São Paulo, sexta, 28 de maio de 1999

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O verde era argentino, e o vermelho, alemão

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Curiosa quarta-feira essa que passou.
Em Barcelona, o time inglês de camisas vermelhas, o Manchester United, deu uma germânica demonstração de que o jogo só acaba quando termina.
E, depois de parecer entregue, de levar duas bolas na trave, de se demonstrar dominado pelo Bayern de Munique, virou o que aparentava perdido e saiu da Catalunha campeão europeu de clubes pela segunda vez.
Já em São Paulo, o time brasileiro de camisas verdes, o Palmeiras, revelou sua faceta argentina e passou feito um trator pelo River Plate.
E que aqui se entenda a feição argentina como não só a que revela garra e destemor, mas também a técnica refinada.
Foram três gols, três bolas na trave e três ótimas defesas de são Marcos.
Tudo para levar o Palmeiras à sua terceira decisão da Taça Libertadores.
Marcos defendeu como se fosse Fillol.
Zinho lembrou Ardiles, motor do time.
Roque Júnior jogou como Passarella, atrás e na frente.
E Alex, bem, com o perdão da heresia, Alex era a própria reencarnação de Maradona, tamanha sua arte nos dois golaços que marcou.
Tudo porque Luiz Felipe Scolari, em noite novamente encantada e sem lançar mão de expedientes deploráveis, como o de jogar bolas para dentro do campo, a exemplo do que houve diante do Flamengo, foi mais do que uma mistura perfeita do preciosismo de César Luis Menotti com a organização de Carlos Bilardo.
Foi Luiz Felipe Scolari, enfim capaz de mostrar por que montou o elenco que montou, coração a serviço do talento.
Ao Palmeiras falta realizar três façanhas, e é impossível repetir agora o apelo em nome do bom senso, pela concentração total em torno do mais importante, a Libertadores.
Porque o mais importante ficou o menos difícil.
Sim, o Deportivo Cali é um rival menos difícil do que o Botafogo na Copa do Brasil, e o Botafogo é um rival menos difícil do que quaisquer um dos três que restam no Paulista; a Lusa, com certeza, o Santos, e São Paulo ou Corinthians.
Quem tudo quer nada tem, vale repisar -mas com a diferença revelada nos últimos jogos de que quem tanto tem até tudo pode ter.

Galvão Bueno grita mais longamente um gol do Flamengo ou um do Palmeiras?
Não sei, não cronometrei.
Mas será o mesmo Galvão Bueno que diz "o Palmeiras é Brasil na Libertadores!"?
Se for, prefiro o primeiro ao segundo, porque verdadeiro.
O que sei é que não passa de extrema covardia a hostilidade de que foi vítima no Parque Antarctica na quarta, obrigado a sair com escolta policial.
Um profissional alvo da mesma passionalidade que leva corintianos e são-paulinos a torcer contra o Palmeiras até diante dos argentinos.

Estranha ciranda a que leva Edmundo do Vasco por um preço baixo e o trás de volta mais caro, por duas vezes.
Estranha ciranda que começa no Rio, passa por Angra e termina em Miami.
Estranha ciranda que enriquece quem a faz girar muito além de uma simples rima.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras



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