São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Zagueiros x atacantes x nós

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

O santista Leonardo Moura, de Presidente Venceslau, reclamou dos comentários sobre o jogo de domingo: "Falem menos dos defeitos do São Paulo e mais das qualidades do Santos!".
Acho até que a reclamação não procede, já que o Santos foi bastante elogiado. Os talentos de Diego e Robinho foram exaltados outra vez, como têm de ser. Alberto, Maurinho, Leo, Renato e os outros jogadores talvez não tenham sido reconhecidos como deveriam, mas todo time tem suas estrelas, seus destaques. Um ou dois jogadores quase sempre são escolhidos como símbolo -nas vitórias e nas derrotas. Se todo o time do Santos jogar mal, a crítica mais impiedosa será sempre a do Diego -"não jogou nada, ficou sumido o tempo todo".
Voltando à mensagem do torcedor, ele fazia, em seguida, uma observação interessante: "Do mesmo jeito que eu não culpo o Paulo Almeida, já que o Kaká é imarcável, eu não culpo o Ameli". (Lembre-se de que são palavras de um santista!)
O que ele queria dizer, enfim, era o seguinte: em vez de dar nota zero para o zagueiro, vamos reconhecer que ele é a vítima daquilo que mais admiramos no futebol, como o talento, o improviso, a visão de jogo, a genialidade. Uma coisa é o erro, outra é a "fatalidade". Se a defesa do São Paulo conseguisse impedir todas as jogadas de Diego & Robinho... eles não poderiam ser considerados craques! O torcedor quer mais aplausos para o Diego e menos vaias para Ameli. Tem seu ponto.
Quando um jogador habilidoso dá um drible espetacular em um zagueiro, invariavelmente dizemos que ele foi "humilhado".
Ridicularizamos o marcador em vez de exaltar o talento do atacante. E, se o beque descontrolado faz uma falta violenta no craque, protestamos (aí, sim, com razão): "Drible não é humilhação, é a essência do futebol! Se o sujeito não admite ser driblado, é melhor mudar de profissão".
Contudo, da próxima vez que o sujeito tomar um chapéu, um corte espetacular, um drible da vaca, vamos dizer: "Fulano humilhou ciclano".
Eu me lembro bem daquele episódio Alex x Emerson (Palmeiras 4 x 2 São Paulo): o zagueiro foi crucificado por tomar um chapéu. Mas o que fazer contra um chapéu perfeito, sem ser uma falta que mate a jogada? O que, numa situação como essa, um zagueiro excelente poderia fazer para impedir o momento brilhante? Como se evita um chapéu, se ele é o estalo do gênio, improviso puro?
De qualquer jeito, dificilmente elogiamos os zagueiros. Depois, dizem que os goleiros são infelizes... Se a zaga trabalha direitinho, sem cometer nenhum erro, ela mal aparece na avaliação da partida. Se um zagueiro faz um milagre ou anula um jogador poderoso, aí, sim, ele merece uma nota boa -com a ressalva de que o atacante estava "em tarde pouco inspirada". Porque, inspirado, ele tem a obrigação de ser melhor que o zagueiro!
Eu não sei quem vai brilhar hoje à noite. Espero que Kaká e Diego, Ricardinho e Elano, Luis Fabiano e Alberto, Reinaldo e Robinho. Alex, Jean, Ameli e André Luis podem estar em uma noite espetacular, fazer ótimas antecipações e desarmes, fechar espaços e se posicionar muito bem, mas, se o jogo terminar 0 a 0 por mérito deles... vamos ficar com a impressão de que "faltou futebol". Senhores, perdoemos os zagueiros que não são capazes de impedir que um craque dê espetáculo.

Pra não chorar
De todas as piadas sobre o Palmeiras que circularam nesta temporada, algumas foram adaptadas de anos anteriores. A melhor de todas é a que projeta as manchetes de 2003. Se ainda não chegou na sua caixa postal, peça para um amigo. Alguém que você conhece deve ter.

Outra piada
O preço das arquibancadas do estádio do Morumbi para os jogos desta semana foi R$ 15. Pai, mãe e dois filhos pagariam R$ 60 (a menos que conseguissem os raros ingressos de estudante). Eles devem estar brincando.

Outro campeonato
Conseguirão o talento e a competência de Belluzzo vencer o futebol-força e o antijogo dos conselheiros que apóiam Mustafá Contursi e levar o Palmeiras à Série A da administração esportiva?

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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