São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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Eminência parda

Ele tinha tudo para repetir o Dunga da Copa-90. Mas, após seis jogos e o Brasil na final, está muito mais para o Dunga de 98. Gilberto Silva, 26, não repetiu o capitão do tetra, que fracassou na tentativa de proteger uma zaga com três zagueiros em campos italianos. Na verdade, o atleta do Atlético-MG, titular por causa da lesão de Emerson e com o mesmo número de camisa -8- que consagrou Dunga, repete boa parte dos números brilhantes do capitão em 94 e 98. Detém o melhor passe da seleção, um número de desarmes que fica próximo do feito pelos zagueiros e é um dos que mais participam do jogo.

FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
PAULO COBOS
RODRIGO BUENO
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A YOKOHAMA

A obrigação de ser praticamente o referencial de marcação no meio-campo da seleção brasileira, o que derrubou Dunga em 1990, foi uma tarefa tirada de letra por Gilberto Silva.
Jogador menos famoso da seleção brasileira que começou a Copa da Coréia do Sul e do Japão, o volante do Atlético-MG, principalmente depois que passou a ser ajudado por Kleberson, triunfou onde Dunga fracassou no seu primeiro Mundial.
E ainda aliou a isso a mesma desenvoltura na distribuição do jogo que seu antecessor teve nas Copas dos Estados Unidos, em 1994, e da França, em 1998.
"Me sinto feliz de ser comparado com o Dunga. Ele foi uma das grandes personalidades do futebol brasileiro", afirma Gilberto Silva, sem esconder a satisfação por ser lembrado como o sucessor do volante gaúcho na seleção.
Nascido no mesmo Estado de Dunga, Rio Grande do Sul, Luiz Felipe Scolari dá a Gilberto Silva a mesma importância que o treinador Carlos Alberto Parreira conferia ao seu capitão na conquista do tetracampeonato em 1994.
"Se vocês perceberem, o Gilberto Silva foi o jogador mais regular do time nesta Copa. Se você for ver as estatísticas, ele é o melhor nos passes e nos desarmes", afirma o atual técnico da seleção brasileira sobre seu volante.
Segundo levantamento do Datafolha, o treinador gaúcho tem razão em exaltar seu pupilo.
Dos jogadores que formam a equipe titular brasileira, nenhum é tão eficiente na hora de passar a bola quanto Gilberto Silva, que acerta 92,8% de suas tentativas.
Consegue esse número sem se omitir das partidas. Ninguém da equipe de Scolari dá tantos passes como o jogador do Atlético-MG. Em média, ele passa a bola 38,5 vezes por confronto.
O volante também se destaca na marcação. Ele é o terceiro em número de desarmes, com média de 16 por jogo, na frente até de jogadores da defesa, como Edmilson, que tem média de 15,8.
Essas marcas ficam praticamente no mesmo patamar das registradas por Dunga no Mundial da França, em 1998.
Lá, mais velho, o ex-volante da Fiorentina acertou 92,3% dos passes que tentou e teve média de 20,3 desarmes, em uma equipe que cercava o adversário muito mais do que a atual seleção.
Uma outra característica que faz Gilberto Silva lembrar Dunga é a garantia de que ele "nunca" deverá desfalcar a seleção brasileira.
Nas três Copas que disputou, o hoje comentarista esteve em campo em todas as partidas do Brasil no período.
Agora, na Coréia do Sul e no Japão, Gilberto Silva faz o mesmo. Sem exagerar nas faltas e com boa saúde, ele participou de toda a campanha da seleção sem ser substituído em nenhum jogo, embora a equipe tenha ficado marcada por uma série de mudanças e jogadores poupados.
Semelhantes no estilo de jogar, os dois últimos brasileiros que usaram a camisa 8 em uma Copa do Mundo são bem diferentes em termos de personalidade.
No lugar do líder nato que era Dunga, Gilberto Silva, apesar de ser um dos mais falantes nas entrevistas da seleção, grita pouco. Ele nunca xingou, dentro de campo, um companheiro seu, como costumava fazer com frequência o capitão do tetracampeonato, que foi eleito pela Fifa para o time ideal da Copa do Mundo de 94.


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