São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 2002

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TOSTÃO

Uma criança descobrindo o mundo

Felipão elogiou bastante o Denílson, confundiu a imprensa e, surpreendentemente, pode escalar o Juninho no lugar do Kleberson. Juninho nunca foi um nome certo na lista do treinador. Nem na reserva.
Em 1997, perguntei ao Scolari, então técnico do Palmeiras, qual seria o titular da seleção que ele não escalaria. Respondeu: "Juninho".
Durante o treino de ontem, Felipão mudou várias vezes o esquema tático e os jogadores.
A equipe treinou com dois e três zagueiros, três volantes, e um volante e dois meias. Não será surpresa se no treino de hoje for diferente.
Com Felipão não há meio-termo. Ou seu time é muito defensivo ou ofensivo. Desconfio que o treinador, conhecido por sua disciplina e pragmatismo, age muito mais pela emoção e intuição do que pela razão e planejamento. Isso poderá ser bom ou ruim, dependendo do momento.
Scolari parece empolgado e deslumbrado com tantas opções, o que não acontecia nos times que dirigiu. Na seleção brasileira, ele muda as peças como se fosse uma criança descobrindo o mundo.
O técnico estava em dúvida se escalaria um time mais defensivo, com três zagueiros desde o início, ou partia logo para o ataque. Parece que vai escolher uma solução intermediária. Deve manter os três zagueiros e trocar um volante (Kleberson) por um meia-atacante (Juninho).
Essa formação tática é um grande risco. Nos últimos amistosos, a principal deficiência da equipe foi não ter um meia-armador e, principalmente, ter apenas dois jogadores no meio-campo, Emerson e Kleberson ou Gilberto Silva. Com Juninho, terá apenas um. Vai haver um grande vazio no setor. Emerson ficará sobrecarregado. Roberto Carlos, Cafu e Ronaldinho não são jogadores de meio-campo, como aparecem nas escalações.
No treino tático de ontem, Felipão pôs, em alguns momentos, Edmilson de volante ao lado de Emerson e Kleberson, já que a Turquia poderá atuar com apenas um atacante. Assim melhora o time brasileiro. Porém seria muito mais lógico escalar um autêntico armador no lugar do Edmilson.
Ontem, pela primeira vez, assisti a um excelente treino tático, com a equipe marcando por pressão, com os jogadores nas posições corretas e num campo de tamanho normal, simulando uma situação de jogo.
Pena que a seleção brasileira não esteja fazendo isso há mais tempo. Desta forma, o time fica mais ofensivo, pois, quando se toma a bola, os atletas estão próximos do gol, além de impedir a organização das jogadas do adversário.
Não será surpresa se ficar ultrapassado amanhã tudo que escrevi hoje.
Não dá para acompanhar o Felipão. Ainda não consegui descobrir se ele está muito confuso ou bastante seguro de suas experiências.
Vamos aguardar.

tostão.folha@uol.com.br



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