São Paulo, domingo, 28 de março de 1999

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Farah promete eliminar a cúpula da Lusa por suborno

MARCELO DAMATO
ROBERTO DIAS
da Reportagem Local

O presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, ameaça eliminar do futebol os personagens do suposto esquema de suborno no Campeonato Paulista de Futebol-98.
"Se for comprovado que houve uma armação, um esquema para tentar subornar os jogadores da Santista, mesmo que o dinheiro não tenha chegado a eles, o caso será enquadrado como atitude antiesportiva, e os responsáveis estão sujeitos à eliminação do futebol", disse Farah, citando o Código Brasileiro Disciplinar de Futebol.
"Pode ser o diretor de futebol, o presidente ou o vice. Não importa. Quem fez será punido. É necessário fazer isso para tirar qualquer dúvida sobre o campeonato."
Em 1º de março do ano passado, a Lusa empatou em 4 a 4 com a Portuguesa Santista, no campo do adversário, e se classificou para a segunda fase. A Santista teve que disputar o "torneio da morte" e só escapou do rebaixamento na última rodada.
Dirigentes da Lusa teriam retirado R$ 130 mil dos cofres do clube para oferecer ao técnico e ao goleiro da Santista, por meio do empresário do futebol Toninho Silva.
Segundo apuração do Conselho de Orientação e Fiscalização da Lusa, o dinheiro jamais chegou ao goleiro Nasser, tendo ficado com o então diretor de futebol Camões Salazar e com Silva. Ambos repudiam essa conclusão.
O relatório do COF, agora, será avaliado pela Comissão de Ética da Lusa. A comissão poderá apontar culpados, que seriam punidos pelo Conselho Deliberativo.
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Imunidade Se por um lado ameaça os personagens envolvidos no escândalo, por outro Farah diz que a Lusa não corre o menor risco de ser punida.
"Como pessoa jurídica, o clube não pode ser punido. O resultado do jogo não pode ser mudado. Por lei, isso só pode acontecer se houvesse recurso em até 48 horas após a partida", afirmou à Folha.
Para Farah, a investigação da Lusa sobre o suposto desvio dos R$ 130 mil que seriam usados no suposto esquema de suborno não diz respeito à FPF.
"Isso é uma questão de desfalque. É um assunto interno do clube. A Justiça esportiva não tem competência para julgar o caso."
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Nasser O presidente da federação também fez um elogio e uma crítica ao goleiro Nasser, o mais veemente denunciante do suposto esquema de suborno organizado pela Lusa.
O goleiro revelou até mesmo o contrato que fez com o clube dois meses após a partida. Segundo o goleiro, apesar de essa não ser a sua intenção inicial, o contrato acabou servindo como uma maneira de "comprar" seu silêncio, pelo menos até a semana passada.
"Ele demorou muito para denunciar o esquema. Poderíamos já ter agido. Mas é preciso reconhecer que ele teve coragem. Há sempre o temor de sofrer represálias."
Segundo Nasser, o vice de futebol da Lusa, Ilídio Lico, o procurou sob a justificativa de contratá-lo e acabou interrogando sobre se havia participado do suposto esquema de suborno. As perguntas tornaram-no consciente do conluio, mas ele prometeu não revelar o esquema caso não fosse "prejudicado", isto é, caso assinasse o contrato e pudesse jogar pela Lusa.
Foi assinado então o contrato, que garantiria R$ 12 mil mensais para Nasser entre maio e dezembro do ano passado.
Conforme a versão do goleiro, a Lusa tentou descumprir o combinado, mas ele pressionou por um acordo, que acabou sendo feito. Ao todo, Nasser receber R$ 83 mil reais pelo contrato "cala-boca".



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