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GEOPOLÍTICA
Sul-coreanos convidam vizinho para abertura da Copa, mas não obtêm resposta
Nem futebol serve de apelo para reunificação das Coréias
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
A dois dias da abertura da Copa,
a realidade sobre a reunificação
coreana -e o quanto o futebol
poderia ajudar- é bem diferente
da imaginada a princípio.
Após marcar a abertura da última Olimpíada com um desfile
conjunto com o vizinho, os sul-coreanos não conseguem nem
mesmo uma resposta ao convite
formal que fizeram a dirigentes
esportivos, técnicos e atletas da
metade norte para que comparecessem à cerimônia de abertura
do Mundial em seu país, na sexta.
À Folha, o governo da Coréia do
Sul deixa clara a sua decepção.
"Infelizmente, não tivemos nenhuma resposta. Ainda esperamos uma resposta positiva. Acreditamos que a participação deles
vai promover a reconciliação",
afirma Kim Hong-jae, porta-voz
do Ministério da Unificação.
Ao chegar à capital, Seul, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, fez
questão de afirmar que também
tentou ajudar em sua visita à parte
norte, no início do mês.
O mesmo mal-estar tem acontecido com a festa que reunirá os
principais jogadores de todos os
tempos amanhã, em um parque
próximo ao estádio de Seul.
Há cerca de 20 dias, o Comitê
Organizador do Mundial no país
anunciou que convidaria para o
evento Park Doo-ik, o "Pelé do
Oriente", maior nome da história
do futebol na península. Ele liderou a Coréia do Norte que, em
1966, bateu a Itália e chegou às
quartas-de-final daquela Copa.
Até agora, porém, os sul-coreanos não conseguiram confirmar
sua presença na festa, gerando
uma decepção enorme para
quem queria aproveitar a Copa
para catalisar sua reunificação.
"Desde que se candidatou para
organizar o Mundial, a Coréia do
Sul propôs várias vezes à Coréia
do Norte que recebesse alguns jogos", diz o porta-voz ministerial.
"A idéia era melhorar as relações entre os países, mas infelizmente a Coréia do Norte não está
preparada para um evento desta
magnitude", diz Cho Keum-saegn, chefe do Departamento de
Relações Internacionais da Universidade da Coréia, em Seul.
Outra idéia fracassada foi a de
formar uma seleção conjunta
com a Coréia do Norte, que não
disputou as eliminatórias.
O distanciamento às vésperas
da Copa dá bem a idéia de quanto
mudaram as relações intercoreanas desde o desfile histórico em
Sydney, há menos de dois anos.
Nesse intervalo, um fato importante foi decisivo para esfriar a
aproximação: a substituição na
presidência dos EUA de Bill Clinton, que fomentara conversas diplomáticas pela reunificação da
província, por George W. Bush.
Uma declaração do líder americano no início deste ano, incluindo a Coréia do Norte numa lista
de Estados que fomentavam atos
terroristas (o "Eixo do Mal", como definiu Bush), afastou o país
da mesa de negociações.
Para isso, fora as razões políticas, há também pressões sentimentais da população, bem ilustradas por um episódio que aconteceu no final do mês passado.
Uma mulher de 94 anos morreu
dois dias antes de partir para encontrar seu neto na montanha
Geumgang, local na Coréia do
Norte que tem servido de base para aproximação de famílias separadas pela guerra que dividiu a
península de 1950 a 1953.
Os sul-coreanos dizem que a geração separada está morrendo, e,
se não houver uma atitude rápida,
os laços familiares se perderão.
Porém não será o esporte, desta
vez, que vai ajudar a quebrar essas
barreiras. A Coréia do Norte se
volta agora para seu grande festival de ginástica, chamado Arirang, promovido pelo governo.
Já a parte sul gruda os olhos na
Copa, para a qual, conforme sintetizou o porta-voz, "infelizmente, não falta muito tempo".
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