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Indignação sadia
JUCA KFOURI
Alguma coisa mudou para
melhor, sem dúvida. A maior
torcida de São Paulo não tripudiou sobre a minoria lusa.
Sempre se disse que ganhar é
o que vale, mesmo que no último minuto com gol de mão e
em impedimento.
Pois o torcedor corintiano
não reagiu assim.
Nas ruas, nos faxes, nos telefonemas, na Internet, a esmagadora maioria se diz envergonhada, solidária com a dor
do adversário.
E mesmo depois de constatar à exaustão na TV que os
dois gols lusos foram irregulares e que o primeiro pênalti
alvinegro existiu mesmo.
Curiosa contradição essa.
Os dois gols irregulares foram
normais, desses que acontecem às centenas em todos os
fins-de-semana mundo afora
-e, lembremos, a Fifa manda
seguir o lance em caso de dúvida sobre impedimentos.
Já o pênalti que houve foi
anormal, nunca ninguém
marcou -exceção feita ao
próprio Javier Castrilli, é verdade, conhecido por marcá-los na Argentina.
Mas não é a normalidade
dos gols irregulares ou a anormalidade do gol regular que
está em discussão.
A indignação geral nasce do
gol que decidiu a vaga nas
finais, o golpe fatal.
É por isso que não tem a
menor importância, sob os rigores da lei, argumentar que o
Corinthians deveria ter vencido por 1 a 0.
Só importa a perplexidade
diante do que fez o arrogante
árbitro argentino.
Não havia o que interpretar,
não havia por que ter dúvida,
o árbitro estava na cara do
lance. O que houve?
Um branco, como o de Oséas
no célebre gol contra, ou pura
e simples perseguição com o
mais fraco?
Nunca se saberá ao certo.
É evidente que o momento
se presta a muita demagogia
em defesa do mais fraco
-mais fraco que, repita-se,
foi favorecido em dois gols.
Mas o que conta é a atitude
geral, é a vergonha sentida
pela maioria corintiana, é a
constatação, enfim e mesmo
que por apenas um momento,
de que os fins não justificam
os meios. Aleluia!
É um bom começo, parece.
Que bem poderia continuar
para além dos campos de futebol, transformando-se em indignação também contra o
imobilismo diante dos campos secos do Nordeste, dos
brasileiros que ainda morrem
de fome como animais.
Que a vergonha da nação
corintiana tome conta do país
para fazer não só um futebol
melhor, mas um Brasil melhor.
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