São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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JOSÉ GERALDO COUTO

Professor por uma noite


O técnico Romário encerra um paradoxo: ele sempre mandou no time, mas nunca levou o treinamento a sério

O FATO mais espetacular da semana foi a dupla atuação de Romário, como técnico e jogador, na insuficiente vitória do Vasco sobre o América do México.
Não é a primeira vez que um mesmo profissional acumula as funções de treinador e atleta, mas, por con- ta das circunstâncias -e por se tratar de Romário-, o evento causou sensação.
Mesmo descontando o costumeiro carnaval da TV Globo, que colocou uma câmera exclusiva para captar os mínimos gestos de Romário e a todo momento exaltava seus supostos acertos como técnico, foi mesmo uma noite interessante.
Em primeiro lugar, porque o jogo foi eletrizante: poucas vezes se viu um time perder tantos gols quanto o Vasco contra o América. Não bastasse a atuação brilhante do goleiro Ochoa, a trave e os zagueiros salvaram diversas vezes o time mexicano de uma goleada.
Mas o assunto é Romário. Há um certo paradoxo em vê-lo na condição de treinador. Por um lado, ele sempre extrapolou sua condição de jogador, dando palpites, escalando o time, derrubando técnicos.
Desse ponto de vista, oficializar- se como técnico parece um passo natural.
Por outro lado, Romário sempre representou o contrário da disciplina, do treinamento, do espírito de equipe. Até o "Herald Tribune" ironizou essa troca de lado no balcão, questionando se o Romário treinador teria moral para exigir de seus comandados uma renúncia e uma dedicação que o Romário atleta jamais praticou.
Seja como for, o fato é que o elenco do Vasco há muito tempo não se empenhava em campo como no jogo de quarta-feira. Seria apenas a necessidade de tirar a vantagem do adversário numa competição importante? Ou teriam os jogadores, nas partidas anteriores, feito corpo mole para derrubar Celso Roth?
Tudo isso pode ser verdade, mas a presença de Romário no banco -com o respaldo do poderoso chefão Eurico Miranda e da massa vascaína- talvez tenha servido como uma motivação a mais.
Pouco importa que Romário não tenha jogado bem. (Teve duas chances: numa delas cabeceou mal, em outra deu um chute que, se não desviasse num adversário, iria para fora.)
As imagens que vão ficar para o futuro, e que contribuirão para a constituição de sua já alentada legenda, serão as do momento em que, despindo-se aos poucos do agasalho de treinador, ele foi se transformando de novo no artilheiro Romário, como o herói que despe suas roupas de Clark Kent para virar o Super-Homem. Romário já não é o super-herói de outros tempos, mas seu mito não pára de crescer.

O rei do empate
A situação do Corinthians é crítica. A seis rodadas do final do campeonato, está três pontos atrás do Goiás e cinco atrás de uma porção de outros clubes. Só que tem três vitórias a menos que cada um deles. Perdeu menos jogos do que todos eles, mas, em compensação, empatou 11 vezes (só o Fluminense tem mais empates). É esse acúmulo de empates que o empurra em direção ao abismo da Série B.

jgcouto@uol.com.br


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