São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Redenção no Parque Antarctica

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

No futebol, assim como na vida, 99% é rotina e só 1% (se tanto) é surpresa, poesia, intensidade, paixão. No futebol, assim como na vida, a graça -em todos os sentidos da palavra- muitas vezes aparece onde menos se espera encontrá-la.
Renovei essas convicções ao acompanhar a rodada do meio da semana do Brasileiro.
Na quarta-feira, enfrentavam-se em Caxias dois clubes em disputa pela liderança do torneio: Juventude e Corinthians. Na quinta, no Parque Antarctica, Palmeiras e Paysandu representavam o contrário: a disputa entre o roto e o rasgado, ambos em luta para sair da rabeira da tabela.
Pois bem: o jogo dos líderes foi mais insosso e tedioso que um discurso do Aureliano Chaves. O próprio gol corintiano saiu quase que por acaso, num lance infeliz da defesa do Juventude.
Com tanta falta de imaginação e criatividade, o único gol só poderia ser contra.
Em contraste com essa verdadeira tortura, no dia seguinte o Parque Antarctica foi palco de drama, riso, reza, suor e lágrimas. Os dois times buscaram o tempo todo a vitória e, na arquibancada, a torcida palmeirense deu um espetáculo à parte de lealdade ao seu combalido time.
Antes da partida, as torcidas organizadas haviam prometido apoiar a equipe durante o jogo, deixando um eventual protesto para depois dos 90 minutos.
Cumpriram a promessa -e não deve ter sido fácil, pois o gol custou a chegar. Até uma enorme bandeira com a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi aberta na arquibancada.
Depois de nove partidas sem vencer, passar pelo modesto Paysandu foi como conquistar uma Copa do Mundo.
Ao ouvir o apito final, os jogadores se abraçaram emocionados e foram agradecer à torcida, numa comunhão alviverde que não se via há muito tempo.
Seria fácil, para um não-palmeirense como eu, ver aquilo tudo como um espetáculo patético ou ridículo. Afinal, objetivamente, era apenas uma disputa entre dois lanternas, na metade do campeonato.
Mas quem viu com olhos livres o que aconteceu no Parque Antarctica sabe que a graça esteve lá, onde ninguém esperava que ela aparecesse.

Por conta dos caprichos da tabela, dois clássicos paulistas caíram no mesmo dia: Corinthians x São Paulo e Santos x Palmeiras.
Os dois jogos serão decisivos, e não apenas pelas rivalidades e tradições envolvidas.
No jogo do Morumbi, o São Paulo, se perder, perderá também a confiança de sua torcida, já que não vence desde a goleada sobre o Fluminense, há duas semanas. Está na hora de o tricolor mostrar se está no páreo ou se seus reluzentes astros vão morrer na praia como qualquer plebeu.
O Corinthians, que tem vencido aos trancos e barrancos, também precisa mostrar um futebol mais consistente e, se possível, vistoso.
Na Vila Belmiro, a briga deverá ser melhor ainda: os impetuosos meninos da Vila, empurrados por sua torcida, contra um Palmeiras que começa a recuperar a auto-estima e precisa de uma vitória sobre um rival de peso para confirmar sua reabilitação.
Fiquem à vontade para me chamar de bairrista, mas neste domingo não terei olhos para os outros Estados.

Ascensão dos azuis
Sem fazer muito alarde, dois times vêm papando os adversários e subindo irresistivelmente na tabela: Cruzeiro e Grêmio. O primeiro, reforçado pela categoria de Alex. O segundo, inflamado pela ótima fase de Rodrigo Fabri. Dependendo dos resultados da atual rodada (diante do Juventude e do Goiás, respectivamente), eles já entram na zona de classificação. Desconfio que para ficar.

Ronaldinho na Itália
Parece que a Inter de Milão está interessada no gaúcho Ronaldinho. Se houver mesmo a negociação, será uma daquelas encruzilhadas decisivas na vida de um grande jogador: ele poderá se tornar de vez um astro mundial ou, pelo contrário, ser neutralizado pela dureza do "calcio" italiano (ou pela teimosia de Héctor Cúper). Aposto na primeira hipótese, ou pelo menos torço por ela.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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