São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 2002

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POLÍTICA

Blatter manipula congresso na Coréia do Sul, prioriza discurso de aliados e irrita rivais

Manobra silencia a oposição e agrava racha na cúpula da Fifa

DO ENVIADO A SEUL

"Eu ouvi apitos de juiz?", perguntou ontem o presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter.
Ele estava de pé, discursando diante de federações de todo o planeta, na abertura do Congresso Extraordinário da Fifa. Na platéia, opositores e aliados engravatados faziam um duelo de torcidas. "Isso não é um jogo de futebol. Os juízes começam a apitar na sexta", disse o dirigente, tentando pôr ordem na reunião.
Na verdade, o encontro serviu para confirmar que a ordem que Blatter quer mesmo estabelecer está fora do alcance da vista, inatingível a tempo da eleição que a Fifa realiza nesta quarta-feira para decidir quem governará a entidade nos próximos quatro anos.
Pior, o racha se aprofunda às vésperas da Copa do Mundo e interfere na vida do torcedor.
No domingo, por exemplo, um repórter quis saber de Blatter os motivos do atraso na entrega dos ingressos para o Mundial.
Rindo, o presidente da Fifa respondeu: "Boa pergunta. Isso não é comigo. Você tem que perguntar para o secretário-geral".
Ontem, porém, ele não achou tanta graça no duelo que trava com um poderoso grupo de dirigentes que tem como estrela o secretário-geral da entidade, Michel Zen-Ruffinen. Ele rompeu com Blatter e passou a acusar a administração da Fifa de corrupção.
A reunião acabou com uma chamada pública em Blatter por parte do camaronês Issa Hayatou, único rival na eleição, que reclamou duramente de sua conduta.
A oposição queria voz e não teve. Cerca de 30 federações nacionais se inscreveram para falar ontem. Nenhuma das nove primeiras o atacou. Foram só elogios. O suíço decidia quem discursava.
A primeira fala não-aliada foi da Noruega, no final. Subiu ao palco para cumprir a estratégia oposicionista: pedir para David Will, que comandou a auditoria interna da Fifa abortada por Blatter, falar sobre as finanças da entidade.
O dirigente suíço não deixou. Justificou que o protocolo não permitia que Will se pronunciasse. E chamou o Peru, que, assim como toda a América do Sul, declara apoio a ele. O representante da CBF, seu presidente, Ricardo Teixeira, aplaudiu o suíço ontem.
A dois dias da abertura do Mundial, o racha político da Fifa incomoda. "O ano eleitoral tem de ser após a Copa", afirmou o presidente. Ele disse haver planos para mudar o calendário de votação em 2004, centenário da entidade.
Aliado de Blatter, o francês Michel Platini acha que os problemas políticos não têm relação com a organização do Mundial. "Aqui é um microcosmo", disse à Folha o ex-meia, que hoje entra para o Comitê Executivo da Fifa.
Antonio Matarrese, da federação italiana, avisou que não vai dar trégua a Blatter, independentemente da votação. O secretário-geral Zen-Ruffinen não ficou atrás: "Acho que a democracia tem de ser respeitada. Hoje foi o contrário". (ROBERTO DIAS)



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