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BASQUETE
Arroz à grega
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Dezoito anos atrás, o armador Panagiotis Yannakis
espantou o mundo ao conduzir a
desacreditada seleção da Grécia a
seu primeiro título europeu.
A confederação nacional não
hesitou em recompensá-lo. Sabia
que a bagagem e a popularidade
do ídolo seriam úteis para o desenvolvimento do esporte.
Domingo, Yannakis retribuiu o
reconhecimento. Repetiu a façanha como treinador da seleção.
Também 18 anos atrás, os alas
Oscar e Marcel maravilharam o
basquete ao comandar os brasileiros ao ouro no Pan, impondo a
primeira derrota dos norte-americanos em seus domínios.
Os cartolas daqui, porém, não
só não quiseram capitalizar o
triunfo como deliberadamente se
distanciaram das duas estrelas.
Domingo, o brilhante ontem-técnico-e-hoje-médico-no-exílio
Marcel escreveu em seu site que "é
difícil acordar pela manhã e ver
aquilo [basquete] em que acreditamos ir pelo ralo precocemente".
Domingo, o ontem-cestinha-e-hoje-dirigente-de-clube Oscar
dormiu agoniado com o futuro
da Nossa Liga, projeto de emancipação há muito tempo acalentado pelos basqueteiros e que, nas
últimas semanas, tantos os torpedos disparados pela confederação
brasileira, começou a fazer água.
Assim como havia ocorrido no
Mundial-2002, Dirk Nowitzki
acabou eleito o craque do Europeu. Ante a forte marcação da
Grécia, porém, o alemão encaixou apenas uma de oito tentativas de três pontos. O ala-pivô, vale lembrar, é um dos gatilhos mais
certeiros da NBA e tem 2,13 m.
Alguém ainda acha que Leandrinho, que tem "somente" 1,91
m, conseguirá reeditar no Mundial-2006, contra defesas atléticas
como a grega, uma seqüência
mágica de arremessos de longa
distância como a que salvou a seleção contra o time B argentino?
Na campanha da Copa América, o Brasil precisou de 39,9% de
acerto e de dez cestas de três por
partida. O aproveitamento das 16
equipes européias? Parou em
32,7%. Só duas tiveram volume
de chutes similar ao brasileiro:
Bulgária e Letônia. Ambas tombaram logo na primeira fase.
A planilha de trabalho montada
por Lula Ferreira prevê 110 posses
de bola por jogo para a seleção
-e estipula uma meta de 20
oportunidades de contra-ataques.
A média de "touches" dos europeus, cada vez mais cautelosos e
resguardados, foi de 80. Houve
menos de dez transições rápidas.
As defesas européias sepultaram
o "drive and kick". Estão mais altas, velozes e perspicazes. Não se
iludem mais com dribles de meia
tigela -e as rotações foram aperfeiçoadas para agir quando o driblador é bom. Cada pontinho teve
de ser brigado no mano a mano.
Não à toa, o número de assistências por equipe ficou em magros 11,5. Na Copa América, o
Brasil cravou 17! Nosso Marcelinho, que nem armador legítimo é,
saiu dos ginásios dominicanos
com média de 5,6. No Europeu,
ninguém registrou mais de 5.
My big fat Greek...
Gerasime Bozikis, o distinto mas inoperante presidente da confederação brasileira há quase uma década, nasceu na Grécia. Neste ano,
cometeu o desaforo de afirmar que "não devemos nada em termos
de organização nem em parte técnica aos gregos". (Os caras vinham
de uma prata no Mundial sub-21 e de um bronze no sub-19, competições para as quais o Brasil nem mesmo havia se classificado...) Apesar disso, este espaço não dará abrigo às piadas e queixas xenófobas
que se multiplicaram pela internet após o encerramento do Europeu
adulto. Na origem do problema, amigos, estamos nós, brasileiros.
...wedding
Todo basqueteiro estudioso e/ou preocupado com a seleção deve um
brinde à ESPN Brasil pelas valiosas transmissões do Euro-2005.
melk.blog.uol.com.br
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