|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pela medalha, Zé Roberto tenta entender mulheres
Invicto, técnico estréia na fase final do Grand Prix e diz que deixa cargo se cair na Grécia
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
José Roberto Guimarães tem,
partir de hoje, a última chance de
errar antes dos Jogos de Atenas.
A cobrança é pessoal. Único
brasileiro que pode conquistar o
ouro no comando de homens e
mulheres, o treinador já pensa em
deixar a seleção de vôlei se não subir ao pódio na Grécia.
"Minha maior frustração foi em
Atlanta. Eu fiquei dois anos sem
sair de casa com a cabeça erguida.
Tinha vergonha. Não sei se vão
me querer, mas não quero passar
por aquilo de novo", afirma.
Em 1996, quatro anos após a
conquista do inédito ouro em
Barcelona, o treinador chegou só
ao quinto posto com um grupo
marcado por conflitos de vaidade.
Agora, no comando da seleção
feminina, espera ao menos repetir
os dois últimos Jogos, quando o
time de Bernardinho foi bronze.
Antes de medir forças na Grécia, porém, Zé Roberto encara a
fase final do Grand Prix, terceira
competição mais importante do
vôlei internacional, atrás dos Jogos Olímpicos e do Mundial.
Hoje, sua equipe enfrenta Cuba,
às 12h, em Reggio Calabria.
Os jogos na Itália são o último
passo antes de Atenas em um caminho no qual o técnico teve de
reaprender a comandar.
Zé Roberto recebeu a missão,
em 2003, de substituir Marco Aurélio Motta e herdou uma equipe
marcada por brigas, atletas rebeladas e maus resultados. Queria
pleitear o cargo só após os Jogos.
Além de ter de recriar o ambiente no grupo, o então técnico do
Osasco, que tem prioridade para
contratá-lo após a Olimpíada, ganhou o desafio de planejar pela
primeira vez um trabalho com
uma seleção adulta de mulheres.
"É outro esquema no clube, tem
um contato maior no dia-a-dia.
Está sendo uma grande escola.
Mulher é mais sensível, tem muita
coisa para administrar. Com os
homens, era meio na porrada,
mais vibração do que diálogo."
A sensibilidade feminina, aliás,
é uma das maiores preocupações
do treinador antes da Olimpíada.
Se chegar à decisão do Grand
Prix, a seleção desembarca no
Brasil na terça-feira e terá alguns
dias de folga antes de entrar na Vila Olímpica, em 10 de agosto. Os
Jogos começam no dia 13.
"Elas têm de ver a mãe, o pai, o
namorado, o filho, o cachorro...
Mulher precisa disso, a brasileira
ainda mais. Aliás, torço para que
as outras seleções viajem direto
da Itália para a Grécia. Pode ser
um diferencial para nós", afirma.
O processo enfrentado agora foi
semelhante ao pré-Barcelona,
quando também teve de apagar o
incêndio deixado por brigas entre
atletas e Josenildo Carvalho.
"Eu já tinha sido assistente técnico em ocasiões em que aqueles
atletas estavam reunidos. Já conhecia o grupo. O que enfrentei
neste ano foi muito mais difícil."
O sucesso meteórico também é
parecido. O GP é só a terceira
competição importante de que o
Brasil participa com Zé Roberto.
Antes, foi prata na Copa do Mundo-03 e ganhou o Sul-Americano.
Com um elenco que mescla novatas e veteranas e que teve menos de dois meses de treinos, a
equipe surpreendeu. Chega como
única invicta às finais, em uma
campanha mais expressiva do
que a do tetra da seleção de Bernardinho na Liga Mundial. Isso
porque o time feminino pegou rivais fortes, como Cuba e China, o
que não aconteceu com a equipe
masculina na fase de classificação.
O excelente retrospecto não era
esperado. Assumidamente um
perfeccionista, que não gosta de
perder nem par-ou-ímpar, o treinador deixou de lado as cobranças para tentar montar a seleção.
"Vou para fazer testes. Não dá
para se preocupar com resultados", afirmou ainda no Brasil.
Para isso, Zé Roberto estabeleceu um rodízio entre as 14 jogadoras na fase classificatória, na Ásia.
A oposto Leila e a meio Carol só
foram cortadas no domingo.
No processo para entender as
jogadoras, Zé Roberto não deixou
de tentar buscar tranqüilidade na
Grécia. Como fez na conquista do
primeiro título pelo Osasco, prometeu percorrer o caminho de
Santiago de Compostela se obtiver sucesso em Atenas.
Confia em seu trabalho e na ajuda dos santos para não errar a
partir da estréia, em 14 de agosto.
NA TV - Sportv, ao vivo, a
partir das 12h
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Sobre quatro patas: Técnico quer levar cavalo a Pequim-08 Índice
|