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São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

O peso da camisa

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Qual é o mais rico mercado do futebol europeu: Espanha, Inglaterra ou Itália? Se você respondeu Alemanha, tudo bem.
No que se refere ao dinheiro gerado com patrocínio de uniformes, os clubes alemães dão um banho nos concorrentes vizinhos. Uma pesquisa da empresa SPORT+MARKT registra pelo segundo ano seguido uma liderança incontestável da Bundesliga sobre as outras ligas na aquisição de anunciantes nas camisas.
Quase 90 milhões de euros foram injetados nos fardamentos dos clubes alemães nesta temporada. Isso significa 27,7% do total aplicado nas seis ligas mais ricas da Europa. O segundo país que mais recebeu investimentos em uniformes de times foi a Itália: 20,5% dos 320,5 milhões de euros que arrecadaram juntos os campeonatos nacionais de Alemanha, Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Itália.
Mas por que a Alemanha lidera com boa folga essa lista? Primeiro, há o efeito Bayern de Munique, um dos mais poderosos membros do G-14. O clube de Beckenbauer recebe sozinho 15,8 milhões de euros da empresa de comunicação T-Mobile por temporada.
Depois, alguns importantes fatores socioeconômicos pesam na balança. A Alemanha, além da grande população, tem a economia mais forte de seu continente.
Na temporada passada, a Alemanha já abocanhava 27,5% do total arrecadado pelas mais fortes ligas européias com patrocínio de camisa. Em 2002/2003, aliás, o total recebido pelos clubes europeus, conjuntamente, era maior: praticamente 322 milhões de euros.
A milionária Premier League, mais turbinada com as diabruras do magnata Roman Abramovich, vê uma queda em seus valores. Em 2001/2002, os contratos da turma toda bateram nos 68 milhões de euros. Na temporada seguinte, caíram para 63,7 milhões de euros. Agora, pararam nos 62,9 milhões de euros (as camisas dos times ingleses foram depreciadas comercialmente em 8% nos últimos dois anos).
A surpresa maior para muitos, porém, é a "pobreza" da badalada liga espanhola na lista discutida aqui. Os times franceses juntos ficaram com 13,1% do total recebido pelas ligas mais ricas (sempre é bom lembrar que o assunto é publicidade nos uniformes). Os espanhóis, por sua vez, levaram apenas 9,8% desse total. Só nesta temporada conseguiram superar os clubes holandeses conjuntamente -9,3% do total vai para o Ajax, o PSV e seus conterrâneos.
Na divisão de elite do futebol alemão, os clubes ganham em média, por temporada, 4,9 milhões de euros vendendo espaços em suas camisas para empresas. A Série A italiana e o Campeonato Inglês mostram médias bem menores que a da Bundesliga: 3,9 milhões de euros e 3,1 milhões de euros.
Apesar disso ou mesmo assim, as ligas de Itália, Espanha e Inglaterra são as que agrupam o maior número de craques, as que gozam de maior prestígio etc etc etc.
Os alemães, que têm uma camisa de peso, são conhecidos pelo futebol-força, mas é a força econômica que está mesmo por trás do futebol germânico. Ou você acha que se ganha a eleição para organizar uma Copa tão concorrida (como foi a de 2006) de graça?

O peso de Pelé
"Se Pelé estivesse no mercado atual, tentaríamos comprá-lo por 142 milhões de euros." A frase é de Paul Smith, diretor do Chelsea. Foi dada ao jornal ""Evening Standard" após o dirigente do clube que mais gastou na temporada anunciar o seu interesse em pagar 85 milhões de euros pelo holandês Van Nistelrooy. Seria esse mesmo o valor do "Rei" hoje?

O peso do Barcelona
O clube catalão, que tem uma dívida de aproximadamente 200 milhões de euros, comemora neste final de ano a quebra do recorde histórico do seu número de sócios (108.928). A possível venda da bela camisa do time para uma empresa ainda não foi assinada. Isso porque o preço exigido é o maior do planeta e porque grande parte dos sócios é radicalmente contra quebrar a tradição do uniforme "limpo" do time.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br


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