São Paulo, segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

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FUTEBOL

Futebol global

JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA

O direito de pensar, falar e escrever livremente, sem censura, sem restrições e sem interferência governamental representa o mais precioso privilégio dos cidadãos. Assim advertiu Hugo Lafaiette Black, integrante da Suprema Corte dos EUA.
Neste país, não existe liberdade de imprensa, e sim de empresa. Porque é frustrante testemunhar tantas barbaridades no futebol brasileiro e não poder se indignar.
Ingenuidade tem limite. Não tem cabimento se estarrecer com notícias de corrupção no futebol, na arbitragem e de repente até em sorteio de Copa, por que não?
Mas como se faz mais negócio que jornalismo, a sujeira fica debaixo do tapete verde. Veio da arbitragem o maior escândalo do ano. E, por favor, não acreditem que só Edilson Carvalho se corrompeu. Fora das quatro linhas, entre as vírgulas o que mais tem é assistente de ladrão e ponto final.
Conclusão: nada ou boa parte disso não teria acontecido se... se lá atrás os poderes maiores (governo e imprensa) tivessem agido de forma honesta e banido chefões de arbitragem, presidentes de clubes e entidades... aqueles que gostam de bola, não da bola.
Recorro ao que escrevi nesta mesma Folha em 17 de julho de 2002, após o penta: "Até tu Lula? Me realizo ao amar sem medo de quebrar a cara e abraçar causas até o fim. Mas morro ao me decepcionar com quem admiro. E, com Lula, não está sendo fácil. Jamais pela política em si, pois jogo no time dos anarquistas. Mas por constatar que ele mentiu! No último artigo, relatei telefonemas-elogios de políticos ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, após o penta. Citei rato bigodudo, tucano arrogante e excluí o sapo barbudo. Tirei Lula após desmentido: "Isso é uma calhordice, nunca falei com o Ricardo". Falou sim. Se o parabenizou pela volta por cima, não importa. Admito que só Serra foi honesto ao confirmar a ligação. Fui nocauteado e invejo a relação fiel de grandes homens e cães, como Carlos Heitor Cony e Mila, Fernando Barbosa Lima e Sony. Buscarei um quatro patas para confiar. PT saudações".
Iniciado o governo vemos um presidente que abraça, avaliza e até posa para fotos oficiais ao lado de gente muito fina. Só faltava o Kia Jorabchian. Faltava. Pois agora o iraniano pode lavar, ops!, levar a vida e tudo como quiser. Santa impunidade!
Por parte da grande mídia o que se viu? Meses antes da Copa-2002, um "Globo Repórter" inteiro mostrou com provas irrefutáveis, como se enriquecia no submundo do nosso futebol. A principal emissora dava, neste programa, crédito a tudo que se tinha apurado nos trabalhos das CPIs esportivas no congresso. Entidades e dirigentes como Ricardo Teixeira e Eurico Miranda que estavam desmascarados. Enfim, bastou ganhar o Mundial para o "Futebol Global" nos tratar como Homer Simpson. Plim, Plim aos eternos direitos exclusivos de transmissão. PT saudações.

Em tempo
Para surpresa de muitos, menos do sistema global, vem agora a dona FIFA e anuncia que não permitirá a insistência do replay em lances duvidosos durante as transmissões. A próxima regra será a narração de locutores ventríloquos. Aliás, como já agem certos "Homers Simpsons" nos telejornais. Ah bola! Se não existissem os Ronaldinhos Gaúchos, eu iria assistir o dia todo à bola oval do futebol americano. Quanto ao resto, prefiro ler Mário Quintana: "Todos aqueles que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão. Eu passarinho!".

E agora, Parreira?
Se o seu problema com Rogério Ceni é técnico, por favor, peça demissão.


Jorge Kajuru, 44, é jornalista

E-mail - jorgekajuru@sbt.com.br

O colunista Juca Kfouri está em férias


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