São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2005

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BASQUETE

Arroz à grega

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Dezoito anos atrás, o armador Panagiotis Yannakis espantou o mundo ao conduzir a desacreditada seleção da Grécia a seu primeiro título europeu.
A confederação nacional não hesitou em recompensá-lo. Sabia que a bagagem e a popularidade do ídolo seriam úteis para o desenvolvimento do esporte.
Domingo, Yannakis retribuiu o reconhecimento. Repetiu a façanha como treinador da seleção.
Também 18 anos atrás, os alas Oscar e Marcel maravilharam o basquete ao comandar os brasileiros ao ouro no Pan, impondo a primeira derrota dos norte-americanos em seus domínios.
Os cartolas daqui, porém, não só não quiseram capitalizar o triunfo como deliberadamente se distanciaram das duas estrelas.
Domingo, o brilhante ontem-técnico-e-hoje-médico-no-exílio Marcel escreveu em seu site que "é difícil acordar pela manhã e ver aquilo [basquete] em que acreditamos ir pelo ralo precocemente".
Domingo, o ontem-cestinha-e-hoje-dirigente-de-clube Oscar dormiu agoniado com o futuro da Nossa Liga, projeto de emancipação há muito tempo acalentado pelos basqueteiros e que, nas últimas semanas, tantos os torpedos disparados pela confederação brasileira, começou a fazer água.
 
Assim como havia ocorrido no Mundial-2002, Dirk Nowitzki acabou eleito o craque do Europeu. Ante a forte marcação da Grécia, porém, o alemão encaixou apenas uma de oito tentativas de três pontos. O ala-pivô, vale lembrar, é um dos gatilhos mais certeiros da NBA e tem 2,13 m.
Alguém ainda acha que Leandrinho, que tem "somente" 1,91 m, conseguirá reeditar no Mundial-2006, contra defesas atléticas como a grega, uma seqüência mágica de arremessos de longa distância como a que salvou a seleção contra o time B argentino?
Na campanha da Copa América, o Brasil precisou de 39,9% de acerto e de dez cestas de três por partida. O aproveitamento das 16 equipes européias? Parou em 32,7%. Só duas tiveram volume de chutes similar ao brasileiro: Bulgária e Letônia. Ambas tombaram logo na primeira fase.
 
A planilha de trabalho montada por Lula Ferreira prevê 110 posses de bola por jogo para a seleção -e estipula uma meta de 20 oportunidades de contra-ataques.
A média de "touches" dos europeus, cada vez mais cautelosos e resguardados, foi de 80. Houve menos de dez transições rápidas.
 
As defesas européias sepultaram o "drive and kick". Estão mais altas, velozes e perspicazes. Não se iludem mais com dribles de meia tigela -e as rotações foram aperfeiçoadas para agir quando o driblador é bom. Cada pontinho teve de ser brigado no mano a mano.
Não à toa, o número de assistências por equipe ficou em magros 11,5. Na Copa América, o Brasil cravou 17! Nosso Marcelinho, que nem armador legítimo é, saiu dos ginásios dominicanos com média de 5,6. No Europeu, ninguém registrou mais de 5.

My big fat Greek...
Gerasime Bozikis, o distinto mas inoperante presidente da confederação brasileira há quase uma década, nasceu na Grécia. Neste ano, cometeu o desaforo de afirmar que "não devemos nada em termos de organização nem em parte técnica aos gregos". (Os caras vinham de uma prata no Mundial sub-21 e de um bronze no sub-19, competições para as quais o Brasil nem mesmo havia se classificado...) Apesar disso, este espaço não dará abrigo às piadas e queixas xenófobas que se multiplicaram pela internet após o encerramento do Europeu adulto. Na origem do problema, amigos, estamos nós, brasileiros.

...wedding
Todo basqueteiro estudioso e/ou preocupado com a seleção deve um brinde à ESPN Brasil pelas valiosas transmissões do Euro-2005.

melk.blog.uol.com.br


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