São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997.

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Qual o Corinthians que estará diante da Lusa?

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

O Corinthians, na cabeça do torcedor, por certo, nestas alturas do campeonato, é um imenso ponto de interrogação.
Afinal, que Corinthians estará diante da Lusa hoje?
Aquele irresistível alvinegro que destroçou seu arqui-rival verde, aquele diáfano time, vestido de luz da cabeça aos pés, que enfeitiçou o Atlético-PR, ou a fácil presa de Cilinho que caiu diante do modestíssimo São José na quinta?
Diria que um pouco de cada um, posto que esse Corinthians é um time ainda em transição. Como tal, sujeito a tropeços como a derrota de 2 a 0 para o São José.
A porção que assumirá o corpo em transformação, porém, vai depender de dois fatores: 1) a escalação ou não de alguns jogadores-chave, não necessariamente os mais famosos; 2) a disposição anímica da equipe para se estabilizar entre a euforia das goleadas sobre adversários categorizados e a depressão da derrota diante de rival humilde.
Quanto à escalação, está na cara que aquele Corinthians avassalador depende muito da qualidade da saída de bola da defesa para o ataque, sobretudo porque, doravante, a marcação será cada vez mais rígida sobre Marcelinho e Souza, articuladores oficiais do time.
E é aqui que entram Silvinho e André. Silvinho, ao lado de Fábio Augusto, manteve a segurança do setor, imprimindo-lhe, porém, leveza e fluência no passe. E André, voltando aos poucos à sua melhor forma física, vinha sendo não só o escape pela esquerda como, lá na frente, dava suporte às manobras de Souza.
Sem os dois, diante do São José, a coisa toda emperrou, e o Corinthians passou a viver da esperança de uma jogada fatal de um dos seus craques mais luminosos.
Resultado: apagou-se.

Há duas hipóteses para a saída de Brunoro do esquema Palmeiras-Parmalat: 1) o desgaste natural do relacionamento, agravado pela falta de perspectiva de futuros bons entendimentos, a partir da saída de Seraphim Del Grande, um dirigente de temperamento amável, afinado com a típica discrição de Brunoro; 2) a chance de dar um salto maior num mercado órfão de executivos específicos dessa área.
Esse negócio parece os engarrafamentos desse trânsito miserável de São Paulo: apesar da previsibilidade óbvia, nada se fez para evitar o problema. Assim é com o futebol.
Há mais de 20 anos sabe-se que esse seria o caminho inevitável: a transformação do que era um esporte de massa numa macroindústria de entretenimento, que atrairia vultosas verbas publicitárias, supervalorização dos craques, transações milionárias etc. Enfim, o futebol-empresa.
Os cartolas, assim como as autoridades, ficaram sentados nas suas cadeiras de palhinha, abanando-se com o leque da sinhá e olhando para o passado, na esperança de que o futuro jamais nos tocaria.
Tocou. Tarde, embora, tocou. E eis-nos desarmados para enfrentar um presente que é apenas a ponta do iceberg que se aproxima a 60 nós por minuto. Sorte do Brunoro, que está sozinho na parada, com sua afiada visão de dois olhos numa terra de cegos.
E estultos.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas

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