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POLÍTICA
Blatter manipula congresso na Coréia do Sul, prioriza discurso de aliados e irrita rivais
Manobra silencia a oposição e agrava racha na cúpula da Fifa
DO ENVIADO A SEUL
"Eu ouvi apitos de juiz?", perguntou ontem o presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter.
Ele estava de pé, discursando
diante de federações de todo o
planeta, na abertura do Congresso Extraordinário da Fifa. Na platéia, opositores e aliados engravatados faziam um duelo de torcidas. "Isso não é um jogo de futebol. Os juízes começam a apitar
na sexta", disse o dirigente, tentando pôr ordem na reunião.
Na verdade, o encontro serviu
para confirmar que a ordem que
Blatter quer mesmo estabelecer
está fora do alcance da vista, inatingível a tempo da eleição que a
Fifa realiza nesta quarta-feira para
decidir quem governará a entidade nos próximos quatro anos.
Pior, o racha se aprofunda às
vésperas da Copa do Mundo e interfere na vida do torcedor.
No domingo, por exemplo, um
repórter quis saber de Blatter os
motivos do atraso na entrega dos
ingressos para o Mundial.
Rindo, o presidente da Fifa respondeu: "Boa pergunta. Isso não
é comigo. Você tem que perguntar para o secretário-geral".
Ontem, porém, ele não achou
tanta graça no duelo que trava
com um poderoso grupo de dirigentes que tem como estrela o secretário-geral da entidade, Michel
Zen-Ruffinen. Ele rompeu com
Blatter e passou a acusar a administração da Fifa de corrupção.
A reunião acabou com uma
chamada pública em Blatter por
parte do camaronês Issa Hayatou,
único rival na eleição, que reclamou duramente de sua conduta.
A oposição queria voz e não teve. Cerca de 30 federações nacionais se inscreveram para falar ontem. Nenhuma das nove primeiras o atacou. Foram só elogios. O
suíço decidia quem discursava.
A primeira fala não-aliada foi da
Noruega, no final. Subiu ao palco
para cumprir a estratégia oposicionista: pedir para David Will,
que comandou a auditoria interna da Fifa abortada por Blatter, falar sobre as finanças da entidade.
O dirigente suíço não deixou.
Justificou que o protocolo não
permitia que Will se pronunciasse. E chamou o Peru, que, assim
como toda a América do Sul, declara apoio a ele. O representante
da CBF, seu presidente, Ricardo
Teixeira, aplaudiu o suíço ontem.
A dois dias da abertura do Mundial, o racha político da Fifa incomoda. "O ano eleitoral tem de ser
após a Copa", afirmou o presidente. Ele disse haver planos para
mudar o calendário de votação
em 2004, centenário da entidade.
Aliado de Blatter, o francês Michel Platini acha que os problemas políticos não têm relação
com a organização do Mundial.
"Aqui é um microcosmo", disse à
Folha o ex-meia, que hoje entra
para o Comitê Executivo da Fifa.
Antonio Matarrese, da federação italiana, avisou que não vai
dar trégua a Blatter, independentemente da votação. O secretário-geral Zen-Ruffinen não ficou
atrás: "Acho que a democracia
tem de ser respeitada. Hoje foi o
contrário".
(ROBERTO DIAS)
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