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FUTEBOL
Redenção no Parque Antarctica
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
No futebol, assim como na
vida, 99% é rotina e só 1%
(se tanto) é surpresa, poesia, intensidade, paixão. No futebol, assim como na vida, a graça -em
todos os sentidos da palavra-
muitas vezes aparece onde menos
se espera encontrá-la.
Renovei essas convicções ao
acompanhar a rodada do meio
da semana do Brasileiro.
Na quarta-feira, enfrentavam-se em Caxias dois clubes em disputa pela liderança do torneio:
Juventude e Corinthians. Na
quinta, no Parque Antarctica,
Palmeiras e Paysandu representavam o contrário: a disputa entre o roto e o rasgado, ambos em
luta para sair da rabeira da tabela.
Pois bem: o jogo dos líderes foi
mais insosso e tedioso que um discurso do Aureliano Chaves. O
próprio gol corintiano saiu quase
que por acaso, num lance infeliz
da defesa do Juventude.
Com tanta falta de imaginação
e criatividade, o único gol só poderia ser contra.
Em contraste com essa verdadeira tortura, no dia seguinte o
Parque Antarctica foi palco de
drama, riso, reza, suor e lágrimas.
Os dois times buscaram o tempo
todo a vitória e, na arquibancada, a torcida palmeirense deu um
espetáculo à parte de lealdade ao
seu combalido time.
Antes da partida, as torcidas organizadas haviam prometido
apoiar a equipe durante o jogo,
deixando um eventual protesto
para depois dos 90 minutos.
Cumpriram a promessa -e
não deve ter sido fácil, pois o gol
custou a chegar. Até uma enorme
bandeira com a imagem de Nossa
Senhora Aparecida foi aberta na
arquibancada.
Depois de nove partidas sem
vencer, passar pelo modesto Paysandu foi como conquistar uma
Copa do Mundo.
Ao ouvir o apito final, os jogadores se abraçaram emocionados
e foram agradecer à torcida, numa comunhão alviverde que não
se via há muito tempo.
Seria fácil, para um não-palmeirense como eu, ver aquilo tudo como um espetáculo patético
ou ridículo. Afinal, objetivamente, era apenas uma disputa entre
dois lanternas, na metade do
campeonato.
Mas quem viu com olhos livres
o que aconteceu no Parque Antarctica sabe que a graça esteve
lá, onde ninguém esperava que
ela aparecesse.
Por conta dos caprichos da tabela, dois clássicos paulistas caíram
no mesmo dia: Corinthians x São
Paulo e Santos x Palmeiras.
Os dois jogos serão decisivos, e
não apenas pelas rivalidades e
tradições envolvidas.
No jogo do Morumbi, o São
Paulo, se perder, perderá também
a confiança de sua torcida, já que
não vence desde a goleada sobre o
Fluminense, há duas semanas.
Está na hora de o tricolor mostrar
se está no páreo ou se seus reluzentes astros vão morrer na praia
como qualquer plebeu.
O Corinthians, que tem vencido
aos trancos e barrancos, também
precisa mostrar um futebol mais
consistente e, se possível, vistoso.
Na Vila Belmiro, a briga deverá
ser melhor ainda: os impetuosos
meninos da Vila, empurrados por
sua torcida, contra um Palmeiras
que começa a recuperar a auto-estima e precisa de uma vitória
sobre um rival de peso para confirmar sua reabilitação.
Fiquem à vontade para me chamar de bairrista, mas neste domingo não terei olhos para os outros Estados.
Ascensão dos azuis
Sem fazer muito alarde, dois
times vêm papando os adversários e subindo irresistivelmente na tabela: Cruzeiro e Grêmio. O primeiro, reforçado pela categoria de Alex. O
segundo, inflamado pela ótima fase de Rodrigo Fabri. Dependendo dos resultados da atual rodada (diante do Juventude e do Goiás, respectivamente), eles já entram na zona de classificação. Desconfio que para ficar.
Ronaldinho na Itália
Parece que a Inter de Milão
está interessada no gaúcho
Ronaldinho. Se houver mesmo a negociação, será uma
daquelas encruzilhadas decisivas na vida de um grande
jogador: ele poderá se tornar
de vez um astro mundial ou,
pelo contrário, ser neutralizado pela dureza do "calcio"
italiano (ou pela teimosia de
Héctor Cúper). Aposto na
primeira hipótese, ou pelo
menos torço por ela.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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