|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BOXE
Depoimento de um ex-toxicômano
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
""Por que fiz isso? Porque
sou humano, tenho sentimentos como todo mundo", respondeu o tricampeão mundial de
boxe Alexis Arguello, quando o
questionei sobre o fato de ele recentemente ter se envolvido com
as drogas.
Diversos pugilistas que usam
drogas costumam aparecer em
manchetes policiais. Mas em entrevista à revista ""The Ring" (a
mais tradicional do gênero), há
alguns anos, o promotor de lutas
Bob Arum afirmou que metade
dos nomes da elite do pugilismo
seria usuária de drogas.
Os casos são inúmeros, e todos
os promotores já perderam boxeadores por causa disso.
Os norte-americanos ex-campeões mundiais e medalhistas
olímpicos Pernell Whitaker
(Main Events, do treinador Lou
Duva) e Kennedy McKinney (Top
Rank, de Arum), por exemplo,
chegaram a ser internados por
causa de cocaína. O problema encurtou também a carreira de alguns pesos-pesados de Don King,
como Mitch "Blood" Green (que
aguentou dez assaltos com Mike
Tyson) e os ex-campeões Tony
Tucker, Greg Page e Oliver
McCall, entre outros.
Mesmo com tantos exemplos,
alguns casos ainda são capazes de
nos pegar desprevenidos e chocar,
como certamente é o do nicaraguense Arguello, um membro do
Hall da Fama do boxe e um símbolo de classe dentro e fora dos
ringues, que foi adotado como
um dos embaixadores do boxe
após a sua aposentadoria.
Que tipo de frustração faria alguém que, ao menos aparentemente, tem tudo ser seduzido pelas drogas? Principalmente quando se trata de Arguello, que conquistou tanto (títulos entre os penas, superpenas e leves, além de
um currículo de 19 vitórias e 3
derrotas em lutas válidas por título), um ídolo nacional, um empresário cuja situação financeira
é bastante estável.
"Como atleta, segui uma vida
de honestidade, sempre procurei
fazer as coisas da maneira correta. E nunca havia percebido como
a sociedade é injusta", disse Arguello, nesta semana, durante a
convenção do Conselho Mundial
de Boxe, no México.
Ele citou seu inconformismo
com o fato de os políticos terem
desviado milhões doados pelos
EUA para ajudar a população da
Nicarágua. ""Me perguntava como puderam fazer algo desse tipo,
aquilo me perturbava."
Arguello passou a beber, um hábito logo substituído pela cocaína
e pelo crack. Pensou em suicídio e
começou a vender os bens para
manter seus vícios.
Até que duas conversas mudaram sua vida. A primeira foi
quando um amigo lembrou-o de
que ""não se pode mudar o mundo
sem antes mudar a si mesmo".
A segunda conversa ocorreu em
seu íntimo. ""Aos 15 anos, pedi a
Deus para ser o primeiro campeão mundial da Nicarágua. Fui
tão abençoado que ele permitiu
que atingisse essa honra três vezes. Depois, Deus me perguntava:
"E você, Alexis, o que tem feito por
mim?" Percebi que não fazia nada. Antes teria sucumbido, mas
Deus permitiu que meu pior inimigo me atingisse agora porque,
recuperado, posso aconselhar os
jovens. E mostrar que, a exemplo
de quando era campeão, ainda
tenho poder de reação."
Nos ringues
Acelino Freitas, o Popó, ganhou um motivo para estar
confiante caso consiga garantir uma unificação com o
campeão dos superpenas pelo CMB, Floyd Mayweather.
É que o norte-americano sofreu para derrotar o ordinário Emanuel Burton, em nove
assaltos, no sábado. A luta foi
disputada entre os leves, o
que pode significar que Mayweather subirá de categoria.
Fora dos ringues
A convenção do CMB registrou duas gafes antipedagógicas. Primeiro, uma dramatização em vídeo mostrou um
garoto, sem protetor de cabeça, treinando com sparring
em seu primeiro dia na academia (algo condenado por
qualquer treinador sério).
Em seguida, foi distribuído
um brinquedo em que dois
boxeadores trocavam cabeçadas quando se acionava
um botão.
E-mail eohata@folhasp.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata
Texto Anterior: Preferido de Culpi voltará ao São Paulo Próximo Texto: Basquete: Enfraquecido, Paulista faz aposta em estrangeiras Índice
|