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ATLETISMO
Brasileira trava duelo inédito no tribunal por prêmio dado a queniana e acirra rivalidade para corrida do dia 31
Justiça esquenta disputa por ouro na SS
ADALBERTO LEISTER FILHO
TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O duelo Brasil x Quênia nas provas de rua, que tem sido o principal atrativo da São Silvestre, agora
é travado também nos tribunais.
Superada pela queniana Deborah Mengich, vencedora da Corrida de Reis de Cuiabá, em janeiro
de 2004, a brasileira Fabiana Cristine da Silva, segunda colocada,
foi à Justiça para reaver o prêmio
dado à adversária: um carro 0 km.
A Folha teve acesso à ação que a
corredora move contra os organizadores da prova. Sua defesa alega
que o visto da queniana era o de
turista. Segundo a legislação brasileira, um atleta nessa situação
não pode receber prêmios em dinheiro. Na avaliação dos advogados, o carro também se enquadraria nessa definição.
Outro argumento é o de que a
organização da Corrida de Reis
bancou despesas de transporte e
hospedagem da queniana, algo
que, segundo a ação, é proibido.
"Os quenianos não respeitam as
normas do Ministério do Trabalho e correm de forma totalmente
irregular", falou Renato de Azevedo, advogado de Cristine.
Na São Silvestre de 2003, seis
corredores do Quênia foram patrocinados por um shopping da
capital paulista, o que feria a legislação do país. Mas é a primeira vez
que se tem conhecimento de uma
corredora que busca nos tribunais a premiação dada à adversária estrangeira.
Após duas audiências, a sentença deverá ser proferida nos próximos dias. "Nossa vitória pode
abrir um precedente importante
na cruzada contra os atletas que
correm no Brasil ilegalmente",
declarou Marco Antonio de Oliveira, treinador de Cristine.
"Atuamos no exterior sempre
de acordo com as leis de lá. É injusto que o mesmo não ocorra no
Brasil", afirmou a corredora.
A brasileira não vai reencontrar
Mengich na São Silvestre deste
ano -a queniana se casou e não
tem planos de retornar ao país.
Na única vez que disputou a
prova, Mengich foi vice, em 2003.
O melhor desempenho de Cristine foi um quinto lugar em 2000.
Cristina Costa, coordenadora
da disputa de Cuiabá, reclama da
atitude da atleta. "Infelizmente as
pessoas adoram procurar seus direitos de outra forma. A gente tem
que ganhar no pé, no fôlego."
Adriana Bodnar, uma das advogadas da prova, defendeu os organizadores. "A resolução nominativa deste caso só proíbe pagamento de cachê. E não houve isso", afirmou ela, que admitiu que
a organização bancou as despesas
de Mengich e outros estrangeiros.
Apesar de a Confederação Brasileira de Atletismo homologar a
corrida, a entidade afirmou desconhecer o processo. "A resolução citada só exige visto diferenciado para pagamento de cachê. A
Polícia Federal fiscalizou uma
prova em Santos e não constatou
nada", disse Martinho Nobre dos
Santos, secretário-geral da CBAt.
José João da Silva, bicampeão da
São Silvestre e organizador de
provas de rua, preferiu evitar polêmicas e pagar o mesmo prêmio
aos vencedores -os quenianos
Benson Cherono e Mengich- e
aos melhores brasileiros em prova em Curitiba, em 2004. Na Corrida dos Carteiros, em Brasília, no
mesmo ano, Mengich venceu e faturou R$ 5.000 sob protestos de
alguns técnicos.
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