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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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FUTEBOL

Vai que é suuua, Lelê!

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Meu nome é Leocádio, mas todos me chamam de Lelê.
Eu gosto à beça de jogar futebol. A minha posição favorita é goleiro, porque ali a gente pode usar luva e pular bastante.
Na aula de educação física, eu sempre jogo no gol. Na minha escola os meninos jogam numa quadra e as meninas, numa outra. Mas um dia o professor de educação física, que se chama professor Santana e é bem gordo, me chamou e disse:
- Lelê, vem cá um minuto.
Fui lá e a menina-goleira estava chorando (as meninas são bobas, choram por qualquer coisa). Alguém tinha dado um chute e o dedo dela estava roxo (as meninas têm dedos muito fraquinhos). Aí o professor Santana falou:
- Lelê, entra no gol para completar o time.
Naquela hora todos os meus amiguinhos começaram a rir e eu fiquei tão chateado que quase chorei, mas eu não chorei porque eu sou menino e menino não chora, e aquela gota que caiu do meu olho foi porque eu estava suado.
No outro time de meninas, o que estava jogando contra o meu time de meninas, tinha uma menina chamada Bruna. Não gosto dessa Bruna. Eu a chamo de Bruxa. E ela me chama de Lelé. Lelé da Cuca. O pai dela é amigo do meu pai e às vezes eles vão em casa, mas não adianta que não vou com a cara dela de jeito nenhum.
Então começou o jogo e eu estava superbem. Era o maior mole jogar ali, porque as meninas são fraquinhas e dão uns chutinhos que dá vontade de rir, mas aí uma hora a Bruna veio avançando, passou pelo meio da quadra e se preparou para chutar. Só para deixar ela com raiva eu falei "Vai que é suuua, Lelê". Mas então ela mandou um chutão. Um chutão mesmo! Eu vi a bola crescendo, crescendo, crescendo e pou!
Aí eu fui parar num lugar todo branco. Mas eu não tinha morrido e aquilo era o céu. Era a enfermaria mesmo.
A tia da enfermaria, que usa uns óculos muito grossos e se chama dona Francisca, fez um curativão no meu nariz. Eu fiquei com a maior cara de palhaço e não queria sair dali de jeito nenhum, porque os meus amigos iam ver a minha cara e rir de mim. Eu esperei o maior tempão e aí, quando eu achei que já dava, eu saí.
Mas a Bruna estava me esperando. Então fui andando para perto dela e ela veio andando para perto de mim. Aí eu olhei bem direto nos olhos dela e pensei: "Vou dizer que até que ela nem é tão ruim de bola, que ela dribla bem e que ela tem um chute que até parecia chute de menino".
Eu também quis pensar o que ela estava pensando e, na minha cabeça, aquilo que ela estava pensando era que eu era um goleiro superbom, que eu quase tinha morrido só para defender o meu time e que era muito corajoso aquilo que eu tinha feito.
Eu fui andando, ela veio andando e aí, quando a gente estava bem perto um do outro, eu falei:
- Bruxa!
E ela falou:
- Lelé!
E cada um acabou correndo para um lado.

Trivialidades
Talvez você até saiba que o São Paulo foi penta-vice no Campeonato Brasileiro, mas sabia que o Atlético-MG é um legítimo hexa-terceiro? E que o Cruzeiro e o Guarani (sem ironia) foram bi-sextos? Que o Fluminense e o Corinthians são tetra-quartos? Que o Internacional, além de tri-campeão, ostenta um tri-nono em seu currículo? Que o Santos já alcançou um raríssimo penta-sétimo? E que a Lusa é a primeira e única equipe a ostentar um penta-décimo? Interessante, não? É, não.

Aleluia
E o programa do Juca Kfouri finalmente trocou de cenário. Agora o telespectador já pode assisti-lo sem óculos escuros para proteger-se da intensa luz que vinha daquela faixa branca da mesa. Aleluia!

E-mail torero@uol.com.br


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