São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 2008

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Foco

Lei de incentivo traz carentes do Pará para correr São Silvestre teen

GIULIANA BIANCONI
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, banana, milho, castanha e cacau. De outro, níquel, níquel e... mais níquel.
Entre roças e minas de Tucumã, circulam pouco mais de 26 mil pessoas que compõem a população do município paraense onde a mineradora Vale participa de projeto de exploração do metal. A maioria trabalha na roça, parte delas busca o sustento nas jazidas.
Daqui a oito anos é possível que se encontre também em Tucumã atletas de nível olímpico. Dez candidatos ao posto, aliás, deixaram a cidade paraense anteontem, em pleno Natal, para se apresentarem hoje, pela primeira vez, em um evento de caráter nacional.
Selecionados pelo programa "Brasil Vale Ouro", que visa desenvolver talentos para a Olimpíada de 2016, os seis meninos e quatro meninas com idades entre 13 e 15 anos, que começaram a ter aulas de atletismo há pouco mais de dois meses, disputam hoje a São Silvestrinha, a versão infanto-juvenil da mais tradicional corrida de rua de São Paulo.
Até outubro, eles corriam sem nenhum compromisso com direito a pés na terra e mergulho em rios quando o sol do Norte castigava.
"Agora, eles têm aulas de iniciação no esporte, que incluem exercícios para condicionamento físico, tiros de corrida e horários regulares para aprenderem algo que pode transformar a vida deles", afirma o consultor da Fundação Vale, Ronaldo Dias.
Formado em educação física com especialização na Unicamp, Dias vai periodicamente de Campinas a Tucumã preparar professores para monitorar o projeto da empresa.
"Até o final do ano que vem pretendemos investir R$ 10 milhões, priorizando atletismo, judô e natação", conta Silvio Vaz, diretor-superintendente da Fundação Vale.
As 200 crianças que já estão dando saltos e correndo no complexo esportivo de Tucumã, entre elas as que foram a São Paulo, representam só 0,6% do que o projeto pretende alcançar. Até 2010, quando todas as 31 unidades estiverem funcionando, a intenção é ter 30 mil crianças e jovens.
Para viabilizar a construção dos centros, inclusive um em Deodoro, no Rio, a fundação foi buscar apoio do Ministério do Esporte, através da lei de incentivo, e dos militares responsáveis pelo complexo carioca, já usado no Pan-07.
Em Deodoro haverá alojamentos para até cem atletas que alcançarem boas marcas, que os credenciem para o esporte de alto rendimento,
Tendo como proponente o Círculo Militar da Vila Militar, o projeto para o Complexo de Deodoro, de R$ 5,7 milhões, já foi aprovado no ministério. A Vale será a doadora.
Para os meninos do Pará, independentemente de onde o projeto vá realmente chegar, o mundo que vai além das roças e minas começa a se descortinar. São Paulo se tornou real e pôde ser conhecida após inédita viagem de avião.
"Não estamos fazendo essa viagem como um passeio, nem porque estamos de férias. Há muito profissionalismo. Queremos mostrar que, com trabalho e esforço, eles também podem desfrutar da viagem", afirma Dias, que comandou o último treinamento do grupo ontem, na pista da Unicamp.


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