São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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AÇÃO

A última onda

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Nos últimos dias, o surfe de ondas grandes ganhou espaço nas revistas semanais e na TV. Há uma enorme expectativa na entrada de uma ondulação suficientemente grande que permita a realização dos campeonatos e concursos programados no Havaí e na Califórnia (EUA). Enquanto isso não acontece, a história quase legendária do surfista Greg Noll, parcialmente citada na última coluna, parece ter interessado a muita gente. Vou, então, contá-la um pouco melhor, ou pelo menos descrever como ela entrou para a mitologia do surfe.
Da Bull, como Noll também é conhecido, era um especialista em ondas grandes. Passava a vida à procura de um swell épico, indo de praia em praia, de tempestade em tempestade, tentando ficar cara a cara com uma onda capaz de desafiá-lo. Durante 15 anos, nas décadas de 50 e 60, frequentou o North Shore havaiano. Antes de dormir pedia a Deus que colocasse em seu caminho uma onda que o fizesse tremer, disse ao "LA Times" anos mais tarde. "Estava ficando convencido, me achava invencível." Nos intervalos dessa busca, fazia pranchas e, assim, financiava sua obsessão.
No dia 4 de dezembro de 1969, então com 32 anos, Noll encontrou o que buscava. Uma tempestade sem proporções varreu a costa havaiana. Casas foram levadas, barcos empilhados, estradas destruídas, enquanto paredes de água nunca vistas alcançavam o litoral do arquipélago.
Waimea, Pipeline, todas as praias do lado norte de Oahu estavam sem condições, e ele resolveu checar Makaha. O swell de norte entrava perfeito, liso e gigante. A manchete da revista "Surfer" da época foi: "Kaena Point com 40, 50, 60 ou 70 pés".
Três ou quatro amigos estavam na água surfando as intermediárias e, ao contrário da habitual descontração, o assunto era um possível resgate de helicóptero. Depois de um tempo com o grupo, só observando, Noll se afastou para o fundo.
Quando a série entrou, ele sentiu o que tanto esperava: medo. Mas sabia que, se não remasse e tentasse descer aquela onda não conseguiria conviver com a situação. Então, deitou na prancha e remou. Do telhado de uma das casas da região, Shaun Tomson, que em 1977 se tornaria o segundo campeão mundial de surfe profissional, filmou a onda em super-8. Quem viu o drop garante que nenhum outro homem, sem ajuda de máquina, entrou numa onda tão grande.
A história foi passada de boca em boca e, diz Tomson, de tão fascinante, a cada ano alguns metros eram conferidos à onda. A fita sumiu. Noll, corre o boato, teria pedido para que ele sumisse com ela. E assim, sem a imagem, a lenda só se agigantou.
Para sair do mar, Noll passou o maior sufoco, por pouco não foi parar nas pedras. Seu amigo e salva-vidas Buffalo Keaulana o acompanhava de jipe pela areia, mas não precisou ajudá-lo.
Foi sua última onda. Depois dessa experiência, ele vendeu a fábrica de pranchas, fez as malas e se mudou para o norte da Califórnia, em Crescent City, onde virou pescador e vive até hoje.

Primeira onda
Enquanto Mike Parsons se estressa com o crowd de principiantes em Cortez Bank, um pernambucano pouco conhecido, Alexandre Martins, surfou Mavericks na remada e está no páreo da XXL.

Esqui na neve
A brasileira Luci Arnhold ficou em 3º na prova de slalom especial na Copa do Mundo de Masters, na Itália. Seu marido, Stefano, foi o 12º.

Mundial de surfe - WQS
A abertura da temporada foi no Havaí, e Kelly Slater ficou em segundo, com Pancho Sullivan vencendo a prova. Os primeiros grandes eventos acontecem no Brasil, a partir de segunda, o Hang Loose em Fernando de Noronha e, na sequência, o Reef Classic em Torres.

E-mail sarli@trip.com.br


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