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África negra se abraça por ganenses
Único representante do continente ainda na Copa do Mundo recebe apoio de políticos e de atletas de países vizinhos
Camaroneses Milla e Eto'o
irão ao estádio; Kofi Annan,
secretário-geral da ONU,
telefonou para astro do
time para parabenizá-lo
DO ENVIADO A DORTMUND
Cenário tão desejado quanto
infrutífero nas últimas décadas, a unidade dos países africanos em torno de um projeto comum para o continente parece
palpável nos dias da Copa.
Numa região devastada por
guerras, rivalidades regionais e
brigas entre vizinhos, o futebol
mais uma vez se apresenta como instrumento conciliador.
Pode até soar como demagogia,
mas a África negra se mostra
abraçada para torcer por Gana.
São aguardados hoje no estádio de Dortmund craques e ex-craques do continente, numa
repetição do que ocorreu antes
da vitória de Gana sobre os
EUA, que definiu a classificação do time às oitavas-de-final.
Naquele dia os camaroneses
Roger Milla e Eto'o, aquele a
maior estrela do futebol africano nos anos 1990, este um dos
destaques de hoje, fizeram discursos de apoio aos colegas.
Juntaram-se a ex-craques de
Gana, como Abedi Pele.
A festa africana para Gana
começara já na convincente vitória sobre a República Tcheca,
mas a euforia cresceu com os 2
a 1 sobre os EUA, muito pela
classificação, claro, mas parte
também pela impopularidade
que o adversário possui em boa
parte do continente.
"Recebemos ligações de Senegal, do Togo, da Nigéria, de
Camarões. Nessa hora não somos rivais, isso é a força do futebol. E saber que estamos representando toda a África é
nossa maior motivação", afirmou o meia e capitão Appiah,
repetindo um discurso que se
tornou banal nos últimos dias.
A presidente da Libéria,
Ellen Sirleaf-Johnson, mandou
uma mensagem aos Estrelas
Negras e disse que iria tirar folga hoje para torcer por Gana.
Um dos africanos mais influentes, o ganense Kofi Annan,
secretário-geral da ONU, telefonou para Appiah para parabenizá-lo. Telegramas de políticos da região têm sido encaminhados ao presidente de Gana, John Kufuor, que enviou o
seu ministro de Educação, Esportes e Ciência, Owusu Ankomah, para acompanhar o time.
"Para um país africano, participar de uma Copa do Mundo é
um acontecimento raro. Apesar disso, nenhum de nós tem
ido muito longe. Quando isso
acontece, eles vêm aquele time
representar todo o continente", afirmou Ankomah à Folha.
"Sim, há muitas rivalidades e
problemas. Mas, quando o assunto é esporte, isso tudo some", acrescentou o político.
Um dos sinais disso é o fato
de que Togo, um vizinho com
quem os ganenses já travaram
escaramuças, tem demonstrado apoio à "causa" de Gana.
Appiah contou que, entre os
jogadores que lhe telefonaram
para prestar apoio estavam os
togoleses Adebayor e Kader,
cuja seleção caiu na primeira
fase do Mundial. Didier Drogba, astro da também eliminada
Costa do Marfim, fez o mesmo,
segundo o capitão de Gana.
Nascido em Acra, capital de
Gana, o ex-zagueiro Desailly,
que defendeu a França nas Copas de 1998 e 2002, também
prometeu ir a Dortmund hoje
torcer pelos Estrelas Negras.
Entre os jornalistas do continente que acompanham a seleção de Gana na Alemanha, impera um espírito de torcida.
O clima de solidariedade é
semelhante ao que se viu na
Copa da Ásia-2002, quando Senegal surpreendeu o mundo ao
derrotar a Suécia nas oitavas-de-final e avançar às quartas
-seria eliminado pela Turquia.
Mas é importante ressaltar
que o apoio está localizado na
África negra subsaariana, não
encontrando a mesma abrangência no norte do continente,
do qual é separado por uma espécie de fronteira cultural invisível.
(FÁBIO VICTOR)
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