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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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AUTOMOBILISMO

Ex-piloto diz que Fangio e Schumacher só levaram 5 títulos porque sempre tiveram os melhores carros

Sobrevivente do 1º GP desdenha de pentas

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Eugène Martin é um sobrevivente. Em 13 de maio de 1950, aos 35 anos, era o sétimo colocado entre os 21 pilotos alinhados no grid de largada de Silverstone para a primeira corrida de F-1 da história. Hoje, aos 88, é um dos dois que restaram, o único lúcido e que ainda acompanha a categoria.
Um homem que enfrentou Juan Manuel Fangio, Tazio Nuvolari e Alberto Ascari. Que conheceu Jim Clark, Alain Prost e Jackie Stewart. Que contabiliza mais de 50 colegas mortos em acidentes durante a sua carreira. Anteontem, ele conversou com a Folha, por telefone, de La Rochelle, França.
"A F-1 daquela época não tem nada a ver com a atual. Os carros eram diferentes, a forma como eram construídos era diferente e a maneira de pilotar era outra", diz, com conhecimento de causa.
Porque Martin, como vários de sua época, foi mais do que um piloto. Engenheiro, construía os carros da Talbot. Modelos que usava, com outros contratados da equipe. Em suma, metia a mão na graxa, cenário inimaginável hoje.
"É impossível fazer o que eu fazia. Eu era construtor, mecânico e piloto. Hoje, as tarefas são específicas. As pessoas são capazes de fazer uma coisa ou outra. Mas nunca as duas coisas", afirma.
"A cada ano, as equipes precisam de mais e mais técnicos para cada pedaço do carro. E os pilotos, por outro lado, gastam muito tempo pilotando. Eles não têm tempo de conhecer mecânica."
Essa sua trajetória e suas opiniões escancaram as diferenças entre as eras da F-1. O francês é uma ponte. Acompanhou todas.
O grosso de sua carreira se passou na "pré-história", na década de 40, em corridas disputadas em pistas de pouso e montanhas.
Na fase seguinte, Martin correu só dois GPs, em 1950. Além de Silverstone, correu em Bremgarten, na Suíça. Abandonou ambos. O primeiro, com um problema de pressão de óleo. O segundo...
Bem, até os acidentes, naquela época, eram diferentes: "Meu carro estava estranho. Então, uma pedra acertou meu pára-brisa e voou óleo fervendo nos meus olhos, não pude ver nada e perdi o controle. O carro girou no ar. Tive sorte de não morrer, mas quebrei a perna e decidi me aposentar".
Por essas e por outras, Martin um dia resolveu contar os colegas que viu morrer nas pistas. "Contei 52. Sabíamos que era fácil morrer. Bastava um pouco de óleo na pista ou uma manobra estabanada."
Mesmo tendo trabalhado para a Talbot, uma marca inglesa, Martin só fala francês, algo também inviável na F-1 atual. E evita comentários sobre os pilotos de hoje. Afinal, é de uma época em que todos, mesmo adversários ferrenhos, se conheciam de perto.
"Não posso falar muito sobre o Schumacher porque não conheço esse senhor pessoalmente", diz.
Fangio, o outro pentacampeão, Martin conhecia. "Ele brincava o tempo todo. Era talentoso, mas sempre teve os melhores carros... Isso posso dizer do Schumacher. Se ele e Fangio não tivessem os melhores carros, não sei se conseguiriam todos aqueles títulos."
Após deixar as pistas, Martin tornou-se diretor da Talbot. Depois disso, continuou acompanhando a F-1, como espectador.
E tem seu veredicto: "Os melhores pilotos da história foram Alain Prost e Ayrton Senna. Prost sabia tirar o melhor do carro, da equipe. E Senna foi o mais veloz que já vi".


Colaborou Rodrigo Bertolotto, da Reportagem Local


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