São Paulo, segunda, 27 de julho de 1998

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Cruzamentos de Arce desenham a vitória

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

O São Paulo, veloz e incisivo. O Palmeiras, sólido e envolvente. E, no exato ponto de equilíbrio dessas diferenças, a bola rolou ontem, no Pacaembu, redondinha, num clássico emocionante e tecnicamente muito bem executado.
Tanto, que merecia um placar bem mais generoso do que os finais 2 a 1 para o Palmeiras. A bem da verdade, no jogo das chances perdidas, foi o tricolor o grande vencedor, pois teve nos pés de seus atacantes, pelo menos, uns quatro gols feitos, em situações claras. Isso, sem contar o disparo de Fabiano, que venceu Velloso e se chocou com a trave.
Mesmo porque se, no primeiro tempo, houve uma alternância de controle do jogo entre as duas equipes, no segundo o São Paulo foi sempre melhor. Sobretudo, no instante em que tomou os dois gols em sequência. O primeiro foi resultado direto da força maior desse Palmeiras de Felipão: os lançamentos -e aqui quero enfatizar como lançamentos, ou passes longos, os cruzamentos desse admirável lateral-direito paraguaio Arce.
Aliás, quase todas as jogadas perigosas do Palmeiras tiveram como base o desenho do primeiro gol de Oséas -Arce, lá da direita, mete a bola na cabeça de Oséas, de Paulo Nunes, de Roque Júnior, enfim, de quem estiver na área, na hora.
Já o segundo foi fruto de um equívoco do técnico Nelsinho, que, num átimo antes, promovera duas substituições: se a entrada de Marcelinho revelou-se certa, a saída de Zé Carlos abriu o espaço por onde o Palmeiras chegaria ao segundo gol, o decisivo.

O gol de Marcelinho, visto de trás da meta de Caetano, me fez lembrar de um lance memorável, protagonizado por outro emérito cobrador de faltas e um goleiraço histórico, respectivamente Nelinho e Manga. Foi na final do Brasileiro de 75, Cruzeiro e Inter: o torpedo, disparado por Nelinho ganhou uma curva a mais do que o de Marcelinho no jogo de sábado -foi, veio, foi de novo para voltar. Também colhido pela câmera atrás do gol, esculpiu no ar o ataque rápido e imprevisível de uma serpente. A diferença foi que o velho e manhoso Manga fingiu que foi, mas não foi por duas vezes, e a bola acabou aninhando-se em seu peito.
Anteontem, ela morreu nas redes de Caetano, que foi e não voltou.

Vasco e Corinthians abriram o Brasileirão com chave de ouro. Depois de um primeiro tempo a meio vapor, um final lancinante. O Vasco tinha o domínio dos espaços e da bola, até o magistral gol de falta de Marcelinho. Ou melhor: até que Luxemburgo corrigisse o posicionamento de seu meio-campo e ataque, com a inversão de lado de Vampeta e Marcelinho, quando, então, o Corinthians passou a contragolpear com extremo perigo.
Mas quem garantiu mesmo a vitória corintiana foi uma dupla de ases: o goleiro Nei (como é bom esse menino!) e esse incomparável Gamarra,seguramente o melhor beque do mundo na atualidade.
É impressionante o senso de colocação na área e do tempo da bola desse paraguaio magnífico. Isso tudo somado a uma elasticidade incompatível com a posição que ocupa.


Alberto Helena Jr. escreve às segundas, quartas e domingos



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