a 0 que nos garantiu o pentacampeonato.
Em termos de Brasileiro, os mata-matas de anteontem relembraram, de certo modo, a antiga fábula. Houve times que se destacaram pelos momentos de cigarra, e times que foram a imagem e semelhança das formigas.
O clássico gaúcho entre Grêmio e Juventude, por exemplo, foi um perfeito combate de formicídeos. Dois elencos lutadores, denodados, mas ambos sem muito brilho e capacidade individual para superar as dificuldades de uma eficiente marcação. Como costuma acontecer nesses casos, o resultado não passou de um modesto 0 a 0. Resultado que tem toda a chance de se repetir amanhã, colocando o Juventude nas semifinais.
Já no jogo do Maracanã, brilhou a cigarra-mor do futebol brasileiro. Em três lances isolados, Romário criou condições para que os pouco badalados, mas eficientes, Magno Alves e Roni tornassem o sonho dos operários do ABC bem mais distante. Em situações de desespero um cicadelídeo é fundamental, e o principal cicadelídeo de que o São Caetano dispõe está sentado no banco.
No Mineirão, por outro lado, as formigas corintianas cravaram uma vitória bem mais elástica do que se esperava. O time de Parreira, com seu futebol paciente, metódico e quase enervante, liquidou o instável Atlético, uma equipe dedicada, mas que depende muito de Paulinho e Marques.
Na Vila Belmiro, outra vitória dos himenópteros. O Santos, tirando um ou outro lance de Robinho e o gol de Diego, cumpriu sua missão com uma submissão só vista nos mais disciplinados formigueiros. Ajudados pelas dimensões estreitas da Vila, Paulo Almeida, Renato e Elano (depois Alexandre) foram marcadores dedicados e incansáveis.
Com divididas, roubadas de bola e encontrões, eles impediram que os atacantes são-paulinos achassem espaços na defesa e realizassem suas tabelas. Reinaldo simplesmente não encontrou Luis Fabiano, e Ricardinho dava graças a Deus quando conseguia respirar. Só Kaká conseguia levar vantagem sobre os perseguidores.
Nos próximos dois dias, cigarras e formigas novamente entrarão em campo e novamente reviverão a batalha secular.
Garras e talentos se enfrentarão mais uma vez. Mais uma vez, romários se defrontarão com simplícios. Mas não há como fazer previsões. No futebol, nem sempre o mais esforçado e empenhado é o premiado, nem sempre o irresponsável e irreverente é punido.
Infelizmente, ou felizmente, as fábulas do futebol não obedecem a moral da história.

Moda
Virou mania dizer que Maldonado é a alma da defesa do São Paulo. Pois bem, sou o mais novo adepto dessa mania. Sem o chileno, Jean, Ameli, Júlio Santos e o próprio Fábio Simplício parecem mal posicionados e oferecem espaço aos atacantes rivais.

Zaga-mãe
Além de ter a missão quase impossível de fazer cinco gols no Corinthians, o Atlético tem que se preocupar com sua defesa. Sua zaga já concedeu 49 gols aos adversários.

Operário padrão
Além de marcar e passar bem e não levar cartões, o volante santista Renato às vezes aparece no ataque. No terceiro gol, mesmo baixinho, ele disputou de cabeça com Ameli a bola que cairia nos pés de Alberto e, depois, nos de Diego para o antológico gol. Por essas e outras razões, ele é titular absoluto de Leão.

E-mail torero@uol.com.br


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