UOL


São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

US$ 3 mi do acordo Fla-ISL "somem" no Caribe

DA SUCURSAL DO RIO

O embate judicial entre Pelé e seu ex-sócio Hélio Viana sobre o destino de US$ 3 milhões depositados em contas da PS&M Inc. em 1999 e 2000 expõe em detalhes como eles agiram num dos principais negócios que fecharam após deixar o Ministério dos Esportes em meados de 1998: a intermediação do contrato entre o Flamengo e a empresa suíça ISL.
Um processo foi aberto em agosto do ano passado, após Pelé e sua empresa brasileira PS&M Ltda. proporem uma ação de prestação de contas contra Viana, ex-sócio da firma carioca.

Empresa sem dono
O Flamengo e a ISL Marketing AG, então gigante mundial do marketing esportivo, fecharam em 1999 um contrato prevendo que a multinacional investiria US$ 80 milhões no clube.
O acerto foi intermediado por Pelé e Hélio Viana em nome da empresa PS&M. À época não foi esclarecido se era a PS&M Ltda., sociedade brasileira de Pelé e Hélio Viana ou a PS&M Inc., das Ilhas Virgens Britânicas, cuja propriedade ambos negam. Não se conhece contrato citando alguma "PS&M" no acordo entre o clube carioca e a agência suíça.
De 2 de agosto de 1999 a 7 de março no ano seguinte, a ISL fez quatro depósitos em favor da PS&M Inc. Dois de US$ 500 mil e dois de US$ 1 milhão. No total, US$ 3 milhões, em contas no Banco Português do Atlântico e no Delta National Bank nos EUA.
Os dados sobre as contas foram informados em faxes assinados por Viana, que afirma ter obedecido a uma ordem de quem ele diz ser o dono da PS&M Inc., Pelé.
Por sua vez, o ex-ministro afirma ter ouvido falar da existência da PS&M Inc. pela primeira vez em novembro de 2001, quando a Folha publicou reportagem citando a companhia. Segundo Pelé, a PS&M Inc. pertence a Viana.
O episódio Flamengo-ISL lembra outros contratos em que a PS&M das Ilhas Virgens (Inc.) e a do Brasil (Ltda.) se confundiram.
Em 1995, a Inc. assinou contrato para faturar US$ 3 milhões com um evento "beneficente" em favor do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Num acordo de partilha dos futuros lucros, a assinatura foi da Ltda. Pelé disse depois que, ao assinar dois contratos da Inc. sobre o evento na Argentina, pensou estar firmando um documento da Ltda.
Foi a Inc. que vendeu os direitos de exibição das eliminatórias do Mundial 94 à TV Bandeirantes, mas a Ltda. quem recebeu -e omitiu da sua contabilidade, conforme fiscalização da Receita.

Dinheiro sem dono
O meio-campo entre Flamengo e ISL foi feito por Pelé e Hélio Viana, como atestaram numa carta de 2000 o presidente do Conselho de Administração, Jean-Marie Weber, e o diretor-presidente da empresa, Heinz Schurtenberger.
Entusiasmado com o negócio com a ISL, Pelé divulgou em 1999 a possibilidade de a empresa vir a trabalhar com o Santos. Semanas depois, referiu-se às tratativas com o Flamengo como "uma novela que demorou seis meses para resolver".
A considerar o processo da Barra, todo o trabalho de Pelé e Hélio Viana foi inútil: US$ 3 milhões chegaram à PSM Inc., mas nenhum dos dois diz ter posto a mão no dinheiro.
Quando a ISL quebrou, em 2001, o Flamengo rescindiu o contrato. O liquidante da massa falida pediu da Suíça, sem sucesso, esclarecimentos sobre o dinheiro pago à PS&M Inc.
No processo da Barra, um advogado de Pelé, Arnaldo Blaichman, afirma que o ex-ministro e a PS&M Ltda. querem receber o dinheiro que seria de direito da empresa brasileira, da qual hoje Viana está afastado. Viana diz que Pelé ficou com os US$ 3 milhões. A Justiça encaminhou semanas atrás a bancos dos EUA pedido de informações sobre as contas que receberam depósitos da ISL.
Blaichman se referiu à PS&M Inc. como "empresa estrangeira inteiramente estranha". Só que na década de 90, ao defender a PS&M Ltda., então de Pelé e Viana, num processo trabalhista, falou com naturalidade sobre a firma das Ilhas Virgens. (MM E SR)


Texto Anterior: Pelé offshore: Operações no exterior são detalhadas em processos
Próximo Texto: Para contador, empresas não são de Pelé
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.