Eu desisto de ser coerente e insistir em fazer sempre a mesma avaliação

RONALDO TEVE bolhas, febre, enjôo e estava acima do peso. Há tempos vinha tendo desempenho insatisfatório -fosse um jogador "normal", talvez nem fosse convocado. Fez uma partida horrorosa na estréia do Brasil na Copa. Olhar perdido, vagava em campo sem parecer ameaçador -a ponto de Parreira substituí-lo, o que era quase tabu. Quem podia imaginar que se recuperaria outra vez?
Alguns insistiam, é verdade, que de Ronaldo sempre pode esperar tudo e pediam "mais respeito" pelo que já fez. Mas isso era mais fé no passado do que análise racional do presente -respeito não significa imunidade; Ronaldo pode ser criticado pelo que faz e deixa de fazer agora.
Contra o Japão, Ronaldo teve mais ímpeto, concentração e eficiência. Aí a crítica (profissional e amadora) deu um nó: para alguns, isso demonstrou que os que duvidaram de Ronaldo estavam errados.
"Viram como ele ainda é decisivo?"
Outros não se convenceram: "Todos quiseram tocar para ele, que ainda perdeu várias chances".
Os primeiros acham que ele não pode sair do time; os segundos, que qualquer atacante teria feito os gols que fez e também os que perdeu.
A turma que gostou de Ronaldo se dividiu: para uns, era só questão de tempo. Cedo ou tarde, o Fenômeno apareceria. Para outros (meu caso), a companhia foi decisiva. E ainda há os que dizem "contra o Japão, até eu"...
Eu não apostava mais em Ronaldo; Adriano, mesmo em fase mais ou menos, vinha melhor do que ele. Mas agora que mostrou que ainda pode ser forte e decisivo e justificar o temor dos adversários, eu tentaria com ele outra vez -Adriano pode entrar no seu lugar se for necessário.
Sem Robinho ao lado e sem a boa movimentação do meio-campo, Ronaldo pode jogar mal outra vez.
Pronto: uns vão dizer que ele nunca melhorou; outros, que só jogou bem quando era "baba"; outros ainda, que mesmo mal ele é o melhor.
Se ser coerente é insistir sempre na mesma avaliação, independentemente dos fatos, eu desisto.