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AÇÃO
A última onda
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Nos últimos dias, o surfe de
ondas grandes ganhou espaço nas revistas semanais e na TV.
Há uma enorme expectativa na
entrada de uma ondulação suficientemente grande que permita
a realização dos campeonatos e
concursos programados no Havaí
e na Califórnia (EUA). Enquanto
isso não acontece, a história quase legendária do surfista Greg
Noll, parcialmente citada na última coluna, parece ter interessado
a muita gente. Vou, então, contá-la um pouco melhor, ou pelo menos descrever como ela entrou para a mitologia do surfe.
Da Bull, como Noll também é
conhecido, era um especialista em
ondas grandes. Passava a vida à
procura de um swell épico, indo
de praia em praia, de tempestade
em tempestade, tentando ficar cara a cara com uma onda capaz de
desafiá-lo. Durante 15 anos, nas
décadas de 50 e 60, frequentou o
North Shore havaiano. Antes de
dormir pedia a Deus que colocasse em seu caminho uma onda que
o fizesse tremer, disse ao "LA Times" anos mais tarde. "Estava ficando convencido, me achava invencível." Nos intervalos dessa
busca, fazia pranchas e, assim, financiava sua obsessão.
No dia 4 de dezembro de 1969,
então com 32 anos, Noll encontrou o que buscava. Uma tempestade sem proporções varreu a costa havaiana. Casas foram levadas, barcos empilhados, estradas
destruídas, enquanto paredes de
água nunca vistas alcançavam o
litoral do arquipélago.
Waimea, Pipeline, todas as
praias do lado norte de Oahu estavam sem condições, e ele resolveu checar Makaha. O swell de
norte entrava perfeito, liso e gigante. A manchete da revista
"Surfer" da época foi: "Kaena
Point com 40, 50, 60 ou 70 pés".
Três ou quatro amigos estavam
na água surfando as intermediárias e, ao contrário da habitual
descontração, o assunto era um
possível resgate de helicóptero.
Depois de um tempo com o grupo,
só observando, Noll se afastou para o fundo.
Quando a série entrou, ele sentiu o que tanto esperava: medo.
Mas sabia que, se não remasse e
tentasse descer aquela onda não
conseguiria conviver com a situação. Então, deitou na prancha e
remou. Do telhado de uma das
casas da região, Shaun Tomson,
que em 1977 se tornaria o segundo campeão mundial de surfe
profissional, filmou a onda em
super-8. Quem viu o drop garante
que nenhum outro homem, sem
ajuda de máquina, entrou numa
onda tão grande.
A história foi passada de boca
em boca e, diz Tomson, de tão fascinante, a cada ano alguns metros eram conferidos à onda. A fita sumiu. Noll, corre o boato, teria
pedido para que ele sumisse com
ela. E assim, sem a imagem, a lenda só se agigantou.
Para sair do mar, Noll passou o
maior sufoco, por pouco não foi
parar nas pedras. Seu amigo e salva-vidas Buffalo Keaulana o
acompanhava de jipe pela areia,
mas não precisou ajudá-lo.
Foi sua última onda. Depois
dessa experiência, ele vendeu a
fábrica de pranchas, fez as malas
e se mudou para o norte da Califórnia, em Crescent City, onde virou pescador e vive até hoje.
Primeira onda
Enquanto Mike Parsons se estressa com o crowd de principiantes em
Cortez Bank, um pernambucano pouco conhecido, Alexandre Martins, surfou Mavericks na remada e está no páreo da XXL.
Esqui na neve
A brasileira Luci Arnhold ficou em 3º na prova de slalom especial na
Copa do Mundo de Masters, na Itália. Seu marido, Stefano, foi o 12º.
Mundial de surfe - WQS
A abertura da temporada foi no Havaí, e Kelly Slater ficou em segundo, com Pancho Sullivan vencendo a prova. Os primeiros grandes
eventos acontecem no Brasil, a partir de segunda, o Hang Loose em
Fernando de Noronha e, na sequência, o Reef Classic em Torres.
E-mail sarli@trip.com.br
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