São Paulo, terça, 28 de abril de 1998

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BASQUETE NO MUNDO
Transplante

MELCHIADES FILHO

Originalmente, pretendia comentar hoje o triunfo, brilhante e merecido, do Fluminense no Brasileiro feminino.
Mas os movimentos de bastidor que sucederam a conquista me levaram a recuar.
Inebriados com o sucesso de mídia da empreitada carioca -na verdade, o Flu é um time paulista que foi transferido para o Rio na última hora-, os dirigentes do esporte prometem alterar a estrutura dos campeonatos do país.
Falam em criar um torneio Rio-SP e fortalecer o Nacional, recorrendo ao transplante de clubes -Paula levaria para o Flamengo suas colegas de Campinas, em crise com o patrocinador do time, e duas outras equipes paulistas se fundiriam para jogar em Goiás.
A Confederação Brasileira acredita que essa estratégia -fazer circular as estrelas- será útil para a divulgação do esporte no país.
Corro risco de parecer conservador e/ou bairrista, mas vejo um tremendo equívoco.
A experiência mostra que um esporte só emplaca no Brasil se apresentar bons resultados técnicos. Foram as gerações olímpicas de prata e ouro que fizeram o vôlei vingar; é com Kuerten que o tênis pode decolar.
O basquete nacional vive momento agudo, de renovação. É naqueles que formam atletas, pois, que a CBB e seus marketeiros deveriam centrar fogo.
Para isso, a meu ver, esforços e investimentos deveriam ser destinados às praças em que o esporte ainda prospera -e não em "turnês" de aventura.
Em vez de incentivar Paula a deixar Campinas, a CBB teria de atuar no sentido de viabilizar uma equipe local.
Deveria, também, abrir os olhos para Rio Claro (bi brasileiro no masculino, o basquete ressuscitou lá), Franca (o time disputa o Sul-Americano e merecia colher de chá no calendário), Santo André (que fiasco seria o comentado fim da estrutura do feminino na cidade)...

Notas

Brasil 1
A nova estratégia da CBB lembra a adotada pelo vôlei na virada dos anos 80. Não é coincidência que seu proponente seja José Carlos Brunoro, administrador que iniciou sua carreira naquele esporte.
Brasil 2
Brunoro tem competência -que o digam os palmeirenses, saudosos de sua gestão na Parmalat. Mas o basquete vive realidade diferente do vôlei da década de 80. Já está na elite mundial. No feminino, é campeão mundial e vice olímpico.
Brasil 3
E como está o vôlei? Depois de sangrar a geração de ouro, vive de cabeçadas. A estrutura itinerante desmoronou. Os times hoje são uma piada (quais têm escolinhas?). O Brasil, único país que leva esse esporte comercialmente a sério, além de Japão e Itália, decepciona no cenário internacional.

E-mail: melk@uol.com.br



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