São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2001

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Para adversários do relator, comissão foi tendenciosa ao escolher alvos

CPI ignora Pelé e se complica no final

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL FC

O relatório final da CPI do Futebol que deve chegar hoje à gráfica do Senado dificilmente terá a palavra Pelé. E os adversários do texto já se movimentam para utilizar a ausência do nome do ex-jogador e ex-ministro contra o autor e sua base de apoio.
Após a revelação do caso Pelé-Unicef pela Folha, no dia 18, senadores contrários ao relatório de Geraldo Althoff (PFL-SC) afirmam que a PS&M Ltda. (Pelé Sports & Marketing) não poderia ter passado ao largo das investigações da comissão, já que relatório da CPI da CBF/Nike, que funcionou na Câmara, pediu o indiciamento ao Ministério Público do empresário Hélio Viana, sócio do ex-jogador na empresa.
Apesar de não ter sido votado pela comissão da Câmara, o relatório serviu como base para a CPI do Futebol investigar a CBF e seu presidente, Ricardo Teixeira.
Para o grupo que promete votar contra o texto de Althoff, a ausência da PS&M Ltda. e de alguns clubes, empresas e dirigentes no relatório final mostra que a CPI foi tendenciosa. "Foi uma investigação capenga, caolha", disse Gilvam Borges (PMDB-AP), que afirmou preparar um relatório alternativo ao de Geraldo Althoff.
Borges evita críticas a Pelé e prefere separar a figura do ex-jogador de seus negócios. "Ele é o embaixador do Brasil no mundo, precisa ser preservado", declarou o senador, que não poupa críticas à CPI do Futebol. "Fizeram um trabalho direcionado."
O senador Álvaro Dias (PDT-PR), presidente da comissão, disse que a PS&M Ltda. não foi investigada simplesmente porque nenhuma outra empresa do ramo esportivo foi -apenas as ligadas à CBF, como a Traffic, por exemplo. "Além disso, nós vasculhamos as contas do Santos e nunca encontramos nada que pudesse comprometer o Pelé", disse.
Álvaro Dias também ataca: "Esse grupo contrário ao relatório quer, na verdade, preservar os grandes cartolas do futebol brasileiro. Mas será derrotado".
No dia 18, a Folha revelou que, em 1995, Pelé e a PS&M Inc., empresa com sede nas Ilhas Virgens, assinaram convênio com o Unicef para organizar de graça uma festa filantrópica em Buenos Aires. O ex-atleta e a empresa nada receberiam pelo evento, que teria um jogo de futebol e um show musical.
No mesmo período, Pelé e a empresa no exterior que leva seu nome assinaram contrato paralelo com a empresa norte-americana Sports Vision, segundo o qual a PS&M Inc. se comprometia a organizar a festa, recebendo para isso US$ 3 milhões. Além do ex-jogador, também assinou o contrato seu sócio Hélio Viana.
A Sports Vision receberia os US$ 3 milhões de outra empresa dos EUA, a Global Entertainment, que tomou empréstimo do Banco Patricios, da Argentina.
Foi a Global que depositou US$ 700 mil em contas da PS&M Inc. no MTB Bank e no Chase.
Apenas essa parte dos US$ 3 milhões acordados foi paga, pois o banco argentino quebrou.
O evento não chegou a ser realizado, mas a PS&M Inc., cujos donos são desconhecidos, não devolveu o dinheiro ao banco argentino nem o entregou ao Unicef.
Na CPI da CBF/Nike, que funcionou de outubro do ano passado até junho último na Câmara, Viana teve seu indiciamento pedido ao Ministério Público pelo deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), mas Pelé foi preservado.
Viana é processado pela Câmara por perjúrio. Ele se recusou a responder aos deputados.


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