São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2004

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Pela medalha, Zé Roberto tenta entender mulheres

Invicto, técnico estréia na fase final do Grand Prix e diz que deixa cargo se cair na Grécia

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

José Roberto Guimarães tem, partir de hoje, a última chance de errar antes dos Jogos de Atenas.
A cobrança é pessoal. Único brasileiro que pode conquistar o ouro no comando de homens e mulheres, o treinador já pensa em deixar a seleção de vôlei se não subir ao pódio na Grécia.
"Minha maior frustração foi em Atlanta. Eu fiquei dois anos sem sair de casa com a cabeça erguida. Tinha vergonha. Não sei se vão me querer, mas não quero passar por aquilo de novo", afirma.
Em 1996, quatro anos após a conquista do inédito ouro em Barcelona, o treinador chegou só ao quinto posto com um grupo marcado por conflitos de vaidade.
Agora, no comando da seleção feminina, espera ao menos repetir os dois últimos Jogos, quando o time de Bernardinho foi bronze.
Antes de medir forças na Grécia, porém, Zé Roberto encara a fase final do Grand Prix, terceira competição mais importante do vôlei internacional, atrás dos Jogos Olímpicos e do Mundial.
Hoje, sua equipe enfrenta Cuba, às 12h, em Reggio Calabria.
Os jogos na Itália são o último passo antes de Atenas em um caminho no qual o técnico teve de reaprender a comandar.
Zé Roberto recebeu a missão, em 2003, de substituir Marco Aurélio Motta e herdou uma equipe marcada por brigas, atletas rebeladas e maus resultados. Queria pleitear o cargo só após os Jogos.
Além de ter de recriar o ambiente no grupo, o então técnico do Osasco, que tem prioridade para contratá-lo após a Olimpíada, ganhou o desafio de planejar pela primeira vez um trabalho com uma seleção adulta de mulheres.
"É outro esquema no clube, tem um contato maior no dia-a-dia. Está sendo uma grande escola. Mulher é mais sensível, tem muita coisa para administrar. Com os homens, era meio na porrada, mais vibração do que diálogo."
A sensibilidade feminina, aliás, é uma das maiores preocupações do treinador antes da Olimpíada.
Se chegar à decisão do Grand Prix, a seleção desembarca no Brasil na terça-feira e terá alguns dias de folga antes de entrar na Vila Olímpica, em 10 de agosto. Os Jogos começam no dia 13.
"Elas têm de ver a mãe, o pai, o namorado, o filho, o cachorro... Mulher precisa disso, a brasileira ainda mais. Aliás, torço para que as outras seleções viajem direto da Itália para a Grécia. Pode ser um diferencial para nós", afirma.
O processo enfrentado agora foi semelhante ao pré-Barcelona, quando também teve de apagar o incêndio deixado por brigas entre atletas e Josenildo Carvalho.
"Eu já tinha sido assistente técnico em ocasiões em que aqueles atletas estavam reunidos. Já conhecia o grupo. O que enfrentei neste ano foi muito mais difícil."
O sucesso meteórico também é parecido. O GP é só a terceira competição importante de que o Brasil participa com Zé Roberto. Antes, foi prata na Copa do Mundo-03 e ganhou o Sul-Americano.
Com um elenco que mescla novatas e veteranas e que teve menos de dois meses de treinos, a equipe surpreendeu. Chega como única invicta às finais, em uma campanha mais expressiva do que a do tetra da seleção de Bernardinho na Liga Mundial. Isso porque o time feminino pegou rivais fortes, como Cuba e China, o que não aconteceu com a equipe masculina na fase de classificação.
O excelente retrospecto não era esperado. Assumidamente um perfeccionista, que não gosta de perder nem par-ou-ímpar, o treinador deixou de lado as cobranças para tentar montar a seleção.
"Vou para fazer testes. Não dá para se preocupar com resultados", afirmou ainda no Brasil.
Para isso, Zé Roberto estabeleceu um rodízio entre as 14 jogadoras na fase classificatória, na Ásia. A oposto Leila e a meio Carol só foram cortadas no domingo.
No processo para entender as jogadoras, Zé Roberto não deixou de tentar buscar tranqüilidade na Grécia. Como fez na conquista do primeiro título pelo Osasco, prometeu percorrer o caminho de Santiago de Compostela se obtiver sucesso em Atenas.
Confia em seu trabalho e na ajuda dos santos para não errar a partir da estréia, em 14 de agosto.


NA TV - Sportv, ao vivo, a partir das 12h


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