São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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A Copa é dele

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Ronaldo é assediado pela imprensa em Yokohama


E deles também


OS PIORES
Atletas de Montserrat treinam no Butão para a partida que acontece no domingo, duas horas antes da final da Copa



No mesmo dia em que o mundo conhece sua melhor seleção, dois pequenos países se enfrentam para decidir quem é pior


DA REDAÇÃO

A Ásia será palco de duas decisões amanhã. Uma, todos sabem, será entre Brasil e Alemanha no Japão e vale a Copa do Mundo. A outra acontece em um reinado encravado no Himalaia e vale o título de pior futebol do mundo.
Penúltimo e último colocados no ranking da Fifa, o visitante Montserrat e o anfitrião Butão entram em campo duas horas antes de o árbitro Pierluigi Collina dar o apito inicial em Yokohama.
Os dois times assistirão pela TV como se joga o esporte e depois vão tentar praticá-lo: em seu último jogo, os butaneses levaram de 20 a 0 do mediano Kuait.
Em comum, além do fraco futebol, as duas nações só tem a influência do Reino Unido: Montserrat é território britânico, e Butão viveu até 1947 nessa condição -aliás, os árbitros do jogo foram cedidos pela federação inglesa.
De um lado estará uma ilha caribenha, com uma área e uma população cinco vezes maior que Fernando de Noronha, ou seja, 100 km2 e 7.574 conterrâneos. Montserrat se filiou à Fifa e entrou para o ranking em 1996, mesmo ano em que as lavas de uma erupção de um de seus sete vulcões ativos cobriram o único estádio de futebol local. O esporte mais praticado por lá é o críquete.
Já o budista Butão (território entre a China e a Índia) tem como modalidade preferida o arco-e-flecha. Para construir campos por lá é necessário escavar nos penhascos do montanhoso país.
O jogo de amanhã, promovido como ""A Outra Final", acontece na capital do país, Timfu, a 2.590 metros acima no nível do mar.
O evento foi promovido pelas produtoras KesselsKramer (Holanda) e Robot (Japão), que vão filmar um documentário com a inusitada partida. Essas empresas bancaram a viagem da delegação caribenha, com direito a seis escalas em seis países diferentes.
""Não sabíamos nada sobre o Butão, tínhamos algum conhecimento sobre o Himalaia, suas montanhas e rios", disse o técnico caribenho Claude Hogan. ""Os jogadores entraram na internet para pegar algumas informações."
Sem campo em seu país, o time de Montserrat treinou durante uma semana em um gramado de críquete. O elenco inclui um músico e um parlamentar local.
A mesma falta de conhecimento existe do lado asiático. ""Só sabemos que eles são de bem longe e que o jogo vai ser um desafio", afirmou o jogador Dinesh Chettri.
Para a partida, são esperados 10 mil torcedores, que já se surpreenderam como os visitantes -os nativos, de baixa estatura, estranham os atletas negros e altos. ""São os homens mais altos que já vi. Vai ser difícil vencê-los", disse Mindu Dorji, dirigente da Federação Butanesa de Futebol.
Já os visitantes devem sofrer com a altitude e o ar rarefeito.
Butão é o 202º colocado do mundo, com 13 pontos no ranking. Montserrat está logo abaixo, na 203ª posição, com só nove.
O primeiro filme a ser rodado no Butão, em 1999, coincidentemente foi também sobre futebol. ""A Copa", do diretor Khyentse Norbu, contou a história, baseada em fatos reais, de um jovem monge que planeja montar o primeiro time de futebol do Tibete enquanto acontece na Copa de 1998.


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