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FUTEBOL
Ilustres personagens
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Botafogo e Palmeiras estão
de parabéns pelo retorno à
primeira divisão. Conquistaram
as vagas nos gramados. Não será
mais vergonha um clube de tradição disputar a segunda divisão.
Vergonha é subir por meio do tapetão. Ninguém aceita mais as viradas de mesa.
Nessas conquistas, há ilustres
personagens. Os torcedores de Botafogo e Palmeiras tiveram ótimas atuações, dentro e fora dos
estádios. Compareceram, vibraram e incentivaram os jogadores.
As outras torcidas deveriam fazer
o mesmo. A relação dos torcedores com o time, o técnico e os jogadores tem de ser carinhosa e crítica, não agressiva e violenta. As
ofensas não estimulam os atletas,
como pensam muitos torcedores.
Os jogadores ficam tensos e
atuam pior.
Bebeto de Freitas recuperou a
credibilidade e a competência do
Botafogo. Deu uma nova cara ao
clube, a da dignidade. Espero que
outros Bebetos apareçam nos clubes brasileiros, nas federações e
na CBF. Bebeto simboliza um novo tipo de dirigente.
Bebeto escolheu o treinador certo. A equipe não precisava de um
técnico (no sentido abrangente
da palavra) nem de um dos principais treinadores do Brasil (Levir
Culpi já foi um deles), mas de um
técnico de confiança, esclarecido,
sério, organizado e que se envolvesse emocionalmente com o clube. Bebeto já conhecia o Levir no
Atlético-MG, e o treinador necessitava recuperar o prestígio, perdido na queda do Palmeiras para
a segunda divisão.
O abraço caloroso entre o presidente e o técnico após o jogo foi
muito mais do que um gesto de
alegria, de amizade e de dever
cumprido. Representou a afinidade de duas pessoas que sonharam
o mesmo sonho.
Nos últimos anos, Magrão foi
um dos jogadores que mais evoluíram. Ele só marcava e fazia faltas, muitas violentas. Magrão
não é um excepcional volante, porém um bom jogador, em condições de ser titular de qualquer
equipe da primeira divisão.
Mas não foi a qualidade técnica
a sua principal contribuição ao time. Foram a dedicação e a humildade. Após a vitória sobre o Sport,
Magrão disse que tinha vergonha
de ser, sem ter ganhado um título,
idolatrado pela torcida. Retribuiu
com garra, técnica e uma grande
conquista.
Valdo sempre foi um excelente
atleta. Ele não teve mais prestígio
porque possuía estilo diferente
dos grandes craques da posição,
especialistas no passe longo. Gerson se tornou referência, o ideal
inatingível de todo armador.
Valdo é um armador habilidoso, de dribles e passes curtos e que
raramente perde a bola. Atua
bem de uma intermediária à outra. Com 39 anos, não tem a mesma mobilidade e eficiência, porém mantém o estilo. Não jogou
no Botafogo somente com o nome
e a experiência. Atuou com inspiração e transpiração.
Contudo não foi também a
qualidade técnica a principal
contribuição do Valdo à equipe.
Foram a liderança e o envolvimento emocional com o clube.
Em qualquer atividade, para dar
certo, não basta haver uma boa
relação profissional de direitos e
deveres. É preciso criar laços afetivos, de cumplicidade. Para brilhar, um profissional tem de trabalhar com prazer.
A maioria dos jogadores e dos
clubes do país vive em confronto,
muitas vezes na Justiça. Alguns
atletas só pensam em faturar rápido. Não confiam nos dirigentes.
Esses, com frequência, tratam os
jogadores como se fossem apenas
mercadorias. Esporte não é só negócio.
Marcos deu o maior exemplo de
solidariedade e humildade. Imagine a admiração de um jovem do
Palmeiras ao ver um recente pentacampeão, um dos melhores goleiros do mundo, jogando ao seu
lado, na segunda divisão.
Qualquer grande atleta do
mundo, em todos os esportes, que
estivesse no lugar do Marcos forçaria a saída para outro grande
clube. Seria compreensível, racional e humano. Marcos preferiu o
Palmeiras ao Arsenal, um dos
grandes times do mundo.
O grande profissional não é o
que faz somente o que se espera
dele. É o que surpreende, vai
além, como fez Marcos.
Marcos, Bebeto de Freitas, Valdo, Magrão, torcedores do Botafogo e do Palmeiras e outros dignificaram, deram prestígio à segunda divisão e trouxeram paixão e esperança ao futebol.
Neste sábado, queria assistir às
duas torcidas misturadas, abraçadas, torcendo juntas para os
dois times. Seria a festa da delicadeza.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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