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FUTEBOL
Eu me sinto uma idiota
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
De repente, tornou-se
(mais) ridícula a discussão
em torno do que Edilson de Carvalho teria dito a Sebá: "gringo de
m...", "vai se f..." ou "vai jogar,
porra" (versões apresentadas à
imprensa). Não, o estádio não é
um convento e eu não sou propriamente uma moça recatada,
mas fico espantada com a tranqüilidade com que os advogados
debatem as frases acima. E acho
que o árbitro não deveria se dirigir aos jogadores com nenhuma
delas. E o código disciplinar também acha, tanto que prevê 60 dias
de gancho por "ofensa moral".
Ora, as ofensas e a moral... O
que dizer agora, diante das arbitragens vendidas? Me sinto idiota
por citar a falibilidade humana,
por achar que os erros eram "só"
questão de ruindade, ou por invocar o princípio segundo o qual todos são inocentes até prova em
contrário (do qual não pretendo
abrir mão, apesar da raiva).
O alcance do estrago causado
pelo juiz corrupto e seus corruptores é difícil de ser medido. Em
campo, jogadores e técnicos são
meros fantoches, manipulados
sem saber pelos roteiristas de uma
ficção. Treinam, se esforçam, quebram a cabeça para resolver seus
problemas no jogo, tudo em vão.
Chegam em casa abatidos; às vezes, ficam fora do jogo seguinte
-são expulsos como parte do
acordo. Os torcedores saem felizes
à toa- ou arrasados, agüentando uma semana de gozações por
uma (falsa) derrota humilhante.
A imprensa esportiva comenta
a farsa como se fosse verdade
-analisa o desempenho individual, a tática adotada, as estatísticas do jogo, e até registra que o
juiz foi muito mal. Sem jamais
imaginar que sair escoltado de
campo -por prejudicar acintosamente o mandante- era uma
promessa, não uma fatalidade.
Edílson tinha uma propensão à
fraude, como se viu no caso do diploma falso de ensino médio. Que
não foi suficiente para criar entraves à sua ascensão na carreira.
Enquanto isso, juízes honestos penam nas terceiras divisões, sem
ver chances de chegar à elite.
Como evitar que coisas assim
aconteçam? Como no governo e
nos partidos, não se pode pretender que todos os indivíduos sejam
honestos; é preciso criar e aperfeiçoar continuamente mecanismos
de controle. Joseph Blatter acredita que pagar muito bem aos árbitros resolveria. Duvido. Há exemplos históricos nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (aqui
e no mundo) de que a ambição
humana não tem limites. Há
quem faça qualquer coisa por dinheiro, mesmo já tendo muito
-como os covardes apostadores
que "contrataram" os juízes.
O que fazer agora? Como na política, não se pode culpar a todos
indiscriminadamente, nem ignorar as regras ou desistir das instituições. É preciso investigar com
seriedade e punir com correção.
Oportunistas hão de querer a revisão até da Copa-50, mas calma.
O que tiver de ser anulado, alterado, refeito, que seja, embora nada
possa corrigir completamente o
passado. E que este seja um momento de aperfeiçoamento do futebol brasileiro, não pretexto para
uma nova onda de avacalhação.
Parabéns 1
Ao Gaeco, pelo bom trabalho. E
aos sites de apostas clandestinos, que foram mais espertos
que a gente e já não aceitavam
apostas em jogos do Edilson
(perdoem a ironia, não resisti).
Parabéns 2
Ao Edmundo, que, segundo o
juiz, "jogou muito" contra o Figueirense e não deu espaço para que se manipulasse o resultado. É o futebol a nos redimir e
proteger da picaretagem.
Parabéns 3
Ao Tevez, pelos gols (não dá
para acreditar que Marcio Braga caiu na bobagem do "Não o
conheço") e por dizer exatamente o que pensa sobre a saída do Marcio ("Por que crise?
Estamos a 3 pontos do líder. A
pressão não é justa.").
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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