São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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Promotor vê indícios de crimes na gestão Farah e leva o caso à polícia

Pedida a abertura de inquérito contra FPF

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público do Estado de São Paulo pediu à Polícia Civil abertura de inquérito para investigar a existência de crimes na gestão de Eduardo José Farah à frente da Federação Paulista de Futebol.
É o primeiro ato efetivo do Judiciário contra o presidente da FPF e da Liga Rio-São Paulo desde o fim da CPI do Futebol, que funcionou entre outubro de 2000 e dezembro do ano passado.
O pedido, feito pelo promotor da Justiça Criminal Luiz Roberto Faggioni, foi protocolado na última quinta-feira na Delegacia de Polícia Judiciária (Decap) e deve ser distribuído hoje para um dos delegados seccionais da capital.
À Folha, o promotor disse ver sinais da ocorrência de crimes na federação de futebol mais poderosa do país. "Há indícios da prática de fatos criminosos e de irregularidades", afirmou.
Para justificar seu pedido, Faggioni tomou como base as conclusões do relatório final do senador Geraldo Althoff (PFL-SC), que pediu ao Ministério Público Federal o indiciamento de Farah por apropriação indébita, lavagem de dinheiro, perjúrio e crime contra o sistema financeiro, entre outras coisas.
Essa é a medida judicial mais abrangente contra a entidade mais poderosa do país.
Nos 14 anos que presidiu a FPF, Farah viu seu nome envolvido em escândalos, mas sempre negou participação em atos ilícitos.
Um dos casos que serão investigados pela polícia foi revelado pela Folha em janeiro de 2001.
Documentos obtidos pela reportagem mostraram que a FPF manteve no exterior por dois anos US$ 1,2 milhão, dinheiro referente à venda do polonês Piekarski para o Bastia, da França.
Outros US$ 600 mil, que completavam o valor da transferência, jamais entraram na conta da entidade. Segundo a CPI, há a "possibilidade de desvio da última parcela da venda do passe".
Além do caso Piekarski, a polícia deve investigar a suposta prática de crime de apropriação indébita por parte de Farah, que teria desviado cerca de R$ 194 mil da conta da entidade para a sua pessoal para cobrir despesas judiciais. Em depoimento no Senado, no ano passado, o dirigente alegou que o depósito foi aprovado pela Assembléia Geral de Clubes da FPF, porém não entregou a ata de tal reunião, conforme pedido dos congressistas.
O relatório da CPI, inicialmente entregue ao Ministério Público Federal, foi encaminhado há duas semanas ao Ministério Público do Estado de São Paulo para a averiguação dos crimes supostamente cometidos na gestão Farah.
No documento enviado à Polícia Judiciária, o promotor requereu investigação sobre todos os departamentos da FPF, não especificamente apenas contra seu presidente e representante legal.
"Mandei ao Decap as peças de informação [da CPI", solicitando análise. Não quero tipificar crime ou pedir o depoimento de ninguém em especial porque essa é uma prerrogativa do delegado. Se fizesse isso, estaria invadindo sua área de atuação", justificou.
O pedido protocolado pelo promotor já está na fila para despacho de Gerson de Carvalho, diretor do Decap, o que deve acontecer entre hoje e amanhã.
A partir do visto do delegado, será designada uma das oito seccionais da Decap para comandar as investigações. O delegado que cuidará do caso terá autonomia para pedir depoimentos -nesse caso, é certo que Farah será chamado, bem como seu vice financeiro, Reynaldo Carneiro Bastos.
Se a Polícia Judiciária entender que precisa quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico dos envolvidos para colher mais provas incriminatórias, terá que requerê-las a um juiz de direito.
O delegado tem, em princípio, 30 dias para finalizar as investigações sobre o caso e remeter o inquérito concluído para o Ministério Público Estadual. Mas o próprio Faggioni acredita que, "pela complexidade do caso", a autoridade policial irá requerer prolongamento do prazo.



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