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Invasão de vestiário estremece Lusa
Ameaçados no vestiário por conselheiros e seguranças armados, jogadores podem pedir rescisão imediata de contratos
Técnico René Simões pede demissão, Edno afirma que não defende mais o clube e presidente Manuel da Lupa diz que "a pressão é normal"
MARTÍN FERNANDEZ
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A invasão do vestiário da Portuguesa por dois conselheiros
do clube e dois seguranças armados chocou o futebol e detonou crise imediata na equipe.
O técnico René Simões, contratado havia duas semanas,
pediu demissão por medo de
continuar no cargo -foi substituído por Vágner Benazzi.
Edno, destaque do time, avisou que não quer mais defender o clube. O estádio deve ser
interditado e os atletas podem
pedir rescisão imediata dos
contratos, segundo advogados
consultados pela reportagem.
Anteontem à noite, a Portuguesa perdeu para o Vila Nova
por 2 a 1, no Canindé, em jogo
do Brasileiro da Série B.
Após a partida, os conselheiros Antônio José Vaz Pinto, 46,
e Vitor Manuel Macedo Diniz,
25, invadiram o vestiário.
Estavam acompanhados de
dois seguranças armados, que a
direção da Portuguesa identificou como policiais militares.
Segundo os relatos de Edno e
René Simões, Vaz Pinto xingou
os jogadores. "Em nenhum momento sacaram os revólveres",
disse Edno. "Mas ficaram o
tempo todo com as mãos na
cintura, segurando o cabo das
armas, deixando claro que estavam ali para ameaçar."
Os conselheiros não quiseram conceder entrevista.
O advogado da Portuguesa,
Valdir Rocha da Silva, registrou
boletim de ocorrência no 12º
Distrito Policial, no bairro do
Pari. O documento, assinado
pelo delegado Wilson Roberto
Zampieri, traz contradições.
Primeiro fala em "dois seguranças, provavelmente armados pela função". Depois indica
que "inexistiram ameaças ou
ostentação de armas". E termina dizendo que "os conselheiros ingressaram, conversaram
e saíram pacificamente".
O presidente da Lusa, Manuel da Lupa, também caiu em
contradição várias vezes em
entrevista coletiva, ontem.
"Nós não vimos ninguém armado, ninguém indo para as
vias de fato", disse o cartola.
"Isso é conversa, esse negócio
de arma é para fazer folclore."
Em seguida, o dirigente classificou o ocorrido de "absurdo"
e disse que proibiria a entrada
de conselheiros nos vestiários.
"Eles entraram como qualquer um identificado poderia
ter entrado. O que está errado é
o cara andar com segurança
dentro do clube", disse Da Lupa. "Vou passar o caso para o
Conselho Deliberativo. O clube
não vai acobertar ninguém."
O presidente da Portuguesa
admitiu que o time "está com
medo" de jogar no Canindé,
mas descartou atuar voluntariamente em um outro estádio.
"Jogador tem que saber lidar
com a pressão. E a cidade de
São Paulo é assim mesmo."
Tal situação permite aos atletas que peçam na Justiça o fim
de seus contratos. "Não seria
uma causa simples, mas os jogadores poderiam pleitear isso,
sim", diz Edson Sesma, advogado especialista em direito desportivo. "Se o trabalhador foi
ameaçado, e me parece ter sido
o caso, ele pode pedir a rescisão
do contrato", afirma o advogado trabalhista Marco Aurélio
Guimarães Pereira. "Justa causa vale para os dois lados."
O primeiro a deixar o clube
deve ser Edno, mas sem briga
na Justiça. "Só hoje [ontem] recebi ligações de sete clubes",
disse Hugo Garcia, agente do
meia. "Se ele não for para a Espanha, já há acerto com um time de São Paulo." Manuel da
Lupa acredita que pode convencer Edno a seguir na Lusa.
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