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O verde era argentino, e o vermelho, alemão
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
Curiosa quarta-feira essa que
passou.
Em Barcelona, o time inglês
de camisas vermelhas, o Manchester United, deu uma germânica demonstração de que o
jogo só acaba quando termina.
E, depois de parecer entregue,
de levar duas bolas na trave, de
se demonstrar dominado pelo
Bayern de Munique, virou o
que aparentava perdido e saiu
da Catalunha campeão europeu de clubes pela segunda vez.
Já em São Paulo, o time brasileiro de camisas verdes, o Palmeiras, revelou sua faceta argentina e passou feito um trator pelo River Plate.
E que aqui se entenda a feição
argentina como não só a que
revela garra e destemor, mas
também a técnica refinada.
Foram três gols, três bolas na
trave e três ótimas defesas de
são Marcos.
Tudo para levar o Palmeiras
à sua terceira decisão da Taça
Libertadores.
Marcos defendeu como se fosse Fillol.
Zinho lembrou Ardiles, motor
do time.
Roque Júnior jogou como
Passarella, atrás e na frente.
E Alex, bem, com o perdão da
heresia, Alex era a própria
reencarnação de Maradona,
tamanha sua arte nos dois golaços que marcou.
Tudo porque Luiz Felipe Scolari, em noite novamente encantada e sem lançar mão de
expedientes deploráveis, como
o de jogar bolas para dentro do
campo, a exemplo do que houve diante do Flamengo, foi
mais do que uma mistura perfeita do preciosismo de César
Luis Menotti com a organização de Carlos Bilardo.
Foi Luiz Felipe Scolari, enfim
capaz de mostrar por que montou o elenco que montou, coração a serviço do talento.
Ao Palmeiras falta realizar
três façanhas, e é impossível repetir agora o apelo em nome do
bom senso, pela concentração
total em torno do mais importante, a Libertadores.
Porque o mais importante ficou o menos difícil.
Sim, o Deportivo Cali é um rival menos difícil do que o Botafogo na Copa do Brasil, e o Botafogo é um rival menos difícil
do que quaisquer um dos três
que restam no Paulista; a Lusa,
com certeza, o Santos, e São
Paulo ou Corinthians.
Quem tudo quer nada tem,
vale repisar -mas com a diferença revelada nos últimos jogos de que quem tanto tem até
tudo pode ter.
Galvão Bueno grita mais longamente um gol do Flamengo
ou um do Palmeiras?
Não sei, não cronometrei.
Mas será o mesmo Galvão
Bueno que diz "o Palmeiras é
Brasil na Libertadores!"?
Se for, prefiro o primeiro ao
segundo, porque verdadeiro.
O que sei é que não passa de
extrema covardia a hostilidade
de que foi vítima no Parque
Antarctica na quarta, obrigado
a sair com escolta policial.
Um profissional alvo da mesma passionalidade que leva corintianos e são-paulinos a torcer contra o Palmeiras até
diante dos argentinos.
Estranha ciranda a que leva
Edmundo do Vasco por um
preço baixo e o trás de volta
mais caro, por duas vezes.
Estranha ciranda que começa
no Rio, passa por Angra e termina em Miami.
Estranha ciranda que enriquece quem a faz girar muito
além de uma simples rima.
Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às
sextas-feiras
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