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FUTEBOL
Clube teria sonegado imposto
Versão da
Lusa sugere
crime fiscal
da Reportagem Local
As explicações dadas pelo presidente da Lusa, Manoel Gonçalves
Pacheco, sobre como foi feito o negócio comprometem a situação do
clube junto à Receita Federal.
Se aceita a explicação de Manoel
Pacheco, de que o valor bruto da
operação foi de US$ 8,1 milhões, a
venda do passe de Zé Roberto lesou a União em no mínimo R$ 550
mil (US$ 500 mil), por sonegação
do Imposto de Renda.
Isso acontece, em primeiro lugar, porque a Lusa não registrou a
entrada de US$ 2 milhões no país,
que correspondem aos 15% que
couberam a Zé Roberto (US$ 1,2
milhão) mais a taxa de corretagem
de Juan Figer (US$ 800 mil).
O ex-presidente da Lusa Raul
Rodrigues, membro de uma comissão interna do clube que investigou o contrato, disse que Pacheco não mostrou recibos desses valores. A não-escrituração desses
US$ 2 milhões é crime fiscal.
O recebimento pelo jogador dos
15% é previsto em lei.
Nesse pagamento, já caberia ao
clube ter recolhido US$ 500 mil à
Receita, ou seja os 25% de Imposto
de Renda sobre o valor pago a Zé
Roberto e Figer.
Como termo de comparação, segundo a Folha apurou, a Parmalat,
por exemplo, já desconta na fonte
esse percentual dos serviços pagos
aos empresários.
A declaração de Pacheco de que o
US$ 1,5 milhão que está no contrato de Rodrigo faz parte do valor
pago pelo lateral não melhora sua
situação.
Por um lado, se ele ajuda a compor os US$ 8,1 milhões, defendidos
por ele como o valor bruto do negócio, por outro, aumenta o dinheiro gasto pelo Real na operação
de US$ 9,98 milhões para US$
11,48 milhões.
Assim, o dinheiro a descoberto, a
diferença entre o que o Real gastou
e o que a Lusa ganhou, bruto, não
cai para menos de US$ 3,38 milhões.
E ainda, por cima, pode gerar
uma crise política no clube espanhol, por causa do valor pago por
Sanz.
O Real Madrid atravessa crise financeira. Por isso, quase não fez
contratações nesta temporada.
Ademais, o clube espanhol já está
atrasado no pagamento de uma
prestação da compra do lateral
brasileiro.
Zé Roberto, falando à Folha, pelo telefone, negou que tenha recebido dinheiro da Lusa. "É o Real
Madrid a quem cabe pagar os 15%,
o que aliás ainda não aconteceu."
Nem o empresário Juan Figer sabe
explicar a diferença do dinheiro.
Apoiando-se nas contas de US$ 8,1
milhões usadas por Pacheco, ele
diz que a diferença de US$ 1,88 milhão "foi um acerto entre o Real
Madrid e o Central Espãnol".
Segundo Figer, o Central faz
muito negócio com o Real.
Ele negou contudo que seja a
pessoa que o controle. "Os donos
são meus amigos, só isso. Não controlo nenhum clube." Mas nenhum dos jogadores de nome que
Figer registrou no clube, como o
brasileiro Ricardo Rocha, jogou lá.
A declaração de Figer tem um
efeito, jogar mais uma suspeita
contra Lorenzo Sanz: o "acerto"
com o clube uruguaio.
A Folha procurou o presidente
do Real Madrid desde segunda-feira, mas não conseguiu localizá-lo.
Ligou para o clube, para seu escritório em Madri e até para um hotel
em Oslo, Noruega, onde ele e sua
equipe estão para o jogo desta noite contra o Rosenborg.
História
A venda de Zé Roberto para o
Real Madrid foi uma das mais conturbadas da história do futebol
brasileiro. No meio de janeiro deste ano, a Lusa, empolgada com a
recente conquista do vice-campeonato brasileiro, acertou contrato de parceria com a multinacional Cragnotti & Partners, que
controla a Lazio, da Itália. No contrato, a cláusula central era a venda
de Zé Roberto para a Lazio.
No dia seguinte, o Real Madrid
anunciou que tinha um pré-contrato assinado pelo jogador. Pacheco tentou negar a eficácia do
contrato, mas recuou.
Isso levou a Cragnotti a desistir
do acordo com a Lusa.
Em fevereiro, Pacheco assinou
com o Real e até pagou comissão a
Figer, a quem acusara de aliciar o
jogador.
(MARCELO DAMATO)
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