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País se arma para negar leis exigidas em Mundial
Fifa determina que Brasil crie em três anos legislação para blindar suas ações
Federação quer ficar isenta de taxas e de punições da Justiça local, entre outros, mas já há movimento por negociação no Congresso
DO PAINEL FC
E DA REPORTAGEM LOCAL
As exigências da Fifa que implicam mudança na legislação
brasileira são o primeiro nó a
ser desatado na candidatura à
Copa-14. O grupo que trabalha
no projeto a pedido da CBF já
identificou que algumas alterações na lei são inviáveis.
Um dos exemplos é o pedido
de isenção de impostos para tudo relacionado ao Mundial ou à
Fifa. E outro é uma autorização
para que a polícia possa entrar
em locais, apreender produtos
e "prender qualquer sujeito razoavelmente suspeito" de piratear mercadorias.
Essa corrente defende uma
negociação com a Fifa, apesar
de o caderno de encargos deixar clara a necessidade de uma
série de leis serem aprovadas.
"A Copa é um desejo de todos
nós, inclusive da Câmara, do
Senado e do presidente [Lula].
Mas não podemos transformar
o Brasil num território da Fifa",
afirmou o deputado José Rocha
(PR-BA). Ele é membro da
"bancada da bola", alinhada
com a confederação brasileira.
O deputado sugere algumas
mudanças no contrato com a
Fifa, se o Congresso julgar necessário. O documento elaborado pela federação diz que tais
alterações podem ser sugeridas, mas alerta que geram o risco de descredenciamento do
país ou, no mínimo, pesarão
contra a candidatura.
O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, limita-se a
dizer que "todas as decisões
passarão pelo Congresso".
De acordo com ele, no dia 15,
os ministérios que integram a
comissão para estudar o documento concluirão os relatórios.
No fim de maio, o parecer de
cada pasta será levado ao presidente Lula. Ele assinará o documento da Fifa depois de ler a
análise dos ministérios.
A maior parte dos aliados da
CBF quer que Lula assine uma
série de medidas provisórias
para atender à maioria das ordens da Fifa. Essa saída é mais
rápida do que a criação de projetos de lei. De acordo com o caderno de encargos, todas as
normas deverão estar em vigor
no país até 2010.
A família Fifa cobra também
facilidades para a obtenção de
vistos trabalhistas e prioridade
nos aeroportos. A isenção de taxas vale também em casos municipais e estaduais.
Quer ainda imunidade contra ações judiciais. Se alguma
ocorrer, o país-sede deve arcar
com possíveis despesas.
Nesta semana, os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia, e do Senado, Renan Calheiros, amigo de infância do
presidente da CBF, Ricardo
Teixeira, receberam os documentos com as exigências.
Dos calhamaços entregues
aos governantes brasileiros, o
nomeado "Acordo da Candidatura" é o que mais deixa explicita a interferência da entidade
na legislação do país.
No capítulo que trata dos deveres governamentais, a maioria dos itens termina com o
Brasil garantindo que fará as
leis necessárias para cumprir a
garantia governamental.
As vontades da Fifa ganham
um certo tom de ameaça ao ficar registrado em alguns trechos que a garantia dada pelo
governo terá "força de lei contra o Brasil e seu governo, bem
como todas as autoridades municipais e estaduais".
Preocupada com o cumprimento de suas exigências, a Fifa pede também um relatório
de um advogado (um grupo já
foi contratado) assegurando
que as garantias dadas pelo governo têm valor legal. Quer ainda um resumo da Constituição
do Brasil.0
(RICARDO PERRONE E RODRIGO MATTOS)
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