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Técnico banca fantasia africana
Ratomir Dujkovic e seu auxiliar são adeptos do futebol ofensivo e negam que Gana seja time faltoso
Dupla trabalha junta desde
1992, dispensa preparador
físico, mas diz que time tem
fôlego e pode, como o Brasil,
resolver jogo num lance
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A DORTMUND
O elevado número de faltas
cometidas e de contra-ataques
criou nos últimos dias a idéia de
uma Gana distante da criatividade do futebol africano, domada por um europeu durão.
Se compartilha dessa visão, a
seleção brasileira pode ser surpreendida hoje. É uma idéia enganosa, especialmente quando
cotejada com a filosofia da comissão técnica de Gana.
O sérvio Ratomir Dujkovic é
um entusiasta do futebol ofensivo e tem como fiel escudeiro
um treinador que leva esse entusiasmo ao extremo, o venezuelano Ali Cañas.
Eles começaram a trabalhar
juntos em 1992, na seleção da
Venezuela, e conduzem o rival
do Brasil com conceitos heterodoxos, mais voltados para
uma escola de técnica e fantasia
do que para o futebol de resultados que grassa nesta Copa.
Um bom exemplo é o trabalho de preparação física de Gana. Segundo Dujkovic e Cañas,
trata-se de uma das principais
explicações para o sucesso da
sua equipe até agora. "Estamos
preparados para jogar mais de
uma partida inteira", assegura
o primeiro. "O nosso segredo é
usar a preparação física para
extrair o ponto esportivo, o auge técnico", afirma o segundo.
Não é nenhuma confissão
bombástica -muitos times dizem o mesmo-, a não ser por
uma peculiaridade: Gana não
tem preparador físico.
No Brasil há dois, Moraci
Sant'Anna e Paulo Paixão. Em
Gana, quem cuida disso são os
próprios Dujkovic e Cañas e
um terceiro técnico da comissão, o ganense Sellas Tetteh.
"Para sermos treinadores,
precisamos ter conhecimentos
de preparação física, uma visão
geral do jogo. Temos de trabalhar tudo integrado. Sabemos
que o que sobra de tudo é a técnica", observa Cañas.
O venezuelano considera
Garrincha o maior jogador do
futebol brasileiro. "Pelé foi um
fenômeno, mas mais esquemático. Garrincha é genial, fantasia pura, a melhor forma de expressão do futebol." É leitor do
uruguaio Eduardo Galeano, outro apologista do jogo bonito.
Dujkovic não conhece tanto
o futebol brasileiro, mas é fã de
Ronaldinho (em quem votou
para melhor do mundo) e do futebol aberto. Indagado pela Folha sobre qual o melhor time
que treinou, não hesitou em citar o lendário Estrela Vermelha campeão da Copa dos Campeões de 1991, com Prosinecki,
Mihajlovic, Savicevic e Pancev,
embora na época fosse auxiliar
de Ljubomir Petrovic, que o
ensinou o gosto pelo jogo vistoso e contribuiu para formar a
reputação dos iugoslavos como
"brasileiros da Europa".
Hoje Dujkovic lidera os "brasileiros da África". E se irrita
com a menção às faltas. Seu time cometeu 76 em três jogos,
recorde da primeira fase.
"Isso é estatística, não comento. Só digo que os Estrelas
Negras [apelido do seu time]
estão parando os adversários
sem jamais ter a intenção de
machucá-los. Esse é a diferença entre eles e jogadores de
muitas seleções desta Copa."
Dujkovic nega que o fato de
seu time usar muitos contra-ataques, recurso no qual é um
dos líderes da Copa, seja sinônimo de negação da fantasia
africana. Defende o contrário.
"Nosso estilo é livre, valoriza
o imprevisível, porque sei que,
assim como no Brasil, muitos
jogadores de Gana têm capacidade de decidir o jogo num lance de talento, num desses contra-ataques", afirma Dujkovic.
Questionado sobre seu papel
na evolução da equipe, o sérvio
é humilde: "Eles não precisam
de instruções sobre como fazer, só precisam de minha visão de fora, como treinador".
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