UOL


São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BOXE

Uma outra perspectiva

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos assistiram ao mesmo combate no final de semana?
Me refiro à defesa do campeão dos pesos-pesados do CMB (e campeão linear), Lennox Lewis, contra o gigante Vitali Klitschko.
Três coisas me intrigaram: o modo como a imprensa reagiu, classificando o combate como "um dos mais brutais dos últimos tempos", o fato de Klitschko estar em vantagem nas papeletas dos jurados na hora da paralisação da luta e essa nova percepção de que Klitschko é um guerreiro.
Primeiro, a maior parte da luta, com exceção do segundo assalto, foi marcada por uma postura cautelosa do campeão e do desafiante e pelo excesso de agarrões.
Alguns poucos golpes potentes foram acertados, no entanto não houve nenhuma queda legítima.
Acho que ninguém está comparando Lewis-Klitschko com, para não ir muito longe, qualquer uma das lutas da trilogia envolvendo Evander Holyfield-Riddick Bowe.
Só para completar minha linha de raciocínio: se o combate foi tão brutal, como é que ninguém chegou nem perto de um nocaute?
Segundo, creio que não estava assistindo ao mesmo combate que os jurados. Sim, o ucraniano, de 1,98 m, dominou os dois assaltos iniciais sobre Lewis, que, aliás, estava fora de sua forma ideal.
Ele acertou algumas bombas que o britânico aparentou sentir.
Mas, após sofrer no terceiro assalto o corte no supercílio que depois causou o fim da luta, Klitschko pouco fez. Só tentou demonstrar agressividade com alguns golpes fracos (ou imprecisos).
Um empate estaria de muito bom tamanho. Esta opinião é compartilhada pelo jurado internacional que trabalhou na transmissão para o Brasil, Daniel Fucs, que tinha Lewis vencendo a luta.
Em terceiro lugar, Klitschko pode ter dado seu showzinho após a luta, levantando as mãos em protesto à decisão do médico e afirmando que poderia prosseguir.
Mas o fato é que suas ações, principalmente no fim do sexto assalto, quando só queria saber de dar agarrões para evitar o castigo, demostravam que o fim estava próximo. Àquela altura, sua combinação preferida era o jab seguido pelos agarrões. De certa forma, ele praticamente desistiu.
Quer ver outro caso de um lutador que aparentou agressividade mas praticamente nada fazia?
O legendário Roberto "Manos de Piedra" Durán se desmoralizou depois de ter proferido o infame "no más, no más" como maneira de desistir na revanche com "Sugar" Ray Leonard, em 1980.
O que poucos se deram conta é que no terceiro encontro com Leonard, em 1989, o panamenho repetiu o "no más". Não foi verbalmente: nessa oportunidade foi em forma de linguagem gestual.
Naquele derradeiro combate com Leonard, Durán pouco fez.
Limitou-se a seguir Leonard no ringue, mostrando agressividade "com os pés", mas relutava em disparar os punhos (evitando assim os contra-ataques). E perdeu.
Quem não pôde acompanhar Lewis-Klitschko e quiser conferir com os próprios olhos terá nova chance de conferir o combate amanhã. O canal a cabo BandSports anuncia exibição de VT do combate amanhã, às 20h.

Após Popó
O mexicano Javier "Chatito" Jauregui, derrotado por Acelino Freitas, provou que há vida após Popó. Na última semana, venceu eliminatória para desafiar o campeão dos leves da FIB ao impor um nocaute brutal sobre Juan Golo-Gomez Trinidad. Além disso, foi classificado como "subestimado" pela tradicional "The Ring" e é o mais bem sucedido ex-rival de Popó. Fiquei satisfeito com sua vitória por um motivo pessoal. Quando desafiou o baiano em 2000, afirmei que seria a defesa de título mais difícil de Popó até aquele momento. Não caiu muito bem quando foi nocauteado a só 1min23s do primeiro assalto.

Sem Popó
A ESPN International exibe hoje, às 22h, VT da mais recente luta do ex-campeão Diego Corrales, que já foi cogitado para pegar Popó.

E-mail eohata@folhasp.com.br


Texto Anterior: Vôlei: Seleção usa Portugal como sparring em MG
Próximo Texto: Futebol - José Roberto Torero: Pequeno dicionário santista
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.