São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 2002

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MELCHIADES FILHO

A Copa do Mundo que a TV não soube ganhar


A geração e a edição original de imagens foi pobre e calhorda, e a Globo, só nas transmissões, não soube superá-las


O diálogo do casal Bonner e Bernardes deu charme à ponte do fuso horário. Na média, as reportagens do "JN" primaram pela sofisticação. A vigília noticiosa da seleção foi adequada. E Galvão Bueno, apesar dos martelados defeitos, provou que a emissora estará em maus lençóis quando ele resolver se aposentar.
Foi só. A nave-mãe gastou os tubos para assegurar os direitos exclusivos, cerca de US$ 150 milhões. Mas a cobertura da Copa-2002 ficou aquém do esperado, não mereceu a audiência recorde que coletou.
Primeiro, por culpa da castiça Fifa.
A empresa contratada filmou a Copa de modo burocrático. Pôs as câmeras em pontos manjados. Divulgou, batata, só aspectos manjados do jogo. Desperdiçou, por exemplo, a chance de se pendurar nas arquibancadas e, em alguns casos, no teto retrátil dos fantásticos estádios.
Proibida de gerar imagens, a Globo capitulou. "É assim, paciência", repetiam os locutores, privados também de confortos de pós-produção, como o tira-teima -por contrato, a transmissão tem de ser "pura".
Já a edição-Fifa de cortes e videoteipes beirou a safadeza, tamanha a obsessão em ocultar a polêmica, o lado B (tão saboroso quanto o mágico) do futebol.
Mas a Globo não soube driblar esses problemas de origem.
Os erros puniram sua decisão de narrar do estúdio a maioria das partidas. Alguns foram antológicos, como o relato, 30 segundos no ar, de gol espanhol prontamente anulado pelo juiz.
Acostumados a tê-las listadas por setores táticos, os locutores se embananaram até com a escalação das equipes -pela numeração das camisetas, no gerador de caracteres oficial.
A edição global de VT, reduzida para dar espaço a matérias de "clima" (Olodum, Bixiga...), deixou gosto de quero mais até nos "melhores momentos".
Os comentaristas não destoaram dos cenários e vinhetas pobres. Seja nas sonecas de Sérgio Noronha. Na histrionice de Dadá Maravilha, mistura de bobo da corte e Tio Tomás. No travo protocolar e (que soa) insincero de Falcão. Na condenação unânime e equivocada de Ronaldo na semifinal, outro momento para a antologia do esporte na TV.
Alguém na Globo deve ter percebido a modorra. Escalou a reapresentação da minissérie "Dona Flor e seus Dois Maridos", adaptação salaz da obra de Jorge Amado, a fim de levantar a madrugada. Para o fã do futebol, o show ficou por conta das coxas da Giulia Gam, da bundinha do Édson Celulari.

melk@uol.com.br



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