São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ GERALDO COUTO

Volver


Prestes a voltar à Itália, Ronaldo precisa decidir se está disposto aos sacrifícios exigidos pelos "tifosi"


A DRIANO VOLTA à seleção, Ronaldo volta à Itália. Cindidos pela maior rivalidade do país -Inter x Milan-, os dois artilheiros entram na arena para tentar mostrar à sedenta platéia que ainda são gladiadores de respeito. Nos dois casos, teme-se que as glórias do passado não mais retornem. É esperar para ver. Adriano é mais jovem, mas também mais limitado. Nunca foi um fora de série como Romário, Kaká ou os Ronaldos. Suas virtudes são o vigor físico, o bom cabeceio e uma impressionante patada de canhota. Ronaldo foi um verdadeiro fenômeno, sobretudo na temporada iluminada que jogou pelo Barcelona, lá se vão dez anos.
Depois de disputar quatro Copas do Mundo, bater o recorde de gols em Mundiais e ser eleito três vezes o melhor futebolista do mundo, Ronaldo continua sendo um enigma. Ninguém sabe ao certo o que ainda se pode esperar dele. A coisa mais sensata que li sobre Ronaldo nos últimos tempos foi uma coluna em que Xico Sá, contrariando a voz corrente, aconselhava o craque a esquecer essa conversa de "se superar", "dar a volta por cima", e a entregar-se em vez disso aos prazeres da vida. O problema é que o próprio Ronaldo parece não se decidir. Não tem mais saco para os sacrifícios exigidos de quem quer ficar em forma depois dos 30, mas também não tem o desprendimento necessário para chutar o balde, como fez há duas décadas outro gênio da bola, Michel Platini. Aos 32 anos, com a possibilidade de jogar ainda muito futebol e ganhar muito dinheiro, Platini simplesmente cansou da brincadeira. Constatou que não tinha mais paciência para treinar e manter uma vida regrada e decidiu abandonar a profissão. Grosso modo, existem duas estirpes de jogadores profissionais. Há os que querem se superar a todo custo e conquistar tudo o que for possível. Pelé e Zico foram assim. Existe, porém, outra linhagem, mais relaxada, a dos que prezam mais a vida do que os feitos e os recordes. Edu (o genial ponta-esquerda do Santos dos anos 60 e 70), Sócrates, Afonsinho, Platini e Gascoigne são alguns exemplos dessa fascinante família que hoje talvez seja acusada de "pouco profissional". Todos eles poderiam ter "chegado mais longe", mas talvez tivessem sido menos felizes e menos inteiros. Na célebre divisão dos seres entre os poéticos "cronópios" e os pragmáticos "famas", imaginada por Julio Cortázar, eles sem dúvida seriam cronópios. E Ronaldo, o que é? Cronópio ou fama? Nem ele sabe. Quando voltar a pisar a grama do San Siro, desta vez com a camisa vermelha em vez da azul, talvez ele se dê conta de que "es un soplo la vida, que veinte años no es nada", como canta o tango de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera que dá título a esta coluna.

HERÓI INFLADO
Alexandre Pato, 17, joga um futebol vistoso e surpreendente, mas o pessoal da Band que tem transmitido o Sul-Americano sub-20 está exagerando. Até as caneladas dele são descritas como geniais, fabulosas, de tirar o fôlego. Está certo que o Brasil é um país infeliz que precisa de heróis, mas os ombros do jovem talento ainda são muito estreitos para suportar tamanho peso.

NA CADÊNCIA DO JAZZ
Neste início de Paulistão, o que mais me agrada ver é o futebol límpido e elegante do lateral Kléber, do Santos. Com toques sutis, lançamentos precisos e passes inteligentes, o moço tem formado com Zé Roberto e Cléber Santana um trio que lembra os pequenos combos do "cool jazz" dos anos 50, com um tanto de entrosamento coletivo e outro de improviso individual.

jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Sem "fair play", Brasil sub-20 põe mão no título e na Olimpíada
Próximo Texto: Maracanã, em obras, terá nova reforma
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.