São Paulo, quinta, 27 de maio de 1999

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O time da temporada européia

MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas

Ao conseguir virar o jogo nos descontos e bater o Bayern de Munique por 2 a 1, em uma das mais emocionantes finais da Copa dos Campeões da Europa, o Manchester United consolidou a sua posição como o time europeu da temporada.
Obteve o que poucos conseguiram até agora. Ganhar a tríplice coroa: o Nacional, a Copa da Inglaterra e o principal torneio europeu de clubes.
A vitória do caríssimo time do United, como os ingleses dizem, tem suas lições. Primeiro, ela reflete a tentativa de melhorar a qualidade do futebol daquele país, sem perder, o que é importante, as principais virtudes de sua escola: a velocidade, o passe longo e o jogo aéreo.
Segundo, ela reflete também o espírito do técnico Alex Ferguson, que montou um time disposto a correr altos riscos táticos ao procurar sempre o ataque e a vitória. Quem viu o jogo pôde perceber o quão vulnerável fica a sua defesa de quatro jogadores, com um meio-campo que sai muito para atacar.
Mas pôde constatar também que o 4-4-2 do United é de fachada. Na prática, com a posse de bola, ele joga em um 4-3-3 agressivo, com Giggs exercendo o papel de ponteiro avançado (no Camp Nou, ontem, ele atacou mais pela direita, com Beckham, que normalmente faz os cruzamentos por esse setor, atuando mais no meio).
A vitória do Manchester foi o prêmio para um time de explosão e que procurou a vitória até quando parecia que não havia mais tempo para tal. Além disso, Alex Ferguson estava iluminado: os gols (do veterano Teddy Sheringhan e do norueguês Ole Gunnar Solksjaer) foram marcados por atletas que ele colocou no segundo tempo.
Mas o Bayern de Munique, um time mais experiente e com mais coesão tática, jogou muito bem, e a derrota é uma punição muito dura para dois jogadores: Lottar Matthaeus (38 anos, ainda um leão em campo) e para o jovem zagueiro vindo de Gana Samuel Kouffour (fez uma grande partida e chorava desesperadamente ao final do jogo).
Fico sempre dividido quando se trata de recomendar a leitura de algum livro ou texto. Por um lado, uma indicação sempre carrega um ar de pedantismo, de superioridade de quem a está fazendo.
Por outro lado, não indicar o que estamos lendo ou o que lemos de bom pode parecer egoísmo, incapacidade de dividir com os outros as coisas boas, às quais temos acesso.
Não querendo cair em nenhum dos dois erros, mas correndo o risco de cair nos dois, registro que o escritor Salman Rushdie tem um ótimo artigo sobre futebol na edição desta semana da revista "The New Yorker". Ele tenta convencer o público de elite dos EUA -o leitor da "New Yorker"- que futebol é legal.
É incrível que um escritor com muitas dificuldades de locomoção, como ele, desde que vem sendo perseguido por fanáticos religiosos, ainda encontre disposição e coragem para ir a Wembley torcer pelo londrino Tottenham Hotspur.
"Isso é o que significa ser torcedor: esperar, suportar décadas de desilusão e ainda assim não ter alternativa em termos de fidelidade", escreve Rushdie, que ficou longos anos na fila com o seu Spurs. Falou e disse, bicho, como se dizia antigamente.
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Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor editorial-adjunto da Abril S.A.



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