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TURISTA OCIDENTAL
Treino do Brasil tem berro, "bocha" e festejo que pode ser o do penta
Ensaio geral
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA
Quando o treino da seleção brasileira acabou ontem às 17h42
(5h42 pelo horário de Brasília) no
parque Mitsuzawa, em Yokohama, o técnico Luiz Felipe Scolari
não acompanhou os jogadores
que seguiam para uma sessão de
alongamento de músculos antes
de tomar banho, dar entrevistas a
mais de 500 jornalistas de todo o
mundo e voltar para o hotel.
Scolari, o auxiliar Flávio Teixeira e o preparador de goleiros Carlos Pracidelli ficaram perto do
mesmo gol onde antes o time ensaiara jogadas de ataque e cobranças de escanteios, faltas e pênaltis.
Disputaram então quatro partidas de uma inusitada versão futebolística do jogo de bocha.
""Ganhei!", gritou Teixeira, dando gargalhadas, ao fim de uma
partida. ""Não ganhou! Tá empate!", respondeu, mais alto, Scolari.
Ele caminhou com Pracidelli, o
Carlão, para checar a posição de
uma bola quase em cima da linha
do gol. Pediu a um segurança da
delegação para servir de árbitro.
Teixeira prosseguiu, rindo e recusando a vitória do amigo: ""Ganhou p... nenhuma!". Em três rodadas, uma vitória para cada um.
Na quarta, o treinador desempatou. Ergueu os braços e sacudiu-os, num simulacro do que fará
amanhã se o Brasil conquistar pela quinta vez o título mundial de
futebol. E provocou: ""Querem
outra? Agora vamos fazer com o
pé esquerdo".
Foi quando viu do outro lado do
campo os goleiros treinando defesas, em vez de se alongar com os
jogadores de linha. Berrou: ""Estou esperando para ir embora!
Vamos! Terminou! Vou contar
até três: um, dois, três! Nós aqui
[comissão técnica" não vamos falar com ninguém [com os repórteres". Isso é com vocês".
Os goleiros pararam. Dida e Rogério ainda deram umas voltas ao
redor do gramado.
A bocha é um esporte popular
no Rio Grande do Sul, Estado de
origem de Scolari e Teixeira, cujo
apelido é Murtosa. Foi introduzida provavelmente por imigrantes
italianos. Também é praticada
em outros lugares do Brasil.
Consiste em lançar com as
mãos uma bola -geralmente de
madeira- no sentido de outra
menor, atirada antes, chamada
bolim. Numa sucessão de arremessos, vence quem mais se
aproxima do bolim. Vale usar a
bola para empurrar a do outro.
O que Scolari e os colegas fizeram após o último treinamento a
valer antes da decisão contra a
Alemanha foi transformar a linha
do gol em bolim. Chutavam de
fora da área, para a bola parar sobre a linha.
Hoje haverá apenas o reconhecimento do estádio de Yokohama, o da final. Provavelmente
com um bate-bola. O último treino com preocupações de aparar
arestas foi ontem.
E, a considerar o que se viu no
ensaio geral, as preocupações se
concentram em como o melhor
ataque da Copa do Mundo, o brasileiro, pode superar a melhor defesa, a alemã.
Os jogadores entraram em
campo pouco depois das 16h.
Aqueceram intercalando exercícios e brincando de bobinho
-um ou dois atletas ficam no
meio de uma roda tentando ""roubar" a bola dos demais.
A atriz Fernanda Montenegro já
disse que o auge do desempenho
de um ator ocorre nos ensaios, e
não nas apresentações ao público.
Pois é no bobinho, não numa
partida, que jogadores de excelência conseguem exibir o repertório quase circense de domínio
da bola.
Com meias azuis, calção branco
e jaqueta amarela, Scolari aproveitou o aquecimento da equipe
para marcar com cones laranjas o
posicionamento padrão dos jogadores da Alemanha.
Chamou o time para explicar
como os alemães atuam: pelos
seus cones, quatro defensores em
linha, um meia defensivo, três
meias e dois atacantes.
Dispensou os reservas, que foram treinar com Flávio Teixeira.
Tirou os cones. Distribuiu os titulares -menos o goleiro Marcos- para atacar o gol alemão
ficcional, defendido por Dida.
Passou a ensinar uma jogada pela
direita, iniciada por Lúcio.
Como um encenador, orientou,
sempre com pulmões a pleno,
mas sem a irritação de outros
dias: ""Vem, Kleberson, vem!".
""Vem buscar, Ronaldo!" ""Kleberson, passe errado, não!" Para Gilberto Silva, porque Ronaldo não
estava aberto na esquerda: ""Pára,
pára, pára!". ""Vai pra lá, Rivaldo!" Para Lúcio, por passar para
Kleberson, e não para Cafu: ""Não,
não, não!". Para alguém não
identificado: ""Não, meu filho!".
Ao repetir a variante pela esquerda: ""Joga lá, faz 1-2 [tabela de
dois atacantes sobre um defensor"". ""Ei, Ronaldinho, cuidado
para não entrar na mesma linha
do Ronaldo!"
Nos escanteios -apenas de
ataque-, insistiu para as bolas
serem cruzadas no primeiro pau,
a trave mais próxima do cobrador. Rivaldo pela direita, Ronaldinho pela esquerda. Bola mais
alta, teme o treinador, fica fácil
para o goleiro Oliver Kahn. A cada boa cobrança do pernambucano Rivaldo, o paulista Cafu o incentivava: ""Boa, Paraíba!".
Nos pênaltis, Scolari chamou
todos, inclusive os reservas, para
chutar. Exceção: os goleiros. Cinegrafistas alemães gravaram. O
técnico já expressou o temor de
que as imagens acabem nas mãos
da seleção oponente de amanhã,
que saberia como os brasileiros
preferem arrematar.
Depois dos pênaltis, Scolari dedicou-se só aos quatro erres: Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho e
Roberto Carlos. Orientou-os na
batida de faltas. Ficou na barreira.
Até encerrar o ensaio e vencer a
disputa de bocha com os pés.
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